A Defesa do Ego - Virgínia Leal

 



            Diante de uma situação real ou não, em que somos tomados de emoção tão intensa que o discernimento é tolhido, não conseguimos dar a resposta adequada à circunstância. Ou nos paralisamos diante da suposta ameaça, ou fugimos do enfrentamento, ou atacamos desnecessariamente. Isso vale tanto para acontecimentos bons quanto para ruins.

 

            Para enfrentar equilibradamente esses momentos e para que o indivíduo possa sobreviver psicologicamente a eventos traumáticos, a mente aciona uma proteção temporária. Até aí tudo bem. Ocorre que o mundo está tão complexo e ameaçador que desmantelou esse mecanismo de defesa, que, equivocadamente, é acionado constantemente, até se tornar um hábito duradouro.

 

            A defesa emocional, como já foi dito, é indispensável à saúde mental. O esquecimento temporário ou amortecimento do impacto, por exemplo, de algo doloroso ou traumático é necessário, para que a estrutura do ego seja preservada e o indivíduo possa lidar com uma emoção avassaladora. Entretanto, uando ativamos esse recurso de forma habitual e permanente, surgem efeitos colaterais danosos que podem suplantar os benefícios iniciais.

 

            Passado um tempo da experiência difícil, é preciso reativar a lembrança dela e lidar com a emoção que a acompanhou e que continua embotada. Enquanto a emoção estiver amortecida, passamos a fazer a leitura equivocada da realidade, porque a emoção cristalizada ativa a defesa sempre que evento semelhante ocorre, reagindo ao que ocorreu no passado. Assim, esse sistema passa a atuar de forma prejudicial à própria saúde mental que pretende preservar.

 

            Isso ocorre porque o ego em desequilíbrio sente-se facilmente ameaçado e reage mal a qualquer sensação de desconforto, frustração e contrariedade, que interpreta como ameaça real. Ele cria uma sofisticada dinâmica de justificativas para manter a defesa a qualquer custo e as adota para si próprio e para os outros. Dessa forma, promove um falso bem-estar e segurança.  Essa estratégia é usada para um único fim: não sentir dor. Ocorre que as emoções se organizam em uma estrutura indissociável, de sorte que ao evitar sentir tristeza, por exemplo, é reprimida igualmente a alegria genuína.

 

            Enquanto tudo isso ocorrer de forma inconsciente ou semiconsciente, automática e independe da vontade, não teremos o domínio de nossas atitudes. É preciso observar como usamos essas defesas para não entrar em contato com as emoções que presumimos insuportáveis e incontroláveis.

 

            Na próxima reflexão vamos olhar para os principais mecanismos de proteção usados para se proteger da dor e refletir como trabalhar na busca de um ego saudável, um eu sem defesas.  

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