Pensamento - É Ele que nos Define? Virgínia Leal


 

Pensamento – ele  nos define?

 

“Penso, logo existo". Será? É o pensamento que nos define? Somos o que pensamos? Somos medidos, avaliados e julgados pelo que sabemos? O que significa para cada um pensar, existir e saber? A existência humana é apenas o intervalo de tempo entre o nascimento e a morte? 


Para encontrar respostas a essas questões, há que se entender como o pensamento se processa. O pensamento é estimulado pelos sentidos e pela forma como somos afetados pela experiência. Aquilo que nos afeta produz uma imagem. À imagem é atribuída uma representação simbólica. O símbolo tem um significado específico, composto por utilidade e valor. Esse processo é traduzido pela linguagem com o uso da memória. A memória é um acervo de informações carregadas de valor e afeto. Pensar e lembrar são funções cognitivas que estão associadas.

 

Cognição é a capacidade de associar pensamentos que são encadeados de forma lógica. É através dela que operamos o conhecimento e interpretamos o que percebemos. Através do conhecimento assimilamos informações. Através dos sentidos percebemos e apreendemos a realidade. 

 

São funções cognitivas focar, selecionar, dividir e memorizar; analisar, avaliar, criticar e sintetizar; generalizar, abstrair, comparar e distinguir. Já induzir, supor, inferir e deduzir são hipóteses que podem não investigar com rigor as premissas, levando a conclusões falsas, e essas conclusões falsas podem se converter em crenças.  As funções cognitivas operam de forma automática.

 

O pensamento é concebido a partir das experiências resultantes da relação do indivíduo consigo mesmo, com o mundo e com outras pessoas. A vivência acontece quando somos afetados e essa resposta é sensorial e emocional.  O pensamento organiza a experiência, dando a ela um sentido. Pensamentos e sentimentos estão interligados de forma indissociável


O pensamento provoca um sentimento e o sentimento atrai um pensamento. O pensamento é a conclusão tirada de uma experiência sensorial e emocional. A conclusão pode ser falsa, quando a experiência é emocionalmente imatura e a ela converte-se em crença. Será verdadeira, pela compreensão do equívoco da interpretação da experiência e essa compreensão leva ao aprendizado e à sabedoria.  


Não se pode conceber o pensamento como um processo mental separado da experiência sensorial e da emocional. Ele nasce, desenvolve-se e expressa-se como um sistema complexo e vivo. 

As deformações mentais, distúrbios emocionais e desarranjos sensoriais decorrem da tentativa de fracionar, fragmentar, dividir e isolar os elementos do sistema, de tentar separar a mente do corpo, das sensações, dos sentimentos e da ação. 


Pensar com efetividade não é só assimilar informações e reproduzi-las ao acionar a memória. Isso não nos diferencia de um computador. Não é adotar irrefletidamente ideias preconcebidas. Não é usar a mente para praticar as atividades habituais e rotineiras. Pensar é essencialmente examinar de forma crítica o repertório pessoal de ideias e teorias assimiladas. O pensamento efetivo é aquele decorrente da reflexão sobre aquilo que se pensa, se sente e se faz. Pensar é subjetivar o pensamento, pensar por si mesmo. É tirar as próprias conclusões valendo-se dos recursos cognitivos. Será efetivo quando operado com a consciência de se estar inserido em um processo sistêmico decorrente das interações entre o pensamento, os estímulos sensoriais e  a experiência.

 

Qual a relação, então, entre a existência e o pensamento? O ser humano tem consciência de sua própria existência.  Essa consciência vem da capacidade de pensar e de sentir. A existência pressupõe a interação consigo próprio, com outras pessoas e com o mundo. Os relacionamentos são experiências que provocam afetos. Os afetos são interpretados pelo pensamento. Para quem evita  a experiência, a existência limita-se à sobrevivência. 

 

Existir é atuar na vida em seus diversos aspectos, com a mente e o coração abertos para novos aprendizados. Só é possível a atuação efetiva na vida pela experiência. A experiência só acontece quando há resposta sensorial e afetiva. A existência como forma de estar no mundo não é um conceito nem um estado, é um processo influenciado por vários fatores responsáveis pela visão de mundo, a exemplo da base familiar e cultural que contribuiu para a formação da personalidade. O pensamento é apenas um desses fatores. 

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