O Sagrado e seus Símbolos - Virgínia Leal

 

          

            A linguagem imagética do inconsciente é estruturada por símbolos. O símbolo é a representação de uma ideia que antecede a palavra. Essa representação pode ser projetada num objeto, numa imagem e até numa pessoa. O significado do símbolo varia de pessoa para pessoa e pode trazer um valor positivo ou negativo. Atribuir um valor que vai além de sua utilidade física, um valor metafísico e transcendental, torna o objeto, a imagem ou a pessoa sagrada. Costuma-se dizer que o lar é sagrado, que a amizade é sagrada, e o que significa isso?

 

            Sagrado é aquilo que inspira veneração, que nos remete ao divino, a Deus. É aquilo que tem por função dar sentido à vida e está inserido dentro do conceito de espiritualidade. Um sentido que vai além dos interesses e necessidades físicas e materiais. O sagrado fundou o mundo, o iluminou e lhe deu um sentido. O sagrado, nas diversas tradições espirituais, religiosas e filosóficas é o centro. O centro é o ponto de orientação, o ponto de referência que aponta o sentido. É o farol dos viajantes da vida que os afasta dos perigos e aponta a direção a seguir. O ser humano orbita em torno desse centro e seu objetivo é se aproximar, cada vez mais dele. O homem anda em círculos e precisa seguir em espiral para chegar ao centro.

 

            Pela dificuldade do ser humano em se ligar e estar alinhado a esse centro, os símbolos contribuem para a interiorização. São estímulos que ajudam na experiência transcendental. No cristianismo, são símbolos do sagrado o vinho e a hóstia, que representam o sangue e o copo de Cristo e o altar. É também o templo, o culto e a bíblia. São cantos de exaltação a Deus.

 

            Os símbolos podem ser usados também como amuletos ou talismãs sagrados. Aos talismãs são atribuídos poderes mágicos ou sobrenaturais e aos amuletos são conferidos poderes como sorte e proteção. O crucifixo é um amuleto usado como proteção contra o mal.

 

            Os oráculos são também símbolos sagrados presentes na cultura de vários povos e tradições, como em diversas religiões. No cristianismo há a figura do profeta, que revela a a palavra de Deus, como a própria Bíblia é um oráculo, por trazer ensinamentos inspirados.

 

            Todos esses símbolos são importantes como representação externa do sagrado, para facilitar a experiência interna com o divino. Eles, em si, não têm poder algum, o poder é dado por quem o sacraliza, ao transformá-lo num artigo de fé. Cada pessoa tem o seu acervo de símbolos que para ela é sagrado.

 

            O sagrado é uma ânsia inerente ao ser humano, originado na necessidade de encontrar sentido para a vida, razão para viver, já que a consciência da inevitável morte nos tira o chão. O sentido que é razão, explicação, mas também orientação de para onde ir. E quando se valoriza o sentido se prioriza o percurso e não o destino, já que o ponto final é a morte. O sagrado projeta o homem além da degradação da matéria, além da morte física. Sacralizar a vida e o caminho a seguir, através da autossuperação, a expansão de limites da consciência, a transcendência que faz com que se abandone o homem velho para se tornar o homem novo.  Até mesmo o ateu precisa criar o seu próprio sistema de crenças para dar sentido à vida, quem sabe, baseado no antropocentrismo e não no teocentrismo. Há que se encontrar o próprio caminho sagrado.


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