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Afinidade

  “Afinidade é não haver tempo mediando a vida. Artur da Távola   Sabe aquela pessoa que completa sua frase? Que em determinada situação sabe que você pensa do mesmo jeito? Que sem saber compra o mesmo sapato que você acabou de comprar?   Isso tem um nome, afinidade. Mas isso não significa que os dois têm os mesmos gostos, preferências, hábitos, estilo de vida. A afinidade não é uma fotocópia do outro.    Afinidade é estar em sintonia na maneira de pensar, é a interseção de pontos comuns.    É impossível alguém encontrar uma afinidade plena, sempre haverá algo que foge a essa confluência.    Essa afinidade não deve ser de vícios e defeitos, mas na maioria das vezes é isso que une as pessoas. Aí não é afinidade é conluio.   No entanto, quanto mais pontos de afinidade, maior se torna o afeto.    Afinidade não se força, porque agindo assim você renunciará quem você é para ter aprovação.    Pessoas afins não têm medo de d...

Amante imaginário

  “Você nunca vai ser feliz amando quem não existe.” “Te amo só um pouquinho” – seriado    Começou na infância. Para fugir do ambiente de brigas e agressões verbais eu criei um mundo imaginário. Nele, pai e mãe cuidavam de mim, tudo era perfeito. Na adolescência, entrei no mundo de fotonovelas, eu fantasiava ser uma personagem, escolhia o par perfeito.   As relações que tive na adolescência e juventude não tinham como dar certo, eu tinha um parâmetro inconsciente muito alto e ninguém conseguia competir com esse amante imaginário.   Dificultando mais ainda uma convivência harmoniosa, esse amante imaginário não era consciente.   Lembrei o que uma amiga me disse: “Você vive se cuidando, não sei para quem você se guarda”. Eu vivia com um pé fora da relação, nunca renunciei a esse personagem.   Escolhi relações que desde o nascedouro não tinham como dar certo, e tenho dúvidas agora do que eu sentia por cada um deles. Relações que reproduziam a de meus ...

Atração pelos defeitos

Não quero alguém igual a mim, como se um algoritmo fizesse a escolha. Por isso não peço mais alguém que seja compatível comigo.   Quero primeiro conhecer os seus defeitos para decidir se dou conta, se não contraria meus princípios. Também me revelarei para ele, se ainda assim ele ficar comigo, o vínculo entre nós será consistente, real e coerente. Só assim é possível nos encantar um com o outro.    Já me acostumei com a falta, já desisti das expectativas, se eu aceitar os defeitos fica mais fácil acolher as qualidades, mesmo que não seja as que aspiro.   Descobri que o amor é uma escolha, posso amar quem eu quiser. Se me equivoquei é porque a paixão não me deixou ver quem ele era.   Se me aproximar pelos defeitos, não cairei na armadilha da paixão. Na verdade, todos os meus encontros afetivos foram a partir da atração pelos defeitos, só que eu não tinha consciência disso, sendo assim, não fui capaz de suportá-los.  Sei que o encontro está condicionado ao me...

Atração pelos defeitos

  Não quero alguém igual a mim, como se um algoritmo fizesse a escolha. Por isso não peço mais alguém que seja compatível comigo.   Quero primeiro conhecer os seus defeitos para decidir se dou conta, se não contraria meus princípios. Também me revelarei para ele, se ainda assim ele ficar comigo, o vínculo entre nós será consistente, real e coerente. Só assim é possível nos encantar um com o outro.    Já me acostumei com a falta, já desisti das expectativas, se eu aceitar os defeitos fica mais fácil acolher as qualidades, mesmo que não seja as que aspiro.   Descobri que o amor é uma escolha, posso amar quem eu quiser. Se me equivoquei é porque a paixão não me deixou ver quem ele era.   Se me aproximar pelos defeitos, não cairei na armadilha da paixão. Na verdade, todos os meus encontros afetivos foram a partir dos defeitos dele, só que eu não tinha consciência disso, sendo assim, não fui capaz de suportá-los.  Sei que o encontro está condicionado ao mes...

Epifania

    Foi quanto lembrei de você do seu olhar amistoso de seu sorriso solto de seu andar desajeitado   De quando andávamos de mãos dadas, sem pressa, em silêncio Você me conduzia e não precisava saber para onde   Do tempo em que nos deitávamos um no colo do outro, acariciando os cabelos, sem ver o tempo passar   Dos momentos em que bastava um olhar para nos fazer entender Em que sabíamos quando um precisava do outro   Eu sabia respeitar seu recolhimento Você sabia quando se sentar ao meu lado e esperar eu desabafar   Você não tinha vergonha de se mostrar  Eu me sentia confortável em ser eu mesma   Não temíamos brigar pela confiança que tínhamos na reciprocidade do amor.      Só não lembro do seu nome e do seu rosto. Foi real?

Colagem

  Colagem Como vai você? Assim como eu, uma pessoa comum, filho de Deus”? Deixe que tudo que há no corpo se revele Pra que a vida cicatrize todo trauma Vou deixar a vida me levar pra onde ela quiser deixo a vida me levar vida leva eu A solidão é pretensão de quem fica escondido fazendo fita Conheço bem a solidão, me solta! e deixa a sorte me buscar Debaixo d'água ficaria para sempre Ficaria contente, longe de toda gente Para sempre no fundo do mar Mas tinha que respirar Se tudo mais é pura rotina, quero saúde para gozar no final Tocarei seu nome pra poder falar de amor Quem sabe isso quer dizer amor? O mundo lá sempre a rodar, em cima dele tudo cabe Estrada de fazer o sonho acontecer Eu juro que é melhor não ser o normal se eu posso pensar que Deus sou eu Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

Alternância

  Lá fora o sol desponta Cá dentro a lua insiste em ficar filtra a luz solar e clareia o que sinto. A luz eclipsada é afago de Deus que sabe de minhas lutas contra as trevas   Vez por outra a aura amorosa brilha e reflete o divino em mim O sol me leva para fora A lua me atrai para dentro Dentro e fora, luzes se cruzam em alternância de despertar e de seguir sempre

Vale da sombra da morte

    “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo.” Salmo 23:4    Toda mãe receia os perigos da vida e tenta proteger seus filhos. Eu não fui diferente. A angústia que me afligia amenizou quando eu os entreguei aos cuidados de Deus.    Acredito que o destino de cada um está traçado pelas suas próprias escolhas, se não desta, mas de outra vida. O inevitável não pode ser mudado.    Podemos, sim, traçar novos caminhos, mudar o rumo, mas não sabemos se a mudança é suficiente para alterar o resultado do que deflagramos.    Em sentido figurado, penso que o vale da sombra da morte é a vida que levamos, a cada dia nos expomos a riscos de toda sorte, impossível de prever ou evitar.    Todo dia atravessamos o vale da sombra da morte e surgimos do outro lado vivos. Um dia, que ninguém sabe quando, não sairemos mais de lá.    Ouvi uma irmã respondendo à outra que queria salvá-la...

Resiliência

    Recentemente me dei conta de que  contratempos e adversidades não me afetam tanto quanto no passado. Eles chegam, eu os acolho e procuro ver a melhor forma de lidar com eles.   Eu ainda não os supero com tranquilidade, vem a reação emocional, solto ela, aceito o que me chegar e busco alternativas para superar.    O que quero dizer é que não deixo mais que eles me desestabilizem, que tirem minha paz. Nem os mantenho na mente através de pensamentos recorrentes. Tenho evitado me pre-ocupar.   Agindo assim, não me canso tanto quanto antes, apenas faço o que precisa ser feito.    Uma das atitudes mais nocivas que eu tinha era de me irritar comigo mesma quando cometia uma falha, ficava me criticando.   Agora eu digo a mim mesma: “está bem, já está feito, agora é reparar o que pode ser reparado, caso contrário, adoto o ditado que diz: “o que não tem remédio, remediado está,” e sigo em frente.   Essa atitude ainda não é orgânica, v...

Fantasia ou realidade

    “A poesia para mim não é uma fuga da realidade como os outros pensam, é o aprofundamento da visão da realidade, da visão que a gente tem da vida, um aprofundamento de si mesmo.” Mário Quintada   Já dizia Freud: “Aonde quer que eu vá, descubro que o poeta já esteve lá.” Para mim, a poesia não é uma linguagem cifrada, uma mensagem secreta. Ela é uma imagem que fala de algo que a linguagem discursiva não é capaz de transmitir.    A poesia é a fala do inconsciente, por isso toca fundo em quem está aberto para receber a realidade em forma de metáfora. Ela traduz a realidade através de símbolos, cujo significado é pessoal.   Desde que o mundo é mundo, o saber é transmitido por alegorias e mitos, que sobreviveram a séculos, e ainda hoje tem o seu lugar.   Dizer de forma figurada fixa no íntimo das pessoas de um jeito que não precisa de explicação.   Percebo que quando uso a linguagem discursiva algo se perde nas entrelinhas. Essa mesma sensação não t...

Coragem de ser rejeitada

  Enquanto nossas ações são baseadas em escolhas racionais, o mundo interno age à nossa revelia e influencia nossas atitudes. Quantas vezes não tomei uma iniciativa por medo de ser rejeitada, sem ter consciência disso. Havia uma trava que me impedia de seguir, mas não sabia o que era.    Por outro lado, tomei atitudes que pareciam ser coragem e não era. Na infância eu corria o risco de ser desaprovada ao desobedecer a meus pais. Na adolescência, os afrontava acintosamente. Atitude de rebeldia não é o mesmo que ter coragem de ser rejeitada.    Paralelamente, queria a aprovação deles, e negociava abrindo mão muitas vezes de quem eu era.   Na fase adulta, procurava agir da forma que eu achava que os outros esperavam de mim, atuava usando uma máscara que escondia aspectos por mim indesejáveis.   Foi difícil renunciar a esse personagem e mostrar a cara lavada. Em compensação isso me ajudou a descobrir quem me aceitava do jeito que eu era e quem me cobrava a...

O que tiver que ser será

    “O drama é o momento e a comédia é a narrativa do drama.” Pedro Cardoso   Mesmo que eu resista ao conceito popular de destino e fatalidade, creio que eles acontecem independente da minha vontade, mas tendo como causa algo que pus em movimento.   Às vezes, sofro de véspera por algo que nem pode acontecer, e se não puder ser evitado, não adianta sofrer antes da hora, porque normalmente a intensidade do sofrimento da suposição é bem maior.    “Morrer de véspera” é uma espécie de drama que muitas vezes se torna cômico quando o evento temido não acontece.   O que tiver que vir virá, ou seja, há acontecimentos que não estão sobre nosso controle, ou por se tratar de caso fortuito ou porque não podemos evitar o resultado de nossas ações. Em qualquer das hipóteses é inútil e nocivo fazer tempestade num copo d’água ou colocar chifre em cabeça de cavalo. 

Amor tem prazo de validade?

    Não concordo, o que pode ter prazo de validade é o relacionamento, a convivência.    Se duas pessoas chegam ao ponto de não encontrar uma solução para os problemas entre eles, se as diferenças se tornam inconciliáveis, se pequenas coisas irritantes passam a ser intoleráveis, se o convívio ficar pesado a ponto de haver uma distância afetiva, então não há o que fazer.    A maioria das pessoas se casam sem ter maturidade para um relacionamento tão complexo. Não sabem nada sobre aceitação, acolhimento, respeito às diferenças. Muitos querem que a pessoa mude a seu gosto, não é capaz de aceitá-la como ela é. O relacionamento vira um campo de batalha, de competição, de retaliação, mesquinharias.    Num quadro como esse, o amor se retrai, mas não quer dizer que tenha acabado. Quem acha que deixou de amar é porque nunca amou aquela pessoa, ou porque deixou que a mágoa e o ressentimento se sobreponha ao afeto.    Na minha experiência de três c...

Estou fora do meu tempo

    “Ansiedade e depressão podem formar uma mesma síndrome, uma apontando para a lentificação, está aquém, e outra está além.” Christina Dunder   Sempre estive fora do meu tempo, ou tendo à lentificação, e assim estou aquém de meu tempo, ou caminho para a aceleração, e assim fico além.   Fazendo um paralelo com ansiedade e depressão, fica claro para mim que quando estou aquém, estou deprimida, e quando estou além estou ansiosa.   Sempre tive medo de desacelerar e ficar na inércia, e isso de fato acontece. Procrastino pela perda de energia e força para seguir. Para sair dessa estagnação, imprimo tanta força que vou para o outro extremo, a aceleração.    A ação e pensamentos acelerados ou lentos não me deixa viver o presente, oscilo de um extremo a outro.    Demorei a perceber que a pressa é algo prejudicial, porque achava que estar à frente do meu tempo era sinal de ter a mente aberta, ser visionária.     Como agora demoro menos...

Vida

    “A vida não é uma causa perdida porque as coisas essenciais da vida a gente encontra a cada momento se a gente souber prestar atenção.” Rubem Alves   A vida não é uma linha reta, ela é sinuosa, tem encruzilhadas e esquinas, se bifurca, altos e baixos, muda de sentido e direção. Ela dá voltas, mas nunca volta, sempre segue em frente.    A vida é o despertar e o anoitecer sem saber o que virá depois. É a ilusão do nervo ótico, a incerteza do povir, e as certezas do ego.   A vida é tempestade e calmaria, a morte no inverno e o renascer na primavera. São ciclos que se repetem e ao mesmo tempo são inéditos. A vida se renova a cada instante, por isso cada instante é diferente.    A vida é o sacrifício da provação e a bênção do aprendizado. São mortes diárias e o recomeço a cada dia que nasce.    A vida se expressa nos sentimentos, em cada sensação, vibração, frenesi. Ela se alterna entre alegria e tristeza, raiva e enternecimento, prostraç...

Vazio e desamparo

  Vazio e desamparo   “Nem se eu bebesse o mar encheria o que tenho de fundo.” Djavan   Passei muito tempo voltada para realizações, para o fazer, para não entrar em contato com o vazio que há em mim.   É um vazio sem fundo, um abismo eterno e permanente tão forte que não consigo evitar. Quando a ansiedade se aprofunda, sinto que preciso entrar em contato com ele, ouvi-lo, acolhê-lo.    O vazio integra o meu ser, é inerente à incompletude que nada preenche. Se quero preenchê-lo, mais fundo entro nele.    A sensação de vazio se ameniza quando me permito amar pelo amor, sem expectativa, sem objeto.   Enquanto estou amando, a satisfação que sinto me tira do desamparo, ainda que não me complete. O amor é o que mais me aproxima da integridade.    A chave está na conexão com a vida, com as pessoas, comigo mesma. Se estou conectada, posso sentir plenitude. 

Efeitos do vício

  “O vício é um substituto para uma exclusão.” Bert Hellinger   Sempre vi com maus olhos o vício e silenciosamente criticava o viciado. Até então, acreditava que vício era apenas aquele das drogas proscritas. Até entender que a compulsão pelos doces também é um tipo de vício, tão nocivo como outros.   Passei a observar como ele se manifestava em mim, qual o gatilho que o acionava. Percebi que ele ajudava a amenizar a ansiedade, que escondia o medo e a sensação de vazio. O vício é uma tentativa de preencher o vazio.    O vazio está relacionado a algo que me falta, seja uma coisa ou uma pessoa. A sensação de vazio me provoca ansiedade, daí a compulsão para os doces. O vício é um substituto para algo que me falta.    Ele produz uma sensação de torpor, que se opõe à angústia da falta. Mas como essa sensação não dura muito, precisamos mais e mais do vício.    A única forma de nos libertar do vício é suportar a dor, a tristeza, o sofrimento, o desa...

Alienação

  “É seu nível de consciência que determina a realidade. Então se pergunte: “o que eu estou escolhendo para acreditar sobre mim, sobre os outros, sobre a vida?” Essa escolha define toda a realidade da sua vida.” Kleber Tani   Eu fui uma adolescente alienada. Meu mundo se resumia a escutar os Beatles, ler fotonovela, e sonhar com o príncipe encantado. Não tinha consciência de nada que acontecia ao meu entorno.   Talvez eu tenha ficado assim como defesa contra a realidade em que me confrontei na infância. Eu observava tudo que acontecia, tudo que era dito, e minha imaturidade emocional não foi capaz de lidar com isso.    Mesmo adulta, meu mundo era limitado, eu elegia o que seria alvo de minha atenção e ignorava todo o resto.    Ouvi Kleber Tani dizer que “é seu nível de consciência que determina a realidade.” É verdade, a vida toda meu nível de consciência era muito limitado. Por essa razão minha vida era tão vazia.    Thaísa Montenegro afirma...

Falando de amor

    “amar é sobretudo um ato de delicadeza”. Flávio Ferraz   Eu tinha um conceito errado sobre amor, achava que amar é acender a chama e mantê-la acesa. E para isso, teria que despertar no outro desejo, intensidade, adrenalina, paixão.    Na linha imprevisível do tempo, percebi que amar é justamente o contrário. Amar é o oposto de paixão, é nutrir paz e serenidade, desarmar defesas, criar ambiente de segurança e bem-estar.   O amor se assemelha ao colo de mãe, é  bom ouvinte, está ao lado mesmo em silêncio, é porto seguro. O amor não impõe, não aprisiona, não retém, não domina, não manipula.    Amar é ser sensível às necessidades do amado, é estar presente ainda que estando longe, é cativar com leveza, é dar espaço e respeitar o momento dele, é confiar e inspirar confiança.   O amor é indecifrável, é o mistério que se traduz em atitudes, é perene e ultrapassa qualquer linha das barreiras e limitações humanas. 

Extemporânea e anacrônica

  Eu nunca estive sincronizada com o tempo em que vivo. Na juventude era nostálgica, não do passado, mas de um tempo que nem sei se vivi. Filmes épicos sempre me atraíram e me comoveram.  Tem horas que me sinto antiquada, ultrapassada, obsoleta, ainda que não seja nostálgica.   Até mesmo quando ouço uma piada, demoro a entender, e quando rio não tem mais nem graça.   Ao mesmo tempo, me sentia além do meu tempo. Quando alguém está falando, meu pensamento já avançou, interpretou, concluiu algo que ainda não foi dito.    Cheguei a pensar que não pertencia a esse mundo. Com frequência estou atrasada ou adiantada, em descompasso com o tempo que deveria estar.    Constantemente me sentia extemporânea ou anacrônica. Sonhava com um tempo em que tudo se harmonizava, em que todos se entendiam, onde não havia fome nem guerra.    Ainda hoje me sinto cada vez mais desconfortável com o tempo em que vivo. Não vivi a infância e a adolescência e sinto fa...

Quem parte, quem fica

    “ O destino faz o caminho, mas são as atitudes que decidem quem fica.” @pimentelrafaela3   Eu tinha uma amiga de infância que morava na mesma rua, nos víamos todos os dias na escola ou em casa. Quando tive o primeiro namorado, deixei ela de lado.    Voltando meu olhar para o passado, observo que era sempre eu quem ia atrás, quem fazia acontecer, era eu quem alimentava a convivência. Talvez por isso era fácil me retirar da mesma forma que entrei.   De forma inversa, nas relações afetivas sempre foram eles quem tomaram a iniciativa da conquista, mas sempre fui eu quem partiu. Embora fisicamente presentes, nós já não estávamos mais um para o outro.    Tenho o mal hábito de esquecer das pessoas que não estão presentes para mim, seja física, seja afetivamente.    Ouvi, mais de uma vez, me dizerem: “para você é mais fácil, você escolheu partir”. Não mesmo, não é fácil assumir a responsabilidade e tomar a atitude de sair, de romper com algu...

Gratidão e alienação

  Já me aconteceu de me sentir grata por algo ou alguém e no minuto seguinte esquecer desse sentimento quando algo desagradável acontece.    Para ser genuinamente grata, preciso mudar o olhar para tudo que me acontece, de bom ou ruim, pela compreensão de que tudo é uma bênção em minha vida. Quem não reconhece as bênçãos que a vida oferece não é capaz de ser grato.    É preciso olhar para a adversidade como uma oportunidade, a tristeza como momento de recolhimento necessário, a solidão como recurso para estar comigo mesmo.   Gratidão não é apenas valorizar as coisas boas da vida, mas também as lições que o sofrimento traz. É a consciência de que nada me acontece que não me seja próprio. Os acontecimentos e as pessoas que me afetam são resultado daquilo que pus em movimento. Nada se perde, toda experiência vem para me ajudar em meu processo evolutivo.    A ingratidão é fruto da alienação de si mesmo, de não entender o contexto geral da vida, de como...

Problema ou solução

  Quando eu era jovem, ouvi de um colega que eu era problemática. Nunca tinha me visto sob esse ângulo. Era proativa produtiva, eficiente, e cumpria metas. Passados muitos anos, entendi o que ele queria dizer. Era resistente a mudanças, em reuniões de trabalho com frequência me opunha ao que estava sendo dito.    Depois de entender isso, continuei resistente a mudanças, mas não me opunha a elas. A resistência e a procrastinação produziam em mim um cansaço excessivo porque internamente minha energia era voltada à não aceitação.    Com o tempo, esse tempo de resistência foi se tornando cada vez menor e passei a analisar a razão de não aceitar voluntariamente o que quer que a vida me trouxesse. Egoísmo, acomodação, medo de não dar conta, entre outros motivos.   Agora, ainda que haja resquícios de resistência, não deixo que ela me comande. Quando entendi que minha razão de viver é estar a serviço, passei a ser solução e não problema. 

Felicidade e atitude

  Quando eu era imatura, felicidade para mim era quando tudo dava certo, quando eu conseguia o que queria. Felicidade estava nas realizações e conquistas.    O curioso era que quando eu conseguia o que queria, não me sentia feliz, ou no máximo, era uma alegria efêmera. O que ficava era um vazio que me movia em busca de algo que pudesse me preencher.   Ainda hoje, se não me vigiar, caio nessa armadilha. Agora entendo que felicidade é uma atitude positiva diante da vida, é saber lidar com as adversidades sem se abater, ou caso me abata, sair desse lugar o mais rápido possível.    Felicidade é um estado interno afirmativo, que transforma as dificuldades em desafios. Não é estar o tempo todo alegre, é se permitir sentir o que quer que seja sem se apegar a nada, porque a vida é impermanente.   

Resistência e entrega

    “Quando você conseguir, através da renúncia de si mesmo, abrir mão de toda a resistência, quando você é capaz de abrir mão dos seus pontos de vista e você confia em algo Maior ... Ele vai se manifestar através de você e passa a agir através de você.” Jacoby Petry   A obstinação é um dos defeitos básicos mais prejudiciais porque age através da resistência. A pessoa obstinada se apega à sua opinião e atua a partir dela de forma tão intensa que nada nem ninguém é capaz de demovê-la de seu intento.    A obstinação é uma vontade cega, que não é capaz de sair do mundo criado por ela e que o defende com unhas e dentes.    O grande mal da obstinação, é que ela não segue o fluxo da vida, rema contra a maré, e só sai desse lugar quando uma força em oposição a arrasta e isso causa sofrimento.    A pessoa obstinada não confia na vida, nos outros, nas Forças do Bem. A despeito de todas as evidências de que  seu caminho a levará ao abismo, se...

Tempo e memória

    “ Se você ama muito um lugar não faça a besteira de visitá-lo. Você vai visitar pensando que vai encontrar o tempo, mas o tempo não está mais lá. É melhor você ficar com a imagem na cabeça.” Rubens Alves   A infância é o tempo de criar lembranças. São lembranças imaturas, sob a ótica da criança. O tempo infantil é mais próximo do tempo mental, aquele que processa sua passagem de acordo com desejo ou medo.    A criança que eu fui tinha dificuldade de acreditar em suas percepções porque sua mãe negava muitas delas. Por essa razão, muitas das minhas recordações tiveram por base o que os adultos diziam, foi um tempo em que a realidade era um borrão difícil de atravessar.    Como eu tinha a imaginação fértil, cheguei a confundi-la com o real, de sorte que minha memória não é confiável.    Desde a juventude que muitos dos acontecimentos em que estive presente foram apagados da memória, e quando alguém falava deles eu ficava surpresa e às vezes ...

Fragilidade e vulnerabilidade

  Já cheguei a pensar que vulnerabilidade era fraqueza. Era o tempo em que congelava sentimentos, não entrava em contato com minha sensibilidade.   Vulnerabilidade não se confunde com fragilidade. Fragilidade é a incapacidade de gerir emoções. Ao ser afetada, a pessoa se desconecta emocionalmente, achando estar no controle. Era como eu agia.   O congelamento emocional não é uma barreira intransponível. Ao receber um novo estímulo semelhante ao que teve, a pessoa se descontrola e reage da pior forma possível, muitas vezes com pessoas e circunstâncias diversas da que viveu. Há um gatilho que aciona a descarga emocional, antes congelada.    Já a vulnerabilidade é a maturidade emocional, é ser capaz de sentir sem descarregar em ninguém. A pessoa vulnerável deixa que a emoção siga seu fluxo, ou se converta em sentimento.    A vulnerabilidade decorre da sensibilidade em entrar em contato com o que se sente. A pessoa sensível não evita ou bloqueia o que sente...

Profundidade e intensidade

    Eu costumava me sentir inundada pelas emoções diante de um acontecimento que viesse a me afetar, e achava que isso era porque eu era dotada de profundidade.    Depois que comecei a me trabalhar, passei a entrar em contato com meus sentimentos e pude perceber a diferença.   Eu não era profunda e sim intensa. Intensidade é a excessiva força que  imprimo para me proteger do verdadeiro sentimento, não entrar em contato com ele. A reação emocional é involuntária, intensa e de pouca duração.    À medida que passei a observar esse fenômeno, passei a não contê-lo, mas senti-lo em mim, e permitir que ele siga o fluxo energético que pus em movimento. Só então emergia o sentimento real. O sentimento real é moderado, sem exageros. A partir daí, pude me aprofundar em meus sentimentos e dar vazão a eles.

Solidão dos lúcidos

  Agora eu entendo o ditado que diz: “eu era feliz e não sabia”. A lucidez desfaz a ilusão e a ingenuidade. Me traz a consciência de que são poucos os que seguem esse caminho e ainda assim cada um vê a realidade do seu jeito.    Quanto mais lúcida, mais me sinto só. Concordo com Viviane Mosé quando diz  que ninguém quer saber a verdade, as pessoas precisam de ilusão. A realidade nua e crua é insuportável. A ilusão não é má, desde que se saiba que é uma ilusão, não a revesta de verdade. Mesmo sendo consciente, não renuncio à ilusão, porque é ela que me abre as portas da imaginação.    O fato é que a consciência deveria aproximar as pessoas, primeiro porque ninguém é dono da verdade,  outro tem sempre algo a me ensinar. Segundo porque com a consciência vem a maturidade, e a maturidade ensina a conviver com as diferenças.    Afinal, por mais afinidade que exista entre duas ou mais pessoas, cada um tem sua singularidade e muitas vezes n...

Falar a verdade sem ser cruel

     “Eu não tinha papa na língua”, falava o que me vinha à cabeça, achando que agindo assim estava sendo sincera.    Com o tempo aprendi que “não se deve dar pérolas aos porcos”, porque nenhum proveito terá quem ignora o que houve.   O que é dito não pode ser apagado, a palavra tem poder de inspirar ou ferir. Agora tento não ser impulsiva, mas não me omitir quando falar for preciso, mas escolher as palavras, usar de suavidade, avaliar se a pessoa está pronta para ouvir.    Para falar a verdade não preciso ser cruel, até porque toda verdade é relativa, muitas vezes subjetiva. Está impregnada da minha forma de pensar, daquilo que acredito ser o certo.   

Eventos sinfônicos ou aleatórios?

  Eventos sincrônicos ou   aleatórios?   Desde pequena que eventos estranhos me acontecem. Já tive a impressão de que minha irmã estava em casa e momentos depois ela chegou. Já sonhei com papai sofrendo um acidente e no dia seguinte aconteceu; com o filho de minha amiga me dizendo que queria falar com ela, e eu dizia para ele entrar em sintonia com ela; quando liguei para saber como ela estava ela disse que estava ouvindo no rádio um padre, pensando no filho.   Recentemente sonhei com meus primos cobrando algo do pai falecido; achei estranho porque não tenho proximidade com eles, não conseguia encontrar explicação para esse sonho. Depois de alguns dia me ocorreu o que eu e meus primos tínhamos algo em comum: questões mal resolvidas com o pai.    Por me ocorrer esses tipos de experiências, nunca acreditei em coincidência ou acaso. Carl Jung criou a teoria da sincronicidade, um fenômeno em que a mente se conecta com a realidade de forma não convencional. ...

Sensibilidade e retirada emocional

    Quando eu era jovem, acreditava que era insensível porque achava que nada me atingia. Não percebia que congelava as emoções, achando que assim manteria o controle delas.   À medida em que fui me trabalhando, e permitindo as emoções emergirem, entendi que a retirada emocional me tornava ignorante de mim mesma.    Por não me permitir sentir, não tinha consciência da culpa que sentia por agir com imprudência e inconsequência.    Agora sei o quanto sou sensível e essa era a razão pela qual escondia minhas emoções, me distanciando delas.    Não é fácil lidar com o que sinto, mas o ganho em autorizar que venha o que quer que seja é que sou capaz de perceber as nuances da realidade, entrar no mundo imaginário, potencializar a criatividade, ser eu mesma.

O mundo não é meu lar

    Nas muitas vidas que vivi explorando o mundo, experimentando de tudo, muita coisa se extraviou, detalhes não percebidos, histórias abandonadas, pequenas coisas que me fizeram feliz, coisas simples e importantes deixadas para trás para seguir sem levar carga.    Mas o caminho se lembra de tudo, cada instante de minha jornada. Se eu me dispuser a caminhar em retrocesso, olhando com atenção as margens,  aproveitarei o que me deu prazer, me trouxe alegria e contentamento, e enfim chegarei onde tudo começou, meu verdadeiro lar que esteve sempre à minha espera, onde encontrarei aconchego e o merecido descanso, onde posso resgatar a essência que nunca se perdeu nas encruzilhadas  do tempo. 

Eu e o tempo

  “Será que é o tempo que lhe falta pra perceber Será que temos esse tempo pra perder E quem quer saber? A vida é tão rara, tão rara.” Lenine   Hoje escolhi refletir mais detidamente sobre a minha relação com o tempo,  o meu tempo ao longo do tempo.   Na infância, meu tempo era o da expectativa boa, como o tempo de espera para ir à praia, ou a expectativa ruim, como a angústia da proximidade das provas escolares.   Na adolescência ele era impaciente, impulsivo, do fazer acontecer. Na juventude, era o de capacitação, da busca do lugar ao sol.   Na idade adulta era do desempenho para obter reconhecimento, dinheiro, patrimônio, tempo de constituir família.    Agora, idosa, é tempo de desconstrução, de encontrar o meu ritmo interno, de me descobrir, descobrir do que gosto, tempo de me conhecer escrevendo.    Em grande parte da minha vida, o tempo era do fazer, e ainda tenho resquício dele. Às vezes, ainda me sinto culpada quando não estou fa...