Nebulosa
“Eu mal entrei em mim, e assustada já quero sair ... sou um ímpeto partido ao meio”. Clarice Lispector
Me custa entrar em mim, atravessar as brumas de meu ser, e me ver despida de tudo que não sou, temo o que irei encontrar. E se eu descobrir que o que penso que sou é apenas um reflexo pálido de algo mais genuíno? E se eu não me reconhecer?
Não quero renunciar às ilusões que me sustentam, ao sonho nunca realizado. Não quero mergulhar no vazio, pois ele mostra a inexistência a me rondar.
Me acostumei a ser nebulosa, aos mistérios insondáveis que me habitam, aos caminhos bifurcados, sem placa de indicação.
Se tudo se esclarecer, se desvendar, o que mais há que fazer?
Em mim há vozes que me mantém curiosa das facetas que me compõem, dos tesouros tão bem escondidos. Posso, então, divisar os fragmentos dispersos que me modelam a solidão.
O amor em mim não secou, esse rio corre em minhas veias, as coisas do mundo não me apequenam. Sigo alternando entre voltar ao meu íntimo e seguir ao encontro com o outro.
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