Quando o Medo Atormenta a Felicidade

 

Quando o Medo Atormenta a Felicidade

Virgínia Leal

 

            O medo é inerente ao ser humano e existe em todos, ainda que evitemos senti-lo. Quanto mais tomarmos consciência dele, melhor ele será administrado. Há vários tipos de medo, desde aquele necessário à sobrevivência ao medo nocivo à própria sobrevivência.

 

O medo primordial é um instinto, um mecanismo de defesa para se enfrentar situações de ameaça e perigo. Esse tipo de medo ativa todo o sistema orgânico para que se prepare para responder com eficiência ao perigo real, aguça a percepção e prepara os sentidos para o combate ou para a fuga. Esse medo é necessário e indispensável à sobrevivência. Uma vez afastada a ameaça ou o perigo, o corpo retorna à sua condição natural.

 

O medo em forma de sentimento, se não trabalhado, pode comprometer o sistema de defesa em vez de ativá-lo. Diante da ameaça, a pessoa pode ficar paralisada. O medo afeta o discernimento, a clareza da circunstância e o sentido de realidade. Muitas vezes confunde a suposição de algo improvável com uma situação de real perigo. A emoção do medo ativa inadequadamente o instinto de sobrevivência de tal forma que se vive em constante estado de alerta, e se converte em ansiedade, estresse ou pânico.

 

O medo defeito é quando ele se torna um estado permanente, um clima emocional constante que torna a pessoa insegura e covarde diante de qualquer desafio da vida. Nessa condição é um defeito porque o medroso, por supor estar em constante perigo, age como se estivesse em estado de necessidade e não é capaz de ver a necessidade do outro. Por isso que o medo afasta o amor.

 

O medo decorre da consciência de que somos mortais e de há perigos reais nos rondando como a violência urbana, o aquecimento global, eventual guerra nuclear e agora a pandemia. A pessoa saudável tem a consciência amortecida pelo esquecimento dessas ameaças para não ativar o estado de alerta constante. Como somos informados de perigos reais para nossa sobrevivência há todo momento através da mídia, fica difícil ignorar esse fato, por isso se recomenda não se expor a esse tipo de estímulo. O medo da morte é o medo original e inerente à condição de finitude da vida.

 

Quem vive em estado constante de medo demonstra falta de fé na benignidade da vida e nos desígnios de Deus. A morte é uma realidade e não há como evitá-la. Dessa forma, qualquer dia é um bom dia para morrer. Para quem acredita que a vida é o fim, o medo do nada torna difícil a travessia. Recusar-se a aceitar essa realidade é inútil e sofrido.

 

Como lidar com o medo? Submeter o medo ao pensamento lógico traz realidade. Perguntas que podem ajudar: O perigo ou ameaça é real ou é uma suposição? É iminente? Se aquilo que tenho medo acontecer eu sobrevivo, eu posso superar, posso me adaptar? Outra coisa que ajuda é a respiração profunda e lenta, porque  distensiona os músculos, alivia a sensação de desconforto e traz clareza à mente. A meditação também ajuda.

 

O medo não pode ser eliminado porque é um instinto de sobrevivência. É preciso, então, saber como conviver com ele de forma a torná-lo uma aliado, ao invés de um inimigo.


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