Ética e Civilidade - Virgínia Leal

 


            Você já deve ter ouvido alguém dizer: “vamos conversar como pessoas civilizadas”. Mas o que é civilidade? Para muitos, ser civilizado é estar inserido numa civilização. Civilização, por sua vez, é o grau de desenvolvimento intelectual, cultural, artístico, social e político de uma sociedade. Então a pessoa civilizada deveria estar habilitada  em todas essas esferas de conhecimento. O que se destaca aqui é a civilidade social, que é a arte da boa convivência através de códigos de conduta preestabelecidos, tendo por base o respeito mútuo.

 

            Pode parecer que sejam atitudes e hábitos desnecessários e superficiais, mas a etiqueta social é de fundamental importância na formação da sociedade e para a boa convivência. Relações respeitosas são importantes para o bom entendimento entre pessoas, povos e países. A civilidade varia no tempo, para acompanhar as mudanças do contexto social, econômico e político.

 

            Civilidade envolve desde protocolos, formalidades e etiquetas que determinam boas maneiras na forma de falar, de ouvir, de se vestir, nos modos, a uma conduta polida, refinada, nobre, cortês e fidalga, própria de uma conduta ética.

 

Na França, o código de conduta era determinado pelo rei.  Era ritualizada, teatralizada e hierarquizada, portanto, excludente. Havia uma grande preocupação com a perda de prestígio. Era praticada pela nobreza quando visitava a corte. Os serviçais precisavam aprender algumas regras sociais para servir os senhores. Os nobres desprezavam o trabalho e valorizavam o ócio. A agressividade manifestava-se pelas intrigas.

 

A etiqueta da Itália, no renascimento,  pautava-se na crença da igualdade entre os homens, portanto era inclusiva, e o critério de nobreza levava em conta as qualidades do indivíduo, não era dada pelo nascimento em uma família da nobreza, como na França.

 

Com a ascensão da burguesia, a civilidade passou a ter como referência os valores franceses de liberdade, igualdade e fraternidade, e sofria influência da religião protestante e da nova ordem econômica. Contemplava como valores o trabalho, a moderação, a austeridade, a poupança e a acumulação capitalista. A conduta levava em conta as aparências e imperava a hipocrisia. Num segundo momento, voltou a conduta perdulária, houve um afrouxamento de valores, e o critério de distinção de classes era o luxo e a ostentação.

 

A civilidade atual contempla uma miscelânea dessas várias etiquetas sociais existentes em várias épocas e lugares. Os códigos de conduta mais valorizados têm por base o respeito mútuo e a educação no convívio social.

 

Todos sabem que não é adequado ir ao trabalho com roupa provocante, nem em trajes de banho, há um código de ética profissional em que a civilidade necessariamente está inserida. Em festividades formais, o convite informa o tipo de roupa adequada. Há uma regra de comunicação entre chefe e subordinado e vice-versa, entre vizinhos, ao se dirigir a uma autoridade. Eles são mais formais e diferentes da comunicação mais íntima que é permitida entre amigos, entre cônjuges e entre familiares.

 

É de senso comum que é reprovável ouvir música alta, não organizar o lixo, não obedecer às leis do condomínio. Assim como é desrespeitoso furar a fila, fechar alguém no trânsito, levar todo o estoque de mercadoria em tempo de escassez.  

 

            Quando se trata de comunicação, a civilidade exige um tratamento amistoso e respeitoso, em especial à diversidade de opinião, discordar sem agressividade, não interromper quando alguém fala e saber ouvir.

 

            Nesse momento de pandemia a ética exige um código de conduta rigorosa em relação aos hábitos de higiene e na prevenção de contágio. Não é ético circular sem máscara, não respeitar o distanciamento mínimo. A etiqueta social agora é não apertar a mão, não abraçar, não constranger alguém o convidando a um evento que importe em aglomeração.

 

Lamentavelmente, estamos vendo o total desrespeito aos códigos de conduta básicos de convivência. O individualismo predomina e a educação mínima foi desprezada. Precisamos promover o renascimento de hábitos sociais saudáveis para a boa convivência, para que a ética seja praticada de forma ampla, e possamos nos qualificar como pessoas civilizadas.

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