Esquecimento
“Recordar é viver”, diz o ditado. Recordar coisas boas e reviver os momentos bons é salutar. Mas quando se trata de lembrar ofensas, traições, acontecimentos trágicos, recordar é voltar a sentir tristezas, decepções, sobressaltos que podem me desestruturar emocionalmente, se não estou preparada para elaborá-los.
O esquecimento é uma proteção psíquica para que pensamentos recorrentes
e persistentes que não consigo evitar não tomem minha vida. Tais pensamentos sempre vêm acompanhados de emoções que me causam ansiedade e medo.
Por um tempo, eu tive sonhos que não conseguia entender, permeados de imagens simbólicas. Cheguei a preencher um caderno com eles. Estudei o significado dos símbolos nos sonhos, mas não cheguei a nenhuma conclusão.
Esses sonhos eram a forma que o inconsciente encontrou para trazer
à tona conteúdos, que, de outra forma, eram barrados pelo mecanismo de defesa.
Aos poucos, fui aceitando o que vinha, mesmo sem entender. Só quando abri mão de procurar uma lógica para eles e relaxei é que as memórias foram emergindo. Ainda assim, elas eram deformadas e vinham acompanhadas de sintomas, mas eu não conseguia associar uma coisa a outra. Tais lembranças eram frias.
Na verdade, essas reminiscências encobriam a realidade dos fatos.
Foi preciso um trabalho de escavação para encontrar a verdade.
Enquanto não me recordei do evento traumático dentro de um cenário realista, a repetição dele acontecia em minha vida de forma disfarçada.
Recordar é rememorar com o coração, ou seja, reviver a experiência real. Essa, sim, tem eficácia terapêutica e permite iniciar o processo de cura. Só assim me libertei desse ciclo
de repetições porque eles eram sintomas que tinham sua causa esquecida.
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