O Sentido da Vida e a Arte de Bem Viver - Virgínia Leal

 


                       O sentido da vida é buscado desde a mitologia. O herói mítico Ulisses afirma que o sentido da vida é ocupar o seu lugar na vida.  Várias são as respostas para o sentido da vida, dadas pelas escolas filosóficas. Para o sofismo, é a arte do convencimento; para o cinismo, é uma vida despudorada, autônoma e desapaixonada; para o cético, é a busca da imperturbabilidade; para o hedonismo, é a fruição do prazer; para Aristóteles, é alcançar o máximo do potencial; Para Sócrates, é a felicidade.  Na religião cristã, Jesus ensina que a vida só tem sentido se voltada para os outros. No tempo moderno, o filósofo Spinoza afirma que a boa vida é aquela em que se tem alegria ou potência de agir.

 

            Há uma escola de pensamento que entende que o sentido da vida é a arte de bem viver. E o que seria isso? Fiz uma pesquisa no YouTube e encontrei essa expressão usada para propaganda de atividades de lazer, palestra de uma religião, sobre desenvolvimento pessoal, sobre “12 regras para a vida” e tantas outras mais. Em nenhuma delas o conceito original foi preservado.

 

Para o estoicismo, a arte de bem viver é fazer o que lhe corresponde, o que lhe é inerente, a vocação absoluta. A felicidade, portanto, é resultado da prática da arte de bem viver.

 

            Epíteto, a figura mais importante dessa forma de pensar, afirma:

 

“A felicidade é um verbo. É o desempenho contínuo, dinâmico e permanente de atos de valor. Nossa vida é construída a cada momento, e tem utilidade para nós e para as pessoas que tocamos”

 

            Mas para que se possa praticar atos de valor, continua Epíteto, o indivíduo precisa se apropriar do próprio modo de funcionamento. Para ele, há diferença entre solidão – que é o exercício do diálogo interno, e o isolamento - que é o desacompanhamento de si mesmo. Quanto mais consigo se vive, mais se consegue conviver com o outro. A partir do centro do ser, é possível chegar ao coração das coisas e se posicionar na vida. E cumprir o que lhe corresponde pelo desenvolvimento dos valores, das virtudes e da sabedoria. Não ocupar o seu lugar no mundo contribui para a desordem do universo, tem consequência sistêmica. O propósito humano é sair da ignorância em direção à sabedoria. O ideal humano é um fator de soma, é fazer diferença, é trazer a palavra que faz sentido na vida de alguém.

 

            Se é possível resumir todas as teorias focadas, a arte de bem viver é estar alinhado com o propósito de vida pessoal, aquilo que lhe é natural e tarefa de vida. O propósito e a vida altruísta são indissociáveis. O prazer, a potência de agir ou alegria, a imperturbabilidade e o desapaixonamento são consequências de uma vida com propósito, tendo o amor como fio condutor.

 

Para seguir o propósito pessoal, é preciso conhecer o próprio potencial, buscar atingir o máximo dele, descobrir e ocupar seu lugar no mundo, posicionar-se na vida e desenvolver a arte de convencimento. Ao seguir em direção ao próprio propósito, o indivíduo está praticando a arte de bem viver e certamente encontrou a felicidade.

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