Antes de partir
É o título do livro de uma especialista
em cuidados paliativos, onde ela lista
os arrependimentos de quem está à beira da morte: não ter vivido nos próprios termos, não ter dedicado mais tempo aos amigos, não ter se permitido ser mais feliz, não ter tido coragem de expressar os sentimentos, ter gastado muito tempo com o trabalho. Tem uma música intitulada Epitáfio cuja letra é toda
de arrependimentos do que queria ter feito e não fez.
Não é preciso estar à beira da morte para ter arrependimentos, basta se ter mais tempo de ócio.
Depois de concluir os estudos, de ter priorizado a família, a criação dos filhos,
o trabalho, de ter constituído patrimônio, de encerrar a vida produtiva, começaram a me chegar arrependimentos.
De todos, o maior é não ter feito mais amizades e não ter me dedicado às que tenho. Quando se chega à velhice,
é comum ressignificar prioridades, e hoje o que sinto mais falta é de amigos. Filhos têm sua própria vida e não precisam mais de mim, o casamento acabou, não há mais ocupação profissional, não tenho hobby. Não fosse a convivência com
os netos e o hábito de escrever minha vida estaria vazia.
Se eu soubesse antes o que sei agora teria feito diferente. Refletindo sobre
os arrependimentos apresentados no citado livro, ainda é tempo de viver
nos meus termos, de aprender a não ceder às expectativas alheias; ainda posso expressar meus sentimentos, já posso viver uma vida de ócio
e procurar ser mais feliz. Mas é difícil fazer amizades nessa fase da vida, porque a maioria já tem amigos de longas datas e são a eles que preferem
se dedicar. Da mesma forma, os amigos que não dei atenção seguiram em frente
e priorizaram quem esteve ao lado deles ao longo do tempo.
Posso reprogramar minha vida, mudando onde e como eu coloco minha energia, posso me dedicar a ser quem sou. Ainda que eu possa tentar fazer novos amigos
e resgatar as amizades que abandonei, esse é um setor da vida que terei dificuldade em equilibrar. Só resta aceitar a responsabilidade por minhas escolhas
e viver com o que tenho com gratidão.
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