Postagens

Mostrando postagens de abril, 2024

Eu voltei

  Estive perdida, sem ver o meu entorno, vagando a esmo, robotizada, repetindo hábitos e rotinas como autômata.    Orei, entreguei, senti um lampejo  de lucidez. À medida que me aproximava dele, o caminho voltava a ter cor, o céu voltava a ser azul.     Voltei-me para onde eu estava, agora iluminado, reconheci meu lugar.  Voltei e me dei conta que de lá nunca saí, voltei para onde sempre estive, a brilhar, a ser eu mesma, voltei para mim. 

Erro

    Nem mesmo a tecnologia escapa  da ocorrência de defeitos. O erro é   uma falha que acontece em decorrência   de inabilidade momentânea   ou de julgamento equivocado, não intencional. Ele integra o aprendizado   e mostra a falibilidade humana.   Já diz o ditado que “errar é humano, mas permanecer no erro é burrice”. Errar  de forma inequívoca é mau-caratismo.     O que eu chamo de erro pode ser a forma deliberada de me iludir. Por exemplo, quando não sei se o caminho vai levar aonde pretendo ir, mas quero encurtar  o caminho ou quando o véu sobre   os olhos é proposital.   O medo de errar vem do orgulho e pode me imobilizar. Ninguém passa na vida sem cometer um engano. Dizem que só não erra quem não faz nada e eu digo que até a omissão pode ser um erro.      A não aceitação do erro e a recusa  em não aceitar     nossa natureza imperfeita me leva a repeti-lo. Quanto mais perfeccionista,...

Com a alma atormentada

  Nunca houve tantas pessoas acometidas por distúrbios, síndromes e transtornos psíquicos, a ponto de os sintomas  se confundirem e trazerem dificuldade para se fazer um diagnóstico.     Há relatos de pessoas que estavam sendo tratadas por uma causa, quando  na verdade, seu quadro era outro. Em parte, a responsabilidade é do paciente, por ter dificuldade em identificar o que sente, em especial aquele que não busca o autoconhecimento.     A doença da alma não se cura com medicação, o remédio apenas alivia  os sintomas. Ouvir músicas de teor elevado, manter o corpo saudável   e em movimento, ter contato com   a natureza, meditar, tudo isso ajuda.     Mas é preciso cuidar da alma, dar atenção a suas necessidades, nutri-la com bons pensamentos e sentimentos. Voltar-se para dentro, arrumar a casa interior. Descobrir a causa dos sintomas muitas vezes exige ajuda especializada.    Depois de anos de terapia, e ainda faço, apr...

Cavalo dado não se olha os dentes

    Então devo receber tudo que a vida  me ofertar, sem investigar, sem avaliar?  Penso que não, pode ser que a vida esteja me testando a capacidade   de discernimento, a coragem de dizer não.   Não quero com isso dizer que a vida erra ou que devo me rebelar contra ela.  Há situações das quais não posso fugir, que são frutos de minhas ações.     Mas convém distinguir desafios de oportunidades, e mesmo estas últimas  a vida me dá escolhas, posso exercer   o livre arbítrio, sendo certo, no entanto, que as consequências boas ou ruins virão.   Entretanto, pode acontecer da vida  me presentear, mas como não é o que   eu desejo, ou como não atende minhas exigências, tendo a rejeitar o presente.   Por outro lado, a oferta pode ser presente de grego. Por exemplo, a lei permite que herança seja rejeitada, porque ela pode ter dívidas maiores que os créditos.    Cavalo dado se olha os dentes, sim, para saber o que...

Arrumando a(s) casa(s)

    Quando não estou bem, acontece  de eu sonhar arrumando a casa, varrendo, jogando água no chão, tirando a poeira dos móveis, limpando os lugares menos acessíveis, como atrás dos móveis, embaixo da cama, em cima  do armário. Quando acordo, estou com  a mente mais organizada, consigo entrar em contato com sentimentos que antes eram confusos.    Quando não sonho, começo uma faxina na casa de fora, ponho tudo no lugar, deixo tudo limpo. Às vezes escolho só uma parte da casa mais bagunçada, como a cozinha ou o escritório.  O resultado é mágico, me sinto muito melhor.   Isso me faz lembrar quando alguém diz que depressão é falta do que fazer  e sugere lavar uma trouxa de roupa, ajuda mesmo.    Em mim, assim como está dentro, também está fora e vice-versa. O melhor é aproveitar os momentos de clareza para sondar a mente e o coração, ver onde  a sujeira se acumula, onde as coisas estão fora do lugar e iniciar o processo  d...

Auto traição

    Quando me senti traída pela primeira vez, entrei na vitimização, sentia-me  uma fracassada, minha autoestima esfacelou-se. Não me conformei,  fui à luta, “salvei meu casamento” à custa de reprimir a mágoa e de ferir meu amor-próprio. Como era de se esperar,  o relacionamento não sobreviveu.   Depois de muito investir em me conhecer, superei essa crise e me sentia pronta para um novo relacionamento. Não estava, o parceiro era outro, mas  o padrão era o mesmo. Dessa vez investiguei como contribuí para que entrasse uma terceira pessoa   entre nós. Conversamos horas a fio, cada um assumiu o seu erro e nos demos uma chance. Mesmo assim, a traição   se repetiu.     Foi quando percebi minha auto traição. Porque meus pais não eram felizes  eu não me achava no direito de ter   um casamento afortunado. Enquanto   eu me movia para um encontro bem-sucedido, meu inconsciente emanava vibrações opostas. Agora eu sei que   a...

Alegria, alegria

  Para mim, a alegria tem a ver com bem-estar e prazer. Tenho prazer em caminhar contra o vento, com o sol ameno, em estrada arborizada, sentido o cheiro de terra, ouvindo o canto de pássaros. Sentar-me à sombra, na areia da praia, contemplando e escutando o movimento das ondas, também. Alegro-me com coisas miúdas, como saborear o prato predileto, me embalar na rede,  me deleitar com minha playlist, me deitar quando estou cansada, dormir quando tenho sono.   Nos dias em que acordo bem-disposta,  o bom humor e a alegria são consequências naturais.     Costumava dizer que me sentia orgulhosa com alguma coisa, com alguém, comigo mesma, confundia orgulho com alegria. Nada me alegra mais que ver quem  eu amo feliz, alegro-me com sua vitória.     A alegria me chega de maneira espontânea ou motivada. Se estou triste, basta encontrar alguém querido para  a alegria voltar, ou receber uma notícia boa, ou até mesmo algo que me faça rir.   ...

Quem eu quero ser

    Não estou pronta para ter um novo relacionamento porque não quero sintonizar com alguém que esteja  na mesma frequência que estou agora. Isso importa dizer que atrairei ou serei atraída por pessoas com características semelhantes às minhas.    Não me agrada encontrar alguém parecido comigo,  porque ele exacerbará quem eu sou e terei dificuldades  em controlar as más inclinações.  Não quero ser com ninguém quem eu já fui e ainda sou no momento, e não adianta colocar uma máscara e fingir quem eu quero ser, não é assim que funciona.      É muita pretensão querer  uma convivência harmoniosa, em que  os dois queiram crescer juntos, se até hoje não me entreguei a ninguém.    Para isso, preciso superar minhas inseguranças, desconfianças e medos.  A mente já sabe que o passado não deve interferir no presente, mas ainda há pendências emocionais que preciso resolver para não projetar em ninguém  as ...

Perseverança

  Não é fácil mudar de hábitos negativos arraigados, nem renunciar a prazeres efêmeros e destrutivos. Vez por outra  sou atraída por eles, que por instantes  me dão satisfação. São eles que  me desviam do caminho, afrouxam-me  a persistência.   Tem momentos em que sou tentada  a seguir o rebanho, para satisfazer   o desejo de pertencimento, mas  me lembro de quando mamãe dizia que  eu não sou todo mundo. Ela tinha razão, sou um ser singular, que tem uma jornada própria e diretrizes únicas, assim como todo mundo.    Às vezes esmoreço, tenho vontade  de desistir, não me sinto forte o bastante,  mas a memória me socorre com o ditado que diz que água mole em pedra dura tanto bate até que fura. A conquista se dá  a cada dia, pelo trabalhado  de formiguinha, pela constância em ficar do meu tamanho, sem querer ser mais nem me achar menos do que sou.    

Motivos para viver

    Basta ter consciência de que tudo na vida passa e me mover com  a impermanência e terei motivo  para viver.    A diferença entre existir e viver está  no estado de presença. Estar bem  ou mal, triste ou alegre, em conflito  ou em paz, sentindo dor ou prazer, com vitalidade ou apática, desde que eu esteja em presença, sentindo e soltando, haverá motivos para viver.   O estado de presença abstrai o apego  ao passado e a ânsia por futuro,  me coloca frente a frente com o instante, plena no agora, usufruindo ou penando, vivendo o que tiver que viver na medida certa, sem arrastar comigo o ontem  e sem carregar o peso do amanhã.  Estar presente motiva  viver.   Viver, não apenas sobreviver ou existir, me encher de vida, com todo o seu vigor, com todo esplendor, una com a vida.  No estado de presença tenho motivo para viver porque só há vida no presente. 

Preto e branco

  Há dias em que acordo apática, a mente entorpecida, quase letárgica. Levanto-me da cama com dificuldade, me forço  a iniciar a rotina.   A falta de ânimo me deixa desmotivada  e sem esperança, o colorido do mundo interior se apaga, só vejo a vida em preto e branco, porque fora é o reflexo do que está dentro.    Quando revolvo a mente e não encontro um motivo aparente, dou ocupação  ao corpo, atividade física sempre me ajuda a sair desse lugar, resolver  uma pendência me dá contentamento, fazer algo que me dê prazer mesmo que não o sinta.   Sempre sofri dessas alternâncias  de humor, e não é fácil lidar com elas. Mas eu amo a vida e quero ser feliz, então não me entrego à prostração.  Às vezes preciso de ajuda medicamentosa, não me faço de rogada. Tudo na vida passa, e quando passa,  a gratidão apaga qualquer rastro  de lembrança do episódio desagradável. 

Encruzilhada

  Encruzilhada   Tem momentos em que me sinto  em uma encruzilhada, sem saber que caminho seguir, achando que se correr  o bicho pega, se ficar o bicho come.    O alarme dispara, a ansiedade  se intensifica, as sensações  se exacerbam, o discernimento vai para  o espaço.    Quando isso acontece, começo uma série de respirações profundas, procuro ajuda, oro por equilíbrio.   Ao me acalmar, descubro o gatilho que disparou o surto, coloco o medo sobre  o escrutínio da mente, analiso a dimensão  do problema, dou a ele a importância adequada. Ao fazer isso, quase sempre encontro a solução, e o mal-estar  se dissipa.    Eu não temo me perder na encruzilhada porque sei que ela é um campo  de possibilidades, ali posso escolher  a melhor alternativa. Eu  me desestabilizo quando a indecisão me mantem nela. Quando lembro disso, fica mais fácil  me mover e encontrar a saída.   

Cicatrizes

    De algumas lesões na pele durante  a infância, tenho marcas até hoje,  a maioria é só uma mancha.    Assim acontece quando sou ferida emocionalmente. Como ocorre  no processo de cicatrização física,  o nível de profundidade do machucado emocional vai determinar o tempo  de cura. No entanto,  se novo atrito acontece sobre a ferida, ela se abre  e exige novos cuidados.    Há machucados que acontecem  num impacto único, outros vão  se formando pelo atrito continuado  ao longo do tempo, ambos podem  ser rasos ou profundos,  a depender do que eu faço com  a pancada, se eu me preparo para minimizá-la  e me restaurar   ou se eu a absorvo e a retenho.    Quando a dor afetiva é visível, é possível valer-se de um curativo eficaz como  o desapego e o perdão. A lesão oculta, esquecida, jogada no inconsciente  é a mais difícil de sarar, porque ela  recr...

Prece

  Espírito Santo, se eu cair  em depressão, ajuda-me a renunciar àquilo que não me está destinado, a ser grata pelo que tenho, a voltar a ter alegria pelo que a vida me proporciona.   Espírito Santo, se eu tiver dúvidas, renova minha fé, fortaleça-me a determinação  de seguir meu coração, dá-me razão para viver.     Espírito Santo, se eu ficar apática,  desanimada, cansada de viver, ponha  um sorriso em meu rosto, devolve-me  o entusiasmo, o vigor e a esperança, lembra-me do meu propósito, do sentido de minha vida, mostra-me o caminho   da redenção.       Espírito Santo, se eu precisar passar por tal estado de ânimo, que seja breve  e transitório, me ajude a voltar a amar. 

Satisfeita ou plena

  Posso estar cheia de dúvidas,  de pensamentos contraditórios, de raiva, de angústia, de orgulho, tão cheia que transbordo, me afogo, me sufoco, tenho indigestão mental.   Posso estar repleta de alegria, de boas memórias, de afeto, e isso me enche  de contentamento.   Posso estar farta, aborrecida, enfadada, com tanto barulho, com tantas notícias ruins, farta de mim.    Posso me sentir no auge do vigor,  do apuro intelectual, de momentos bons.    Quando estou plena é diferente, sinto-me inteira, completa, preenchida  de mim mesma, acho-me suficiente, abundante, tenho autossatisfação.   Há conteúdos pesados como a tristeza,  e outros são leves como a alegria.  A plenitude não tem volume nem peso porque é feita de substância vital,  tem a consistência etérea, a fluidez  do átimo.    A plenitude acontece quando me esvazio de obstáculos e impedimentos, e por um instante adquiro leveza bastante para...

Dúvida

    A dúvida é algo que me atormenta,  em especial quando envolve afeto.   Eu me senti ignorada quando tentei dar apoio a um amigo, quando ele estava fragilizado. Tive dúvida sobre o que teria provocado essa atitude, mas não podia interpelá-lo em respeito a seu momento difícil, não sabia como agir a partir  de então.    O afastamento dele podia não ter nada  a ver comigo, podia ser apenas   um momento em que ele precisava estar recolhido, mas a dúvida me corroía.    Entrei num estado de confusão, tive dificuldade de lidar com a frustração,  me senti rejeitada, magoada por ele não ter respondido à minha iniciativa, medo  de perder o amigo.   A dúvida demonstrava falta de confiança  em mim, na reciprocidade da amizade,     entorpeceu-me o discernimento de tal forma que a resposta podia estar bem ali   e eu não via. Perdi a fé em mim e nele.   Com tudo isso segui em frente, orando por ele, e espe...

Celebração

  Celebração   Cada conquista, cada superação,  cada vez que um desafio é ultrapassado, o simples fato de estar vivo, de ter capacidade para fazer escolhas,   as habilidades natas ou adquiridas,   as amizades conquistadas, a família unida, amar e ser amado, tudo é motivo para comemorar.   Celebrar é um ato de reconhecimento,  um registro de algo importante. Quantas coisas significativas são ignoradas e só se dá importância quando se perde.     A celebração pode ser um ritual intimista  ou enaltecimento público, assinala   um acontecimento, uma situação, uma pessoa a serem honrados.    É o hábito de reverenciar aquilo que  é sagrado para cada um,   uma homenagem por gratidão,   a comemoração de uma data relevante.  Pode-se celebrar com uma prece,   um brinde, uma expressão   de contentamento, um festejo.   Quem celebra, adquire bem-estar,  bom ânimo, entusiasmo, gratidão,   é um ...

A-Deus

    Sinto que desperdicei três oportunidades de um relacionamento feliz porque escolhi pessoas que não estavam disponíveis para construí-lo comigo, nem eu mesmo estava. Não é fácil se despedir de um sonho acalentado, de um projeto há muito idealizado. Por outro lado, se eu atraí ou me senti atraída por pessoas assim, é que há em mim um não interno por trás do anseio.   É preciso saber a hora de parar, de dar um fim, de fechar a porta, a hora de  partir, de soltar algo ou alguém,   mas não sou boa em término, só o faço quando não dá mais para segurar. Para mim, é difícil trocar o certo pelo duvidoso, mesmo quando o certo não mais satisfaz. Lançar-se no desconhecido é como estar solta no vácuo, sem sentido ou direção. Os prognósticos que faço são os piores possíveis, para aliviar o medo crio   fantasias. Para largar o osso preciso  de motivação suficiente para valer o risco.       Hoje meu motor é a autocura,  não no sentido de obter ...

Bem-estar é estar bem

    O conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde é um estado completo  de bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de afecções   e enfermidades, ou seja, praticamente ninguém goza de saúde plena segundo esse critério.   Penso que bem-estar começa  pelo cultivo de um equilibrado estado   de espírito.     Qualquer coisa pode alterar meu humor. Tem dias que acordo indisposta, aí um telefonema de alguém querido muda completamente o clima.   No sentido inverso, às vezes basta   o cansaço físico para me tirar   o bom ânimo.    Descobri alguns recursos para preservar o bem-estar. Escrever é para mim  uma     catarse, melhora minha condição mental e emocional. A música me leva   a momentos felizes, a própria melodia   me transporta a lugares internos que   me aquietam o coração, me revigoram, despertam a alegria de viver.   Mas a ferramenta mais eficaz para alavancar o ...

Erros e acertos

  Erros e acertos   Em certos aspectos de minha vida escolho o caminho do menor esforço, não me empenho, não me dedico, não  me aplico, para justificar a imobilidade.   Não quero pagar o preço, justifico que não vale o esforço, entro numa inércia incapacitante, o que me leva à frustração de meus anseios.   Não quero errar, e esse nível de exigência me torna insegura a ponto de sequer tentar. O erro faz parte do aprendizado,  é através dele que posso chegar  ao acerto, faz parte da evolução  em qualquer nível.   A mente sabe disso, mas o orgulho  me paralisa, porque vendo uma imagem superestimada e não quero cair  em descrédito.    Agora que estou ciente da motivação que me aprisiona, posso renunciar ao apego ao reconhecimento e me submeter  à experiência, acolhendo erros e acertos, porque estou disposta a dar  o meu melhor.  

Sem juízo, sem equilíbrio

    Eu era vista como a doidinha da família. Meus irmãos zombavam de mim porque eu mimetizava a expressão facial  de raiva, tristeza ou alegria do protagonista, ao assistir a novela.    Quando estava no pico da euforia iniciava múltiplas tarefas, para desistir pouco tempo depois, quando o humor declinava.   Quando algo me interessava ou algum pensamento ou filosofia fazia sentido para mim, queria logo colocar em prática  e fazia proselitismo para todos ao redor. Agia por impulso, era compulsiva, tinha manias, e ainda tenho.    Atribuo essa atitude ao TDAH, mas nem tudo. A minha natureza é inquieta, curiosa, inconstante, oscilo ao sabor dos ventos, sou levada por múltiplos interesses e não me firmo em nenhum.    Meu comando interno é impermanente, assim como a vida. Talvez por isso eu crio rotinas, hábitos e métodos na ilusão de obter estabilidade. Mas meu equilíbrio  é o de uma gangorra que só estaciona entre a subida e o declí...

No limbo

    Há momentos em que tenho a sensação de que algo vai emergir de dentro de mim, alguma autorrevelação latente, algo que pressinto, mas não sei o que é.    Tenho que lidar com o vazio existencial, com o silêncio que nada diz,  como se as ideias tivessem sido varridas da mente, como se eu estivesse  no limbo, à beira do precipício ouvindo  o convite do eco para me jogar.    Não adianta forçar a mente, porque não  é através dela que encontrarei a resposta. Então deixo estar, uma hora chegará  à consciência.    Como diz minha mestra Claubete Nóbrega, quando as letras não conseguem expressar o que há por dentro, o silêncio passa a ser a melhor opção. Quanto mais silenciosa e quieta eu estiver, mais serei capaz de ouvir. Nada há a fazer senão esperar pelo tempo de Deus. 

O trânsito da alma

    Quando saio do corpo, é comum ser puxada de volta quando a mente registra perigo. Pela rapidez com que retorna  ao corpo, tenho a sensação de cair no vácuo.     Minha alma tem trânsito livre, reencontra afetos, sobrevoa lugares, se abriga  no coração. Quando a vida está árida, procuro refúgio no oásis da alma, recebo aconselhamento.     Seleciono a quem exponho a nudez  de minha alma, minha vulnerabilidade plena, pois se assusta quem se habituou a viver de aparências.     Sonhos são portais da alma, há que ter atitude para atravessá-los. A alma  é plástica, mas não cabe em caixa alguma. Ela é livre, voa, navega, saltita, está sempre em movimento e me instiga a me deslocar. Ela me cobra posicionamento perante a vida,   me regula, me aquieta o coração.     Quando a leveza me toma, encho minha casa interna de cor, trago música, giro  na ponta dos pés, solto um riso frouxo.   Se obedeço aos comandos da ...

Arriscar-se

    Viver é um risco, há agentes desestabilizadores tanto na natureza quanto na seara humana que podem interferir de forma positiva ou negativa  em minha vida.     A impermanência da vida, por si só,  já é um fator de risco, pois afasta   a perpetuação das circunstâncias,  a constância das coisas, as certezas. Para não se viver em estado de alerta, crio seguranças fictícias.     Como todo mundo, eu me arrisco todos os dias dentro e fora de casa, ao agir  ou ao não fazer nada; eu me exponho   ao perigo ao atravessar a rua, ao dirigir, ao viajar de avião, diante da violência   e insegurança urbana. São riscos que já me habituei, porque não posso evitá-los   e por terem sido raras as vezes em que eles se concretizaram.     Mas há riscos que muitos não conseguem encarar. Risco de uma empreitada malsucedida, de um relacionamento não prosperar, de planos fracassarem.  O medo irracional da efetivação do perigo...

Malditas são as palavras não ditas

  Se é para magoar ou ofender, melhor não falar, o silêncio o silêncio vale ouro, só fale se tiver certeza, não jogue palavras ao vento nem as entregue a quem não está disposto a ouvir, as pessoas só ouvem o que querem. São ensinamentos preciosos se bem aplicados.    No entanto, relacionamentos são feitos  de palavras, a comunicação é eficaz  ao usar palavras impregnadas de respeito e gentileza. Quando não pronunciadas podem causar mal-entendido, distanciamento e ressentimento.   Malditas são as palavras não ditas, presas na garganta, não digeridas, provocam adoecimento físico, mental  e emocional.   Mas antes de falar é preciso estar isento de reação emocional, analisar  o custo/benefício dessa atitude, sondar  o motivo e a intenção. Palavras são veículos de interação, que podem aproximar ou afastar as pessoas.  Elas podem estar a serviço da intimidade,   ou ser um desserviço por estar carregada de emoções negativas. ...

Projeção

Há um adágio que sugere ao indivíduo voltar para si o dedo que ele está apontando para o outro.     O julgamento   é uma confissão do que está inconsciente, disfarçada de acusação. Faz sentido, só consigo ver em alguém aquilo que também tenho, mas quero manter oculto.     Ao ler para minha terapeuta uma carta que escrevi, onde fazia severas críticas a uma pessoa, ela me sugeriu que eu mudasse o pronome você pelo eu, descobri muito a meu respeito com esse exercício. Entendi que projetava nela aquilo que não aceitava em mim, sem perceber que agindo assim estava rejeitando a mim própria.   Os relacionamentos afetivos que tive foram uma ferramenta importante de autoconhecimento, depois que descobri que o companheiro refletia características minhas. Mas para tirar proveito desse recurso precisei tomar consciência de como interagia com ele, acusando, reclamando, atribuindo a ele minha infelicidade. Passei muitas seções de terapia em que o tema era a forma como el...

Fugir, desistir, recuar

    Depois que deflagro uma iniciativa, tenho dificuldade em recuar, mesmo quando esta é a melhor opção. Recuar soa para mim como se eu estivesse cedendo  meu lugar para outra pessoa. Desistir, então, não é opção, é mais fácil eu estacionar num ponto da caminhada por pura inércia, mas tendo em mente que voltarei a seguir. Mas quando se trata  de questões afetivas eu tendo a fugir por pura covardia, não sustento o momento.    O tempo e as experiências foram  me mostrando que sustentar o orgulho  e não dar o braço a torcer é  um comportamento imaturo que só sofrimento causa.    Recuar para esperar momento mais propício, desistir quando seguir trará consequências desastrosas, reconhecer que fiz uma má escolha, são atitudes de coragem e de sabedoria.        Agir com destemor não é coragem, é inconsequência. Diante do perigo real, há que  ativar o modo de sobrevivência que importa em lutar ou fugir. A fuga,...