Moralista, Eu? - Virgínia Leal

           

 

            Muitas vezes adotamos determinada conduta, sem nos darmos conta do que ela representa, munidos das melhores intenções. É o caso do moralismo.         

 

Para definir o que é moralismo, empresto o enxerto de uma fala de Lewandowski.

“Já o moralismo representa uma espécie de patologia da moral. Enquanto nesta há um certo consenso das pessoas no tocante à distinção entre o certo e o errado, no moralismo alguns poucos buscam impor aos outros seus padrões morais singulares, circunscritos a certa época, religião, seita ou ideologia.

Os que discordam são atacados por meio de injúrias, calúnias ou difamações e até agressões corporais. No limite, são fisicamente eliminados. Paradoxalmente, quase sempre os moralistas deixam de praticar aquilo que exigem dos demais.”

            Temos visto, nas redes sociais o fenômeno do cancelamento. E o que seria isso senão uma atitude moralista? Há que distinguir moralismo de moralidade. A moralidade está associada ao que se entende por certo e errado, ao que é direito, justo e moral, aos bons costumes. Já o moralista usa de forma distorcida esses conceitos, ajustando a seus interesses pessoais e desconsiderando o bem comum. Essa atitude hipócrita esconde suas próprias transgressões às normas que defende.

            O mais grave da atitude moralista é se arvorar de justiceiro, de defensor da moral, e expõe, em busca de adesão,  a suposta falha ou erro de alguém, promovendo a execração pública. Essa atitude chegou ao extremo de condenar qualquer pensamento contrário ao do julgador, independente de ser imoral ou não. Então a vítima é excluída e exilada do convívio social.

            Um exemplo de comportamento moralista que causa danos irreversíveis é a notícia tendenciosa a um determinado julgamento, como acontece em certas atitudes jornalísticas. O julgamento é impresso nas mentes desavisadas e a reputação daquela pessoa é arruinada. Mesmo que depois se constante a inocência, a imagem fica irremediavelmente manchada.

            A atitude policialesca do moralista tem por motivação desviar de si o foco, e esconder, muitas vezes de si mesmo, a tendência transgressora. O moralista não percebe que, ao adotar essa atitude, que se reveste de crueldade e perversidade, está violando os preceitos morais que defende. No fundo, o moralista ou legalista é um rebelde enrustido.

            E como o moralismo interfere na conduta ética? Ao distorcer o conceito de moralidade e não promover a paz social e o bom convívio. A usar a moral em proveito próprio. Ao praticar, em alguns casos, bullying  e até mesmo a injustiça. Quando adotada ao extremo, pode ser enquadrada em crime de calúnia e difamação. Por ser contrária a uma atitude ética. Moralismo é a falsa moralidade.

Então você pode perguntar, “moralista, eu?”. Sim todos nós, em algum nível somos moralistas. Ao julgarmos e condenarmos de forma precipitada, superficial e inconsequente, sem conhecermos a intenção, a motivação, o contexto, as circunstâncias do suposto erro, estamos sendo moralistas. Acima de tudo, estamos sendo hipócritas, porque não temos autoridade moral para julgar quem quer que seja, porque estamos sujeitos ao erro. Para o cristão, é violação a um preceito fundamental do cristianismo que conclama não julgar, para não ser julgado.

             

 

 

 

            

 

            

 

 


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