Eu e o tempo
“Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber?
A vida é tão rara, tão rara.” Lenine
Hoje escolhi refletir mais detidamente sobre a minha relação com o tempo,
o meu tempo ao longo do tempo.
Na infância, meu tempo era o da expectativa boa, como o tempo de espera para ir à praia, ou a expectativa ruim, como a angústia da proximidade das provas escolares.
Na adolescência ele era impaciente, impulsivo, do fazer acontecer. Na juventude, era o de capacitação, da busca do lugar ao sol.
Na idade adulta era do desempenho para obter reconhecimento, dinheiro, patrimônio, tempo de constituir família.
Agora, idosa, é tempo de desconstrução, de encontrar o meu ritmo interno, de me descobrir, descobrir do que gosto, tempo de me conhecer escrevendo.
Em grande parte da minha vida, o tempo era do fazer, e ainda tenho resquício dele. Às vezes, ainda me sinto culpada quando não estou fazendo nada, acho que estou desperdiçando tempo.
Desperdício de tempo mesmo foram meus dias e horas de mágoa, de ressentimento, de insistir em conquistar algo impossível ou que não era para mim.
Todos os tempos vividos e que vivo são biológicos, deveriam seguir um cronograma interno, de acordo com a inspiração do dia, focados no hoje. Mas nem sempre consigo fazer isso.
Tento equilibrar o fazer com o ócio criativo, recreativo, do descanso, das relações. Quando escrevo, o tempo é de integrar, de elaborar, de pensar, de deduzir, de concluir, de sentir.
Quando era jovem, não respeitava o tempo de acontecer, de maturação, de compreender, de cura. Hoje, tento fluir com o tempo das coisas.
Agora percebo como é artificial o tempo do relógio e como é relativo o meu tempo interno, que varia de acordo com meu estado de espírito.
Não brigo mais com o tempo, deixo que ele cumpra seu papel e que permita que eu tenha uma vida coerente com sua passagem.
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