As Vantagens de Ser Cético - Virgínia Leal

 


 

            Você acredita em tudo que lê e ouve? Os céticos, não. Eles duvidam da percepção dos sentidos e afirmam que não é possível, através da mente e dos sentidos, atingir a certeza. A palavra cético vem de sképsis – investigação, indagação. O ceticismo entende que o resultado da investigação leva a encontrar o que está investigando ou nega ser possível encontrá-lo, ou persiste na busca. Aqueles que encontram a resposta são chamados de dogmáticos, os que estabelecem verdades. O ceticismo duvida, mas se mantém investigando.

 

A verdade, para os céticos é inapreensível. Para demonstrar isso, dizem que Carneades fez um discurso a favor de uma determinada tese e convenceu a todos; no dia seguinte fez outro discurso contra a mesma tese e igualmente convenceu a todos. Para os adeptos do ceticismo há argumentos convincentes para conclusões diferentes da mesma questão. Quando isso ocorre, a atitude correta é suspender o juízo, ou seja, não tirar nenhuma conclusão e continuar investigando, até que se chegue a uma posição confortável e autêntica. Até os critérios para decidir é passível de dúvida. Para os céticos, não se posicionar sobre uma questão polêmica não é problema, e sim se posicionar de forma não criteriosa e precipitada.

 

O ceticismo sofreu influência do cinismo e desenvolveu o pensamento de que “o homem é a medida de todas as coisas”. Ao desconfiar dos sentidos e da própria mente, trouxe conclusões, das quais destacamos: há diferentes percepções da realidade face a diversidade constitutiva entre os homens na forma de pensar e sentir; há diferença entre as sensações da mesma pessoa no decorrer da vida sobre a mesma questão e que podem falsear a percepção da realidade. Há diferença de circunstâncias de vida, favoráveis ou desfavoráveis, que podem mudar a forma de ver a realidade pelo mesmo indivíduo, a depender da idade. A percepção do que se vê é apurada pela frequência com que observamos.

 

Por fim, o sentido da vida para os céticos é a tranquilidade de espírito, e para isso, não convém angustiar-se em se posicionar. Mais vale continuar investigando até estar confortável em seu posicionamento. Conclui que a ação é determinada pela aparência das coisas, porque as impressões sensíveis não estão sujeitas a questionamento.

 

É claro a atitude cética é extremada, pois encurrala os próprios seguidores em suas conclusões, pois ao afirmar que a verdade não é apreensível, há que se questionar essa própria afirmação. Há que se ter em mente que não é possível ao homem apreender a verdade absoluta, ou seja, aquela observada em todos os ângulos, pois os meios de percepção humana são limitados.  Já foi dito que os conceitos ou ideias tidas como verdade são convenções entre pensadores.

 

Aquilo que se aceita como verdade precisa ser experimentada para comprovação. Prova disso é que muitos conceitos tidos como imutáveis vêm sendo questionados e hoje até se apresentam com significado reduzido, ampliado ou modificado.

O homem é o produto da soma de suas experiências. O conhecimento mental é a base, a referência para a ação, mas o próprio conhecimento sensorial adquirido pela experiência deve ser considerado.

 

É preciso ter a mente aberta para novas percepções e novos conhecimentos, por mais que contradigam as certezas. É pelo exame do pré-estabelecido que se pode chegar a conclusões autênticas e mais próximas da realidade. Essa é a vantagem de ser cético sem ser niilista, ou seja, sem ser descrente de tudo.

 

 

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