O Pensamernto é inato ou aprendido? - Virgínia Leal

 



            O pensamento é inato ou é aprendido?

 

            Há uma tendência em achar que o pensamento é uma faculdade humana e integra a sua natureza. Esse é um tema polêmico entre os estudiosos. Há algum tempo acreditava-se que a mente do bebê era uma página em branco. Hoje se sabe que o cérebro dele já traz componentes genéticos de inteligência, algumas funções cognitivas rudimentares e é aparelhada para adquirir outras. Mas o pensamento progride à medida que o cérebro se desenvolve e recebe estímulos ambientais. Em sua função primária, o pensamento é a resposta da mente a estímulos recebidos pelos sentidos. Os neurônios se excitam e  enviam uma mensagem ao sistema nervoso central, que processa a informação. Ainda que seja inato, o pensamento efetivo requer aprimoramento. 

 

            À medida que o cérebro se desenvolve, ele torna-se mais apto a processos mentais elaborados, a depender do nível de aprendizado recebido.  Uma criança que cresce num ambiente desfavorável à aquisição de conhecimento possivelmente terá dificuldades cognitivas. 

 

O pensamento é a atividade intelectual decorrente da associação ordenada ou encadeada de ideias. O pensamento só pode se processar mediante o conhecimento prévio armazenado na memória e traduzido pela linguagem. A linguagem constrói significados, definições e conceitos sobre as coisas, sobre as pessoas e sobre o mundo. O pensamento tanto é refletido pela linguagem quanto é determinado por ela. A linguagem propicia a interação e o entendimento entre as pessoas.

 

            O pensamento estruturado no raciocínio lógico é essencialmente desenvolvido e assimilado. A lógica contemporânea é o processo de investigação sobre o raciocínio. A lógica opera através de conceitos, que são determinados por regras previamente estabelecidas e aceitas. O conceito é uma convenção ou acordo, que atribui significado e valor a determinado objeto. É o processo de elaboração de ideias, cuja conclusão é tida como verdade. 

 

            É através do pensamento que a mente concebe a realidade, a partir da percepção pelos sentidos. O campo argumentativo do discurso se organiza e é controlado por esse método e tem por fim chegar à verdade. É o discurso a chave interpretativa da realidade, na tentativa de se chegar à verdade. 

 

Aquilo que os sentidos percebem e o pensamento traduz é a representação da realidade. As ideias criadas pelo pensamento têm a pretensão de entender a realidade. A problemática ao  lidar com o universo de ideias é o regramento dos conceitos que dificultam a mudança. Os conceitos tentam imobilizar a realidade, que é dinâmica e mutável. 

 

A realidade só é apreensível através da experiência. Hoje já se admite a ideia de que toda verdade é provisória, que ela é sempre relativa e condicionada aos limites da mente, da capacidade de observação e de tirar conclusões. A lógica tenta afastar a contradição, o conflito e a incoerência, próprias do ser humano. A natureza humana não acompanha essa estrutura rígida de pensar. 

 

O pensamento precisa substituir a oposição entre verdade e erro, pela aceitação do erro como um elemento constante da busca da realidade e da verdade, que sempre é relativa. A verdade não pode ser estanque, precisa acolher aquilo que ainda não foi apreendido, percebido e estudado. A realidade e a verdade encontram barreira para ser assimilada porque o  pensamento tenta substitui-las por sua representação. 

 

O pensamento só estará a serviços da realidade e da verdade se estiver a serviço da experiência. A experiência é o resultado da interação humana com as coisas, com o mundo, consigo próprio e com outras pessoas. Pela interação, a pessoa recebe estímulos em forma de sensações e emoções que provocam uma mudança interna, provisória ou permanente. A função do pensamento é entender essa constante mudança de visão de mundo. 

 

O pensamento efetivo é uma construção complexa e aprendida, um adestramento, um condicionamento adquirido, fruto de um regramento intermediado pela cognição e conduzido pela lógica. Quanto mais se entra no mundo das ideias, mais distante se fica da experiência. A veracidade do edifício conceitual só pode ser confirmado através da vivência da troca com tudo que existe. 

 

Por essa razão, há tanta diversidade de entendimento e percepção da realidade. Daí a importância de praticar o pensamento crítico e questionador. Há, portanto, que pensar o pensamento. A visão de mundo depende do grau de desenvolvimento mental e da maturidade adquirida pela experiência bem aproveitada.

 

A filosofia é um dos primeiros campos de produção de ideias, originárias de conceitos. É também a forma de entender, construir e desconstruir os próprios conceitos, de colocar em questão as certezas, de trazer a dúvida para reformular ou inovar o pensamento. 

 

 

 

 

 

           

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