Tempo e memória

 

 

“ Se você ama muito um lugar não faça a besteira de visitá-lo. Você vai visitar pensando que vai encontrar o tempo, mas o tempo não está mais lá. É melhor você ficar com a imagem na cabeça.” Rubens Alves

 

A infância é o tempo de criar lembranças. São lembranças imaturas, sob a ótica da criança. O tempo infantil é mais próximo do tempo mental, aquele que processa sua passagem de acordo com desejo ou medo. 

 

A criança que eu fui tinha dificuldade de acreditar em suas percepções porque sua mãe negava muitas delas. Por essa razão, muitas das minhas recordações tiveram por base o que os adultos diziam, foi um tempo em que a realidade era um borrão difícil de atravessar. 

 

Como eu tinha a imaginação fértil, cheguei a confundi-la com o real, de sorte que minha memória não é confiável. 

 

Desde a juventude que muitos dos acontecimentos em que estive presente foram apagados da memória, e quando alguém falava deles eu ficava surpresa e às vezes até duvidava que a pessoa estivesse dizendo a verdade. 

 

As lembranças são formadas de acordo com o tempo em que acontecem, e tentar voltar ao passado para ir a um lugar ou encontrar alguém é inútil, porque aquele tempo não está mais lá. Ademais, o lugar pode ter mudado, assim como as pessoas não são mais as mesmas. 

 

Muitas vezes exploro minha memória para confirmar um evento, quando este tem um tempo afetivo que me causou trauma. Reconstituir os fatos é uma forma de entender o que houve e mudar a versão afetiva. 

 

O tempo da memória é eterno, como uma fotografia que registrou algo relevante e que de vez em quando pode se consultar. A lembrança é uma imagem e convém preservá-la assim, para não entrar em choque com a realidade. 

 

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