Ressentimento e perdão


Achava que tinha perdoado alguém, 

mas quando eventualmente me lembro 

do fato ou me encontro com o suposto agressor, volta tudo que senti. Achei que o tempo ajudaria a dissipar a mágoa, 

o fato é que  não perdoei de coração. Perdão não acontece encontrando justificativas para perdoar ou para 

me livrar do desconforto. 

Preciso purificar mente e coração. 

 

Perdoar exige humildade e compaixão. Humildade para renunciar à vergonha, 

ao orgulho ferido, à indignação. Humildade para me perdoar 

pela falta de previdência,

o descuido comigo mesma, o erro 

de julgamento. Compaixão para 

me colocar no lugar do outro e ver que também sou potencialmente capaz 

de fazer a mesma coisa, ou até mesmo 

já fiz. Humildade e compaixão para aceitar a falibilidade humana 

e a minha própria. 

 

A diferença entre  desculpar e perdoar decorre do grau de afetação sofrida, mesmo que o ocorrido tenha sido algo banal. 

 

O que me impede de perdoar 

é o ressentimento. Re-sentir é reproduzir repetidamente o que aconteceu, renovando a mágoa. O ressentimento 

é a blindagem do coração feita 

pelo orgulho, pelo medo de vir a sofrer 

de novo e pelo apego à vitimização. 

Para perdoar, tenho que aceitar minha vulnerabilidade. Por isso, não perdoar 

se torna uma obstinação irracional. 

 

O ressentimento me impede de avaliar 

o ocorrido com realidade, de ponderar 

eventual boa conduta comigo do suposto agressor, confirmada ao longo do tempo, de assumir minha parcela 

de responsabilidade para o desfecho danoso. 

 

Exerço dois tipos de perdão: aquele em que dou segunda chance e o que não dou mais porque perdi a confiança na pessoa ou porque já dei antes e ela repetiu 

o mesmo erro. No primeiro, levo 

em consideração o arrependimento 

e a mudança de atitude dela. 

No segundo, percebo que 

ela não reconhece o erro 

e continua agindo da mesma forma, 

a mesma  conduta reiterada. Ela pode ter até intenção de mudar, mas 

se sua  atitude é contumaz, há um grande risco de ela repetir o erro. De uma forma 

ou de outra, não esqueço do que ela 

é capaz de fazer. 

 

Hoje, ainda que não consiga evitar 

reativar a mágoa, não a retenho, deixo 

ela seguir seu curso. 

 

Não há ato imperdoável, assim apregoou Jesus. Mas há certas agressões que requerem elevação moral, altruísmo 

e força espiritual para perdoar. Em todos os casos, o perdão é libertador para 

o agressor e em especial para 

a vítima.

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