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Mostrando postagens de agosto, 2024

Presença

  “Você vai passar a vida despercebida”. Ouvi muito isso de uma pessoa  de meu convívio. Grande parte  do tempo passei ausente mesmo estando próxima fisicamente. Ausente de mim, ausente dos outros, do meu entorno.  Para onde eu ia não sei. Minha mente  se deslocava, meus sentidos adormeciam. Até mesmo em momentos felizes não estava inteira em mim,   e quando alguém falava deles,  não conseguia me lembrar.   Dizem que a falta de presença  é um mecanismo de defesa, a pessoa retira-se emocionalmente para não sofrer. Pode ser, mas isso afasta a experiência gratificante.     Demorei a sair desse lugar e quando fiz  o caminho de volta transbordei   de emoções confusas e perturbadoras. Lembranças chegavam de borbotões, misturavam-se entre si, algumas eram reais, outras eram interpretações que fazia para suportar o contato com algo que foi doloroso. Era como se estivesse vivendo anos de vida em instantes vertiginosos.   ...

Medo de mim

O medo está atrelado ao instinto  de sobrevivência, ativa o estado de alerta para a pessoa reagir diante do perigo. Mas quando o medo se transforma  em uma reação emocional, ao invés  de me defender, pode me paralisar.   Costumava dizer que não tinha medo  do oponente em um confronto, tinha medo de mim, medo de minha reação, medo de exagerar na dose, medo  de me descompensar.   A ansiedade esconde o medo de mim, medo de entrar em contato com partes minhas que suspeito serem terríveis,  e essa fantasia me mantinha protegida  de olhar para elas.    Tinha a crença de que, ao acessar  essas partes, perderia o controle sobre elas e elas passariam a me dominar.  Na verdade, elas já me dominavam, justamente porque não as via e por isso superdimensionava o poder delas.    Não posso obter autonomia sem enfrentar minhas partes obscuras, aquelas vivem na sombra, ocultas de mim mesma.  Ao trazê-las à luz, pude entender ...

Alteridade

  Quem quer se relacionar bem, criar vínculos sadios, precisa parar de olhar  o próprio umbigo e ver o outro. É preciso deixar de se projetar no outro e querer uma reprodução de si  melhorada, deixar de exigir do outro o que ele próprio ainda não tem ou que não é capaz de fazer.   Ver o outro não é fácil, exige tirar a lente das expectativas, se interessar  em conhecê-lo, enxergar ao máximo quem de fato o outro é, exercer alteridade.    Alteridade é o reconhecimento  da individualidade e das especificidades  do outro, agir com empatia, respeito  e tolerância.    Cada pessoa é singular e único,  e descobrir a riqueza pessoal de cada  um é uma experiência que acrescenta,  uma troca que se pode desfrutar  ao aceitar a pessoa como ela é.  Aceitar o outro permite que a pessoa  se sinta à vontade em ser quem é.    Se as pessoas agissem assim, haveria menos desentendimentos,  não se de...

Normalidade

    Houve um tempo em que eu tinha medo de ficar louca, por conta de meus devaneios. Não conseguia me concentrar no que estava sendo dito, porque algo que ouvia era gatilho que levava minha mente a vagar, ora pelo imaginário, ora fazendo conexões com situações passadas, ora fazendo questionamentos e suposições, ora avançando  no pensamento que estava sendo exposto. Assim, com frequência perdia  o fio da meada. Também tinha o hábito  de sonhar acordada, imaginando situações que desejava que acontecesse. Descobri que essa tendência é característica de quem tem TDAH,  que é uma forma diferente e não patológica da mente funcionar.    No passado, o devaneio era considerado uma falha de disciplina mental, rotulado como como algo infantil e neurótico e que poderia avançar para o patológico. Hoje, o devaneio é considerado uma fonte de criatividade e que ajuda a solucionar problemas.   A verdade é que a cultura cria um padrão de normalidade e tem a te...

Tecnologia a serviço de encontros afetivos

  O mundo moderno dificulta e até inviabiliza encontros afetivos.  As pessoas vivem dentro  de seu mundo, com suas expectativas   e metas, mas não sabem mais como acessar afetivamente o outro.    O site de relacionamentos veio  ao encontro de quem tem  dificuldades com isso, com  a pretensão de intermediar  esse encontro.    A estrutura foi planejada para que  os interessados criem seu perfil  e digam o que esperam de um parceiro.  A escolha é feita considerando afinidades  nos gostos, nas preferências e estilo  de vida.   É claro que essa análise de perfil  é limitada, até porque ela não abre espaço para o interessando discorrer sobre sua visão de mundo e o que espera da vida.   Ainda que se tenha plena compatibilidade, considerando os critérios do site, não há garantia de que haverá interesse mútuo. Assim, como no contato presencial, há ocultação e falseamento  de informações, fala...

Transparência e cinismo

  Assisti uma live de Clovis de Barros sobre esse tema bem provocativa, me inspirou  a abordar o assuntio sob o meu ponto  de vista. Começo dizendo que nem  toda hora e nem para todo mundo sou transparente. Ser transparente pode ser arriscado em algumas circunstâncias, porque há quem se aproveite  da fragilidade, ou dos defeitos alheios para ganhar uma discussão, por exemplo. Por isso, a máscara social é necessária, não posso dizer tudo que me vem à mente, nem deixar transparecer tudo que sinto. Tem momentos que falar  a verdade pode ser cruel.    Procuro ter coerência entre o que penso, sinto e faço, mas nem sempre consigo, porque esse tipo de atitude exige coragem. Depois, é prudente não agir  de acordo com o que penso e sinto quando estou tomada por pensamentos  e sentimentos negativos.    No relacionamento afetivo é diferente, quanto mais transparência houver, maior é a intimidade, mais confortável o casal fica em cada um s...

Apego

  Achava que não era apegada porque não sentia falta do que não tinha mais. Entretanto, descobri que eu ativava um mecanismo de defesa que apagava de minha mente a perda. Coisas, objetos, lugares, pensava que soltava fácil. Até que precisei vender uma casa que tinha muitas lembranças felizes. Passou mais de um ano sem aparecer um único interessado. Foi preciso eu me mudar e me adaptar em outro imóvel para me desapegar dela. De todos, o apego afetivo é o mais difícil de me livrar. Entendo por que tem mulheres que precisam odiar o marido para se separar dele. O ódio encobre a tristeza, a saudade e dá energia a quem quer tomar a iniciativa. Para mim, o apego está relacionado à expectativa que crio, apego a uma ideia do que seria uma relação feliz. Como ninguém é igual a ninguém, diferenças sempre haverá, mas quando se trata de divergências em questões que são fundamentais para cada um, fica mais difícil conciliar. O apego também se conecta com a baixa autoestima e com a dependência a...

Prefácio (de "Palavras emprestadas"

  Quando estou sem inspiração, tenho o hábito de vagar pelas mídias sociais, à procura de uma fala que me toque fundo o coração. Quando a encontro, costumo desenvolver a ideia a meu modo, algumas vezes a contradigo, mas tem pensamentos tão exatos que os incorporo como meus e os reproduzo. Não sei qual é o critério para se dizer que uma obra foi plagiada, mas penso que nem tudo é plágio. Partindo do princípio de que tudo já foi criado, estaríamos plagiando o Criador. Acredito que as ideias se encontram no repositório divino, e que qualquer um pode acessá-lo, mas ninguém é capaz de as capturar fidedignamente. A diferença entre uma e outra versão está na forma de captação feita por cada um. As ideias que exponho e a forma como as expresso é fruto do que li, do que ouvi, do que aprendi, das crenças, valores e princípios que integrei, das experiências que vivi. Em mim elas criam consistência, através da forma como eu vejo o mundo. Assim, tudo que escrevo vem de palavras emprestadas que...

Conselho que me dou

  Viva plenamente seu momento porque nada é para sempre, e o agora é tudo que você tem. Você não pode prever o que vai acontecer em sua jornada, e tudo que lhe ocorre leva ao aprendizado.    Às vezes a gente acredita que nada vai mudar e de um momento para outro tudo se transforma. Às vezes a situação  dura e a gente pensa que nunca vai ter fim, as vezes a gente não quer que mude, mas a vida não é estática.     Tem oportunidades, alegrias e tristezas em qualquer estágio da vida. Às vezes um desejo demora a se realizar e a gente acredita que ele nunca vai se cumprir.    Você pode achar que tudo está igual porque não percebe a alquimia subterrânea, a vida tecendo o futuro.    Uma coisa é certa, enquanto você não aprender a lição da ocasião, não mudará de etapa. Portando, fique atenta ao que lhe escapa.  

À espera

Alguém me falou que a vítima fica vivendo uma eterna espera. Faz sentido. Quem está em compasso de espera interrompe a vida, como quem está no cais à espera da volta do navio, na estação do trem à espera de alguém que não chega, na janela esperando a banda passar. No entanto o que passa são as oportunidades, os dias, meses e anos. Essa mesma pessoa disse: você não é vítima da sua história, você é protagonista. E eu digo: não espere que a vida aconteça na inércia, que o tempo dê a solução, que o problema se resolva sozinho, que alguém faça por você. A espera precisa se ativa, a vida é movimento, ela não espera por ninguém. Esperar na imobilidade é covardia de quem não quer se arriscar, de quem culpa o destino, a desventura, a sina. Esperar é projetar a vida para o futuro, mas o futuro não acontece se eu não seguir em direção a ele. A esperança é privilégio de quem vive plenamente o presente, construindo assim o tempo de realização. É a atitude de quem faz acontecer, de quem põe o desejo...

Correnteza

  Assim como a água que corre no rio não  é a mesma, a vida também muda. Por mais que eu resista à mudança, ela flui  em minhas veias e metaboliza o que sou. Assim como o sol que nasce não  é o mesmo que se pôs, a cada dia  renasço, ainda que não perceba.    Conhecer pessoas novas me renova,  a curiosidade por elas me ativa  o interesse sobre mim, aspectos meus  que antes não via.    A água da vida me conduz a lugares, pessoas e circunstâncias que  me confrontam, me revelam e ocasionam transformações em mim. Quero seguir  a correnteza no leito de minha evolução.  Esse é o sentido da vida, esse é meu propósito. 

Lei da semeadura

  A vida a vida é lançada pelo arco e se manifesta no intervalo entre a seta e o alvo. Se eu miro em bons propósitos, a flecha supera todos os obstáculos para chegar a ele. Se minha intencionalidade não é boa, ela voltará para mim, serei atingida pelas costas e culparei o destino ou o acaso pela minha desventura. Se não a lanço, ela perde o impulso e se deteriora. Tudo é uma questão de causa e consequência. Tem uma música que diz: “a gente perde saúde para ter mais dinheiro e perde dinheiro para ter mais saúde.” Outra, pergunta: “de que serve ter um mapa se o fim já está traçado? De que serve a terra à vista se o barco está parado? De que serve ter a chave se a porta está aberta? Pra que servem as palavras se a casa está deserta? A lei da semeadora me ensina que eu colho o que planto. Se eu planto rosas, colherei rosas, se semeio erva daninha é o que terei. Se a semente não vingou preciso refletir se cuidei dela como devia. Mas se eu não plantar, colherei inércia e a vida me mover...

Feminino maduro

    A mulher que vive o feminino maduro deseja um masculino forte que lhe dê atenção, enquanto ela oferece dedicação.    Ao lhe trazer estabilidade e consistência na presença, ela lhe dará tranquilidade  e paz.    Por ser bom ouvinte, ela ofertará cuidado,  ao lhe dar carinho ela lhe dará suporte,   ao lhe dar respeito ela devolverá admiração, ao lhe dar espaço para  o seu tempo, ela compreenderá  o seu tempo de caverna.       A mulher madura quer um homem afetuoso que acolha sua vulnerabilidade  e a aceite como ela é.   Ao seguirem juntos, cada um encontrará sua trajetória dentro da relação.  

O ruído do mundo

    Morei num apartamento próximo  a um bar com música ao vivo,   não fosse o ruído do ar-condicionado  não poderia dormir. Depois me mudei para um apartamento na avenida   e me acostumei com o barulho de carro passando. Agora moro num apartamento que para ouvir algum som preciso   prestar atenção, à exceção do vento   que uiva.    Ouvi alguém dizer que o ruído do mundo distrai do vazio interno e que para entrar em contato com o silêncio é preciso  ter alguma vida interior. Eu acrescento dizendo que o ruído do mundo evita que eu ouça o barulho de meus pensamentos repetitivos, sobrepostos e angustiantes.     Sei que não é o ideal, mas eu durmo  com a televisão ligada, escuto músicas logo que acordo, enquanto cumpro minhas tarefas domésticas, e quando tenho tempo livre assisto televisão. Tais estímulos me aliviam as preocupações   e medos.    O ruído do mundo me desconecta  de mim, de sensações, sent...

Mágoa

  Pessoas, fatos e até ficção me impressionam, deixam marcas gravadas em mim. Levava tudo para o lado pessoal, como se tudo que o outro fazia era sobre mim e não sobre ele, como se me dissesse respeito, como se o mundo girasse a meu redor. Era suscetível a qualquer coisa que me causasse desconforto e quase tudo me constrangia. A mágoa é o veneno que a gente toma esperando que o outro morra, assim dizia Shakespeare. É a ferida que nunca sara porque se arranca a casca quando ela começa a se formar. É a tristeza retida de forma voluntária, evitável e desnecessária. É ácida e corrói a alegria e o prazer de viver. A mágoa é o equívoco de quem não busca a causa, de quem não se interessa em entender as circunstâncias. É o juiz implacável que não avalia os atenuantes, que não põe na balança o tanto que o outro já fez por ele. A última coisa que o magoado leva em conta é o perdão. Com o amadurecimento, entendi que a mágoa não é real, ela é do julgamento que se faz da atitude do outro. A ma...

Relacionamento

  Não me sinto confortável em falar sobre esse tema, se eu entendesse  de relacionamento afetivo não teria descasado três vezes. Mesmo assim, ouso fazer algumas ponderações, a partir  do que não se deve fazer.   As bases de um relacionamento feliz  é não projetar no parceiro   minhas expectativas, sem considerar  se ele pode dar o que quero, não cobrar afeto e respeito, porque são coisas que só valem se fores espontâneas.       Em um relacionamento feliz não retalio, não me ressinto, não discuto  o relacionamento a partir de acusações.     Em um relacionamento feliz não sou intolerante, não manipulo, não me isolo, não me vingo com abstinência sexual, não fico indiferente ao meu parceiro.    Como nunca tive um relacionamento feliz, não sei como ele funciona, mas sei exatamente o que não devo fazer. Já é um começo. 

Meu olhar

  A parte II –  O meu olhar,  do poema  Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro,  heterônimo de   Fernando Pessoa parece que foi feito para mim, pela similaridade do meu olhar para o mundo, quando ele diz: ...  e  o que vejo a cada momento é aquilo que nunca antes         eu tinha visto, e eu sei dar por isso muito bem...  É esse olhar que busco ter, pleno    de novidade, de espanto, porque a cada instante estou mudando, e ao mudar, altera-se meu olhar diante das coisas.  Assim como no poema,  Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade  do Mundo...  Vejo o mundo como se o estivesse observando através de um caleidoscópio cujas imagens mudam a cada movimento, cada novo olhar         se torna um renascimento.   Concordo quando ele diz que  " O Mundo não se fez para pensarmos...

Emoções racionais

    Assim afirmava Jung, emoções  se originam de valores, crenças  e princípios assimilados pela sociedade, religião e  família. As emoções são reações ao julgamento que faço dos fatos  e das pessoas, com base nas crenças, valores e princípios que internalizei. Quanto mais imaturo for meu caráter, mais intensas serão minhas emoções.    Intensidade é sinônimo de imaturidade,  é o que distingue a pessoa ativa da reativa. Tanto assim o é que o amor  é leve e brando, não tem rompantes emocionais, a não ser que esteja contaminado por emoções.    Maturidade tem a ver com o quanto  de humildade tenho para aceitar  a impermanência da vida, com  suas perdas e encerramentos de ciclo.    Quanto mais madura eu for, mais terei valores, crenças e princípios compatíveis com minha evolução moral e espiritual, menos reatividade terei, mais haverá integração harmoniosa entre pensamentos e emoções, mais estarei ...

Reflexões

  Poucos querem ter vínculos duradouros, a volatilidade dos elos trás insegurança. Prefiro me arriscar, melhor  me arrepender do que viver apática.   No entanto, quem cola no outro não dá chance dele sentir falta e ter desejo.    Antes de dar certo, pode dar muito errado. Não temo o céu desabar  e inundar o chão que piso, melhor sentir intensamente do que ser insensível.    Preciso esvaziar a mente  de tantas informações desnecessárias. Informações demais congestionam   o cérebro, me dispersam, e dispersão   me cansa. A estrela nasce do caos, por isso não temo desfazer o que sei. Tento não desperdiçar tempo porque a vida não avisa, quando o trovão chega, o raio já caiu.    Não posso alterar os fatos, mas posso mudar sua narrativa, e isso faz toda  a diferença. Assim, terei uma nova atitude sem ressentimento, porque não estou mais passiva diante dos fatos, nem   submissa ao passado, agora posso reagir a ...

Indecisão

  “As indecisões persistentes escondem decisões já tomadas.” Em algum lugar dentro de mim já fiz minha opção.  Não escolher já é um escolha,  a de me manter do jeito que estou,  me agarrar ao conhecido, mesmo que  não seja confortável .    Às vezes espero que o tempo resolva  a questão, que a vida crie soluções, que alguém decida por mim.    Ficar em cima do muro me traz  a segurança de poder pular de volta para onde estava. Dou a desculpa de que estou avaliando a situação  de um panorama diferente. O que me leva a estar ali é me sentir desconfortável   no lugar em que estava, mas ter medo   do desconhecido.     O pior motivação para a escolha  é o medo. Por medo eu me mobilizo  ou me paraliso.   Quando penso em uma alternativa, vejo as desvantagens em primeiro lugar  e me desmotivo.   A dificuldade de dar o passo é porque  não quero pagar o preço, assumir responsabilidades. ...

Pensando-me

  Pensando-me   Quando a vida me sacudir, o que  se derramará de mim? O que já está  pronto para transbordar. Aquilo que já está apto para ser visto, analisado  e curado. Muitas vezes eu já sei, mas não quero saber, aí a vida me coloca de frente com o que evito.    O amor se expressa no ato de bondade  a quem não conheço. Fazer o bem  a quem amo nunca é desinteressado, quero reciprocidade, reconhecimento. O amor não surge de mãos vazias,  ele traz consigo tudo que me impede  de amar. O que vou fazer com isso é condição para ele ficar ou ir embora.    Sou provocada pela sensação  de desafio, há em mim uma fome  de conquista, vontade de me testar,  de provar que sou capaz.  O desafio é provocação útil  para  as realizações, mas para relações afetivas, não. Relações que exigem esforço de se manter não sobrevivem.    Estou acostumada com a excitação da paixão, o frio na barriga, e q...

Inspiração

  “A inspiração, o que quer que seja, nasce de um incessante “eu não sei””. Faz sentido, quando me sento à frente  do computador, sou uma tela em branco, em busca de ser preenchida, é o vazio   de não saber que me move.     Tenho curiosidade pelo mistério  da existência, pela dança   dos relacionamentos, tenho fome de mim.   O vazio está prenhe de significados,  e quando chega a hora do parto,   a contração acontece.     Inspiração é a iluminação do que estava obscuro, oculto, guardado. Algo dentro  de mim e maior do que eu me mostra   o caminho e eu deflagro a jornada.     Inspiração é a ideia aparentemente repentina que há muito vinha sendo gestada em meu ser. É o impulso que põe em movimento a criatividade.    Inspiração é o recado dos anjos soprado em meus ouvidos, quando reconheço  que não sei.    

Gatilho emocional

    Sempre que me deparo com  uma situação, acontecimento,  ou pessoa que deixou  uma impressão negativa em mim,   o gatilho emocional dispara  e eu me comporto da mesma maneira que no passado.   O gatilho emocional é a razão para antipatias gratuitas, para entrar em estado de alerta, para acionar defesas.  Não é racional, é instintivo, como  se eu estivesse diante de algo que ameaçasse minha sobrevivência.    Uma vez acionado, não tenho mais controle sobre minhas emoções, mesmo que não aja movida por elas. Quando estou tomada pela emoção, estou dando resposta a algo  do passado, dessa forma não interajo com a pessoa nem com o evento presentes.   Já convivi com alguém que era capaz  de identificar meu gatilho e agia deliberadamente para me acioná-lo.  Outra pessoa não tinha essa intenção, mas continuava atuando da mesma forma, mesmo depois de advertida  que a atitude dela me afetava.  Tanto um...

Medo do medo

    O medo em mim tem suas artimanhas, uma delas é me fazer esquecer o que receio, evitando, assim, de enfrentar  a situação. É a estratégia do medo para não sentir medo.     Só que ele não consegue neutralizar  a consciência, que fica dando sinais   de que preciso fazer algo que não atino  o que é. O desassossego só acaba quando finalmente me recordo do que devo fazer.     Fugir do problema nunca é solução, apenas adio o que é preciso fazer,  o problema aumenta de tamanho, além de me provocar angústia e inquietação. Ao lidar com o medo, vejo que o bicho não é tão grande quanto imaginava,  e muitas vezes estou fazendo tempestade num copo de água.    O medo tem a função de manter a pessoa em estado de alerta diante de um perigo real. Quando usado em situações inadequadas, causa mais danos do que benefícios.   

Drama de consciência

    Creio que conflito mental é isso,  me sentir entre a cruz e a espada,  entre sacrifício ou punição,  porque duas consciências dentro de mim entram em atrito, a da retidão  e a da transgressão.    Quero ter o melhor dos dois mundos  sem sofrer as consequências por  não escolher. Tenho que renunciar  a um prazer que é ao mesmo tempo minha sobrevivência. O preço a pagar  me deprime.    Sinto que estou me empurrando contra  a parede, por não ver saída que  me satisfaça.    Fico me desculpando, alegando que  o esforço pode não dar frutos, que  o destino já está traçado, que  de uma forma ou de outra sofrerei  as consequências. Não quero decidir pressionada pelo medo.    Embora pressinta que já fiz minha escolha, tenho que me posicionar com consciência. Nem tanto ao céu nem tanto à terra, a palavra é moderação.  O autocuidado não pode afastar a alegria de viver....