Eu e o tempo
O tempo se esconde de mim, trabalha nos bastidores. Quando esqueço dele,
a vida é mais suave, não tenho que prestar contas do que fiz com ele.
Às vezes o perco, outras ele vai ao meu encontro.
O tempo mexe comigo. Quando ele tece mudança em mim, não me dou conta do processo, e quando ela surge, parece que foi instantânea, quando pode ter durado dias.
Meu tempo afetivo se dilata ou se retrai conforme minha forma de atuar
no mundo e o jeito como reajo às experiências. Há instantes que duram horas, e dias que duram um instante.
Seguir o tempo psíquico me capacita a perceber ele passar, a ter habilidade
em registrar e sedimentar o tempo na memória. O tempo psíquico é pessoal,
ele se ajusta a mim, não pode ser sincronizado de forma coletiva como
se dá com o tempo do relógio.
Uma das dificuldades do casal é entender e se adaptar ao tempo do parceiro. Saber qual é o tempo de acontecer, de silenciar, de esperar, o tempo afetivo do par.
O ser humano adjetivou o tempo, de bom ou ruim, certo ou incerto, pontual, atrasado ou adiantado, de nascer, crescer ou morrer, tempo a prazo, vencido
ou vincendo.
A gente foi programada para seguirum tempo artificial que quase sempre viola o tempo interno.
Se o mundo fosse regido pelo tempo biológico, eu comeria, dormiria,
me ocuparia respeitando meu tempo interno. Se assim fosse, muitas doenças poderiam ser evitadas, melhoraria a qualidade de vida, a longevidade aumentaria.
Quando faço as pazes com o tempo,
ele flui sem entraves, se dá o suficiente
para eu ter clareza e discernimento,
para a raiva passar, a tristeza acabar,
a alegria se expandir, para elaborar emoções.
De tempos em tempos me dou um tempo para testemunhar a passagem do tempo.
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