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Mostrando postagens de março, 2025

Problema ou solução

  Quando eu era jovem, ouvi de um colega que eu era problemática. Nunca tinha me visto sob esse ângulo. Era proativa produtiva, eficiente, e cumpria metas. Passados muitos anos, entendi o que ele queria dizer. Era resistente a mudanças, em reuniões de trabalho com frequência me opunha ao que estava sendo dito.    Depois de entender isso, continuei resistente a mudanças, mas não me opunha a elas. A resistência e a procrastinação produziam em mim um cansaço excessivo porque internamente minha energia era voltada à não aceitação.    Com o tempo, esse tempo de resistência foi se tornando cada vez menor e passei a analisar a razão de não aceitar voluntariamente o que quer que a vida me trouxesse. Egoísmo, acomodação, medo de não dar conta, entre outros motivos.   Agora, ainda que haja resquícios de resistência, não deixo que ela me comande. Quando entendi que minha razão de viver é estar a serviço, passei a ser solução e não problema. 

Felicidade e atitude

  Quando eu era imatura, felicidade para mim era quando tudo dava certo, quando eu conseguia o que queria. Felicidade estava nas realizações e conquistas.    O curioso era que quando eu conseguia o que queria, não me sentia feliz, ou no máximo, era uma alegria efêmera. O que ficava era um vazio que me movia em busca de algo que pudesse me preencher.   Ainda hoje, se não me vigiar, caio nessa armadilha. Agora entendo que felicidade é uma atitude positiva diante da vida, é saber lidar com as adversidades sem se abater, ou caso me abata, sair desse lugar o mais rápido possível.    Felicidade é um estado interno afirmativo, que transforma as dificuldades em desafios. Não é estar o tempo todo alegre, é se permitir sentir o que quer que seja sem se apegar a nada, porque a vida é impermanente.   

Resistência e entrega

    “Quando você conseguir, através da renúncia de si mesmo, abrir mão de toda a resistência, quando você é capaz de abrir mão dos seus pontos de vista e você confia em algo Maior ... Ele vai se manifestar através de você e passa a agir através de você.” Jacoby Petry   A obstinação é um dos defeitos básicos mais prejudiciais porque age através da resistência. A pessoa obstinada se apega à sua opinião e atua a partir dela de forma tão intensa que nada nem ninguém é capaz de demovê-la de seu intento.    A obstinação é uma vontade cega, que não é capaz de sair do mundo criado por ela e que o defende com unhas e dentes.    O grande mal da obstinação, é que ela não segue o fluxo da vida, rema contra a maré, e só sai desse lugar quando uma força em oposição a arrasta e isso causa sofrimento.    A pessoa obstinada não confia na vida, nos outros, nas Forças do Bem. A despeito de todas as evidências de que  seu caminho a levará ao abismo, se...

Tempo e memória

    “ Se você ama muito um lugar não faça a besteira de visitá-lo. Você vai visitar pensando que vai encontrar o tempo, mas o tempo não está mais lá. É melhor você ficar com a imagem na cabeça.” Rubens Alves   A infância é o tempo de criar lembranças. São lembranças imaturas, sob a ótica da criança. O tempo infantil é mais próximo do tempo mental, aquele que processa sua passagem de acordo com desejo ou medo.    A criança que eu fui tinha dificuldade de acreditar em suas percepções porque sua mãe negava muitas delas. Por essa razão, muitas das minhas recordações tiveram por base o que os adultos diziam, foi um tempo em que a realidade era um borrão difícil de atravessar.    Como eu tinha a imaginação fértil, cheguei a confundi-la com o real, de sorte que minha memória não é confiável.    Desde a juventude que muitos dos acontecimentos em que estive presente foram apagados da memória, e quando alguém falava deles eu ficava surpresa e às vezes ...

Fragilidade e vulnerabilidade

  Já cheguei a pensar que vulnerabilidade era fraqueza. Era o tempo em que congelava sentimentos, não entrava em contato com minha sensibilidade.   Vulnerabilidade não se confunde com fragilidade. Fragilidade é a incapacidade de gerir emoções. Ao ser afetada, a pessoa se desconecta emocionalmente, achando estar no controle. Era como eu agia.   O congelamento emocional não é uma barreira intransponível. Ao receber um novo estímulo semelhante ao que teve, a pessoa se descontrola e reage da pior forma possível, muitas vezes com pessoas e circunstâncias diversas da que viveu. Há um gatilho que aciona a descarga emocional, antes congelada.    Já a vulnerabilidade é a maturidade emocional, é ser capaz de sentir sem descarregar em ninguém. A pessoa vulnerável deixa que a emoção siga seu fluxo, ou se converta em sentimento.    A vulnerabilidade decorre da sensibilidade em entrar em contato com o que se sente. A pessoa sensível não evita ou bloqueia o que sente...

Profundidade e intensidade

    Eu costumava me sentir inundada pelas emoções diante de um acontecimento que viesse a me afetar, e achava que isso era porque eu era dotada de profundidade.    Depois que comecei a me trabalhar, passei a entrar em contato com meus sentimentos e pude perceber a diferença.   Eu não era profunda e sim intensa. Intensidade é a excessiva força que  imprimo para me proteger do verdadeiro sentimento, não entrar em contato com ele. A reação emocional é involuntária, intensa e de pouca duração.    À medida que passei a observar esse fenômeno, passei a não contê-lo, mas senti-lo em mim, e permitir que ele siga o fluxo energético que pus em movimento. Só então emergia o sentimento real. O sentimento real é moderado, sem exageros. A partir daí, pude me aprofundar em meus sentimentos e dar vazão a eles.

Solidão dos lúcidos

  Agora eu entendo o ditado que diz: “eu era feliz e não sabia”. A lucidez desfaz a ilusão e a ingenuidade. Me traz a consciência de que são poucos os que seguem esse caminho e ainda assim cada um vê a realidade do seu jeito.    Quanto mais lúcida, mais me sinto só. Concordo com Viviane Mosé quando diz  que ninguém quer saber a verdade, as pessoas precisam de ilusão. A realidade nua e crua é insuportável. A ilusão não é má, desde que se saiba que é uma ilusão, não a revesta de verdade. Mesmo sendo consciente, não renuncio à ilusão, porque é ela que me abre as portas da imaginação.    O fato é que a consciência deveria aproximar as pessoas, primeiro porque ninguém é dono da verdade,  outro tem sempre algo a me ensinar. Segundo porque com a consciência vem a maturidade, e a maturidade ensina a conviver com as diferenças.    Afinal, por mais afinidade que exista entre duas ou mais pessoas, cada um tem sua singularidade e muitas vezes n...

Falar a verdade sem ser cruel

     “Eu não tinha papa na língua”, falava o que me vinha à cabeça, achando que agindo assim estava sendo sincera.    Com o tempo aprendi que “não se deve dar pérolas aos porcos”, porque nenhum proveito terá quem ignora o que houve.   O que é dito não pode ser apagado, a palavra tem poder de inspirar ou ferir. Agora tento não ser impulsiva, mas não me omitir quando falar for preciso, mas escolher as palavras, usar de suavidade, avaliar se a pessoa está pronta para ouvir.    Para falar a verdade não preciso ser cruel, até porque toda verdade é relativa, muitas vezes subjetiva. Está impregnada da minha forma de pensar, daquilo que acredito ser o certo.   

Eventos sinfônicos ou aleatórios?

  Eventos sincrônicos ou   aleatórios?   Desde pequena que eventos estranhos me acontecem. Já tive a impressão de que minha irmã estava em casa e momentos depois ela chegou. Já sonhei com papai sofrendo um acidente e no dia seguinte aconteceu; com o filho de minha amiga me dizendo que queria falar com ela, e eu dizia para ele entrar em sintonia com ela; quando liguei para saber como ela estava ela disse que estava ouvindo no rádio um padre, pensando no filho.   Recentemente sonhei com meus primos cobrando algo do pai falecido; achei estranho porque não tenho proximidade com eles, não conseguia encontrar explicação para esse sonho. Depois de alguns dia me ocorreu o que eu e meus primos tínhamos algo em comum: questões mal resolvidas com o pai.    Por me ocorrer esses tipos de experiências, nunca acreditei em coincidência ou acaso. Carl Jung criou a teoria da sincronicidade, um fenômeno em que a mente se conecta com a realidade de forma não convencional. ...

Sensibilidade e retirada emocional

    Quando eu era jovem, acreditava que era insensível porque achava que nada me atingia. Não percebia que congelava as emoções, achando que assim manteria o controle delas.   À medida em que fui me trabalhando, e permitindo as emoções emergirem, entendi que a retirada emocional me tornava ignorante de mim mesma.    Por não me permitir sentir, não tinha consciência da culpa que sentia por agir com imprudência e inconsequência.    Agora sei o quanto sou sensível e essa era a razão pela qual escondia minhas emoções, me distanciando delas.    Não é fácil lidar com o que sinto, mas o ganho em autorizar que venha o que quer que seja é que sou capaz de perceber as nuances da realidade, entrar no mundo imaginário, potencializar a criatividade, ser eu mesma.

O mundo não é meu lar

    Nas muitas vidas que vivi explorando o mundo, experimentando de tudo, muita coisa se extraviou, detalhes não percebidos, histórias abandonadas, pequenas coisas que me fizeram feliz, coisas simples e importantes deixadas para trás para seguir sem levar carga.    Mas o caminho se lembra de tudo, cada instante de minha jornada. Se eu me dispuser a caminhar em retrocesso, olhando com atenção as margens,  aproveitarei o que me deu prazer, me trouxe alegria e contentamento, e enfim chegarei onde tudo começou, meu verdadeiro lar que esteve sempre à minha espera, onde encontrarei aconchego e o merecido descanso, onde posso resgatar a essência que nunca se perdeu nas encruzilhadas  do tempo. 

Eu e o tempo

  “Será que é o tempo que lhe falta pra perceber Será que temos esse tempo pra perder E quem quer saber? A vida é tão rara, tão rara.” Lenine   Hoje escolhi refletir mais detidamente sobre a minha relação com o tempo,  o meu tempo ao longo do tempo.   Na infância, meu tempo era o da expectativa boa, como o tempo de espera para ir à praia, ou a expectativa ruim, como a angústia da proximidade das provas escolares.   Na adolescência ele era impaciente, impulsivo, do fazer acontecer. Na juventude, era o de capacitação, da busca do lugar ao sol.   Na idade adulta era do desempenho para obter reconhecimento, dinheiro, patrimônio, tempo de constituir família.    Agora, idosa, é tempo de desconstrução, de encontrar o meu ritmo interno, de me descobrir, descobrir do que gosto, tempo de me conhecer escrevendo.    Em grande parte da minha vida, o tempo era do fazer, e ainda tenho resquício dele. Às vezes, ainda me sinto culpada quando não estou fa...

Instinto e tentação

    Desde os primórdios da história humana foi desenvolvida a crença de que a mulher incita a vazão dos instintos pelo homem. De um lado, a mulher teve os instintos reprimidos e do outro o homem a culpava pelo descontrole instintivo dele.    É preciso entender que o inconsciente coletivo foi formado a partir desse tipo de crenças, o mundo sempre foi dominado pelo homem. A mulher, influenciada pela síndrome de Estocolmo, assimilou essa crença, e o que é pior, educou seus filhos e filhas a partir dela.    Foram preciso séculos de esforço feminino para reverter esse entendimento, e muita luta para combatê-lo, mas ainda hoje as mulheres, mesmo que de forma inconsciente, ainda sofre com o ranço dele.   Eu fui uma das vítimas dessa monstruosa distorção. Por anos me senti culpada pelo abuso que sofri, como se eu fosse responsável pela tara de um homem em uma criança.   Enquanto o homem não educar seus instintos e reconhecer a responsabilidade pela sua fa...

Impulsividade e procrastinação

  Em mim impulso e procrastinação são correntes que me prendem, uma puxando para um lado e outra puxando para o outro.    Por muito tempo, sempre que eu tinha uma ideia ou um desejo punha em movimento de imediato, sem planejar, sem avaliar as vantagens e desvantagens, o custo e benefício. O mesmo se dava quando falava, se queria ajudar alguém o impulso me impedia de ver as consequências de invadir os limites do outro. Por outro lado, se me deixava provocar, soltava o verbo e depois me arrependia pelo descontrole, acabava perdendo a razão naquele contexto.   Era impulsiva porque tinha medo da procrastinação, tinha receio de perder a vontade, a coragem, o entusiasmo. Pensava assim porque toda vez que adiava a iniciativa era por medo de fracassar, mas não admitia a mim mesma, e por isso sempre justificava o “depois”.    Agir de imediato quando for preciso e adiar quando é necessário ponderar e avaliar o que quero fazer, sem me acomodar, nem perder de vista o p...

Eu e minhas instâncias

  Tenho em mim uma fala rigorosa, severa e punitiva, cheia de regras, crenças e preconceitos. Seu objetivo é inibir, censurar e enfraquecer qualquer iniciativa que fuja aos padrões por ela conhecidos. Contrária a ela existe uma parte de mim rebelde, aventureira, transgressora, que muitas vezes ganha a batalha com esse eu repressor, às vezes é por ele aniquilada por haver em mim uma culpa generalizada.   São aspectos que se opõem com o fim de criar equilíbrio, mas como cada um deles excede limites, o que há é repressão de um lado e submissão do outro.    A forma que encontrei para lidar com ele foi questionar a procedência e validade da crítica, ignorar qualquer tentativa de me convencer  que não sou suficiente de um lado, e encontrar os ganhos que eu tenho em me submeter para aliviar a culpa e não assumir a responsabilidade pelas escolhas.   A criatividade em mim tem sido a grande aliada para burlar as ações do ente intimidador e para incitar coragem e...

Eu e a criança que fui

    Se eu me encontrasse com a criança que fui, imagina que ela me diria: “Você se esqueceu de mim, e ao me apagar de sua memória eu quase morri. Você fala de desamparo, mas essa fala não é sua, você a roubou de mim. Você diz que se sente frustrada, mas sou eu que me decepciono a cada momento com você. Foi isso que me tornei? Você não podia fazer melhor?”   Ao ouvir isso, sinto que fracassei, que não fui a mãe que você precisava ter, que não a honrei, que tentei abafá-la dentro de mim. Quero que você saiba que eu sinto muito  por ter lhe virado as costas. Talvez eu não quisesse sentir o que você sentiu, no entanto sempre você esteve presente como uma sombra que me deprime e me deixa ansiosa. Uma sombra que eu não via, mas sentia. Quando sua presença se torna mais forte, eu penso, ajo e sinto através de você, não sou capaz de me comportar como o adulto que sou e que você precisa. Quero acolhê-la em meus braços, consolá-la, ouvi-la como ouvi agora. Serei capaz?...

Côncavo e convexo

  O bem e o mal estão em mim. O mal sempre à espreita de que eu vire as costas para o bem; o mal se impondo e o bem respeitando minhas decisões. Entre o bem e o mal estou eu, ora escolhendo um, ora escolhendo o outro.    O mal me pega em meus ponto fracos,  o bem usa o mal para realçar minha força. O mal é a ignorância, ou melhor, o mal está em permanecer na ignorância.    Quanto mais eu me conheço, mais o mal enfraquece, quanto mais eu aceito quem sou, mas o bem se fortalece em mim.    Nem toda sombra se revela como ela é, às vezes se disfarça em luz. À medida que apuro minha percepção, mais os métodos dela se sofisticam. Quanto mais eu acolho sombra e luz em mim, mais sou livre para fazer escolhas.     

Pensamentos que confluem

    Gosto de explorar o Instagram, lá encontro falas que me inspiram a escrever. Às vezes, elas confluem de um modo que não dá para citar apenas uma, por isso as exponho e digo o que elas falam para mim.   “Há uma vibração intensa da vida que é passageira, que é momentânea que é o que não fica o tempo todo, mas que também não se afasta de vez.” ( sobre felicidade) Cortella    Em mim, esses momentos são aparentemente aleatórios, e coincidem com uma onda de bem-estar que me enleva, me dá esperança, e me ajuda a acreditar que tudo está em seu lugar, tudo está certo. Quando ela passa, tenho a segurança que a qualquer momento ela pode voltar e isso me conforta em momentos difíceis.    “Nada é suficiente para quem o suficiente é pouco.” Epicuro   Nada mais verdadeiro. Em mim, o suficiente é pouco quando crio expectativas tão altas e irrealistas que não identifico em mim o suficiente. Por isso, a cada dia busco o suficiente para me preencher o vazio do p...
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COLETÂNEA DE LIVROS VIRGÍNIA BARBOSA LEAL VIRGÍNIA LEAL: Minha escrita é fruto de minhas vivências, leituras e aprendizados. Encontrei na metáfora a forma de expressar aquilo que não consigo traduzir nem para mim mesma. Não precisar responder a perguntas me deixa livre para compor meus pensamentos. Na verdade, não trago resposta a nenhum questionamento, instigo o leitor a refletir e encontrar suas próprias respostas.  Cada lufada simbólica pode mobilizar quem se sensibilizar por ela. Movimento é vida e a vida convida a se deixar levar pelo que se apresenta, abdicar das certezas, abrir-se para novas perspectivas, desbravar novos horizontes, com liberdade para sentir os anseios da alma.   Ao leitor proponho fazer uma leitura como quem se aventura nos sítios dos mistérios, nas searas do desconhecido, proponho deixar-se provocar pelos meandros da  palavra. Desejo bom proveito.    UMA PESSOA COMUM Tento inaugurar minha própria forma de pensar, compondo ideias in...