No limiar da loucura


A vida toda fui atormentada pelo medo 

de enlouquecer, até perceber que minha loucura era a expressão da sanidade. Vivia um paradoxo: o medo de enlouquecer se convertia 

em transtorno de ansiedade generalizada, cujos sintomas me tirava a sanidade mental. Pensamentos intrusivos e trágicos, estado de alerta, alienação 

de mim mesma, perda do discernimento eram os sintomas do surto, 

que se agravava à noite e me levava 

à insônia. 

 

Descobri que o medo de enlouquecer 

me impedia de ser eu mesma, de ser autêntica, de assumir meu lugar 

no mundo. Era uma defesa contra a perda de  controle, para evitar a entrega 

a meu eu mais profundo. Queria sobreviver, quando a questão era sobre viver.  

 

A neurose é a tentativa de me manter segura, e a loucura é quando eu atravesso o medo e vou às alturas. 

O que me acometia não era loucura, 

era excesso de lucidez, consciência 

de que me encontrava solta, sem base, sem chão, que tinha saído do eixo, 

me desconectado de mim e essa era 

a  causa da angústia e da ansiedade. Quando sou tomada por excesso de lucidez, convoco a loucura.  

 

A ansiedade também é deflagrada quando eu busco me libertar de qualquer espécie de dependência emocional. 

Sair da dependência emocional 

é um processo de abstinência doloroso que traz instabilidade mental.  Mas quando eu a atravesso e começo a desenvolver autonomia, sinto alívio 

e fico em paz, pendulando entre momentos de sanidade e de loucura sadias.  

 

O que eu achava que era loucura era 

justamente  sintomas da resistência 

a não me entregar a ela. Minha loucura 

é sadia, ela me instiga a voar, fluir com 

a vida, criar, sabe bem viver com 

a falta e com o vazio. Na loucura eu saio da falsa normalidade, solto certezas 

e conceitos engessados e me abro para novas possibilidades até então não cogitadas. O meu equilíbrio flerta com a loucura. O que eu chamava de loucura é a manifestação do meu eu real.

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