Ética, Moral e Transcendência - Virgínia Leal

 


           

           Essa é a primeira das reflexões que iremos fazer tendo por tema Ética e Moral. Os conceitos de ética e moral são diversos e muitas vezes invertidos. Há estudiosos que entendem que ética é o conjunto de princípios, valores e virtudes que regem uma determinada sociedade em um determinado tempo, e a moral é a conduta alinhada com esses princípios. A ética é a teoria e a moral é a prática. A ética tem alcance coletivo e a moral é restrita ao indivíduo. Em sentido inverso, a ética é o comportamento moral individualizado, enquanto a moral é o conjunto de hábitos de costumes de uma sociedade.

 

Há quem entenda que a ética é universal e atemporal, enquanto outros entendem que ela é construída a partir de valores morais de uma determinada sociedade e que sofre modificações pelo tempo. Ética e moral podem ser convertidas em regras, cuja transgressão é passível de punição, ou podem se limitar a um ideal a ser buscado, cuja violação acarreta reprovação social.  

 

Integra esse universo os conceitos de justiça, do livre arbítrio, da causa e efeito, de direito e dever, de obrigação, do que é justo, íntegro, tolerável. Somam-se  a tudo isso  política, civilidade, cooperação, urbanismo, convenções, acordos e pactos sociais, bem comum e muitos outros.

 

Ética e moral são conceitos, ou seja, códigos de conduta acordados para a boa convivência e a paz social. É diferente da ânsia ou propensão do ser humano à transcendência da matéria, a perseguir uma conduta que o eleve da condição animal para o desenvolvimento e exercício pleno dos potenciais inerentes a sua natureza. Os princípios, as virtudes e valores éticos e morais nem sempre correspondem a essa tendência inata e até são contrários a ela.

 

Outra questão a considerar é que a forma como cada indivíduo decodifica esses conceitos sofre a interferência de uma série de fatores, como a capacidade cognitiva de interpretar o mundo, o conhecimento de seu universo interior, a formação da personalidade e do caráter, a influência do meio e as conclusões tiradas das próprias experiências.

 

O maior equívoco humano está no antropocentrismo, por adotar a si próprio como centro de tudo que está em seu entorno e o entendimento de que o mundo existe para lhe servir. Daí derivam as deturpações de valores, a exemplo de posse e individualismo - características do egoísmo; de segregação, de exclusão, de preconceito; de competição, de ambição e ganância, de fartura e escassez por consequência, entre outras.

 

Deriva igualmente o moralismo, que é a perversão da moral, e se expressa pelo julgamento irrefletido, que desconsidera, muitas vezes de forma intencional,  a complexidade, a situação e o contexto do que se está avaliando. O moralismo também usa o código moral para proveito próprio, quando aquele que o invoca o viola em segredo.

 

A verdadeira ética e moral tem por princípio o bem comum, a solidariedade e a fraternidade. É inclusiva e sua base é o amor. Aquele que a pratica o faz de forma autêntica e espontânea e não por conta da coerção e medo de punição. Ele acessa a sua essência e é norteado pelo seu centro de sabedoria.  Dessa forma, compreendeu que cada um tem seu lugar e contribui com a unidade do grande tecido que liga singularidades, e esse, por sua vez, integra o sistema universal regido por leis sagradas e divinas. Percebe que a atuação de cada um promove a ordem ou o caos na rede de interações e favorece ou compromete a harmonia e a paz sistêmicas.

 

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