Memórias que afetam a Felicidade - Virgínia Leal

 

Memórias que Afetam a Felicidade

Virgínia Leal

 

Você já descobriu qual é o gatilho que dispara a lembrança de momentos ruins?

 

            Dissemos que para sermos felizes precisamos ter uma atitude positiva diante da vida e, para adotarmos essa postura, precisamos dissolver os entraves. A memória pode ser um deles.

 

            A memória não é um simples repositório de informações e fatos objetivos e neutros. É uma importante parte da mente indispensável para o aprendizado. Guardamos na memória o que assimilamos e apreendemos sobre determinado conteúdo ou experiência. Isso vale tanto para o  conhecimento intelectual quanto do afetivo. A lembrança afetiva repercute de forma negativa ou positiva no presente. É a impressão da imagem de um evento, ou seja, é a leitura, interpretação ou significado que fazemos dele. A imagem afetiva não é real porque está impregnada de forte componente reativo. A imagem afetiva está sempre associada a uma emoção.

 

            Entre as memórias afetivas destacamos a ressentida, decorrente da postura de vitimização, ou seja, do apego à dor causada pelo acontecimento e pela mágoa daquele que supostamente a provocou. A memória traumática, que se formou porque não se permitiu a liberação do impacto traumático. As lembranças ruins sedimentadas, pela não aceitação de que coisas ruis acontecem. Aquelas vinculadas a algo ou alguém que se perdeu, por não aceitar a mutabilidade da vida. Todas se constituem pela fixação de uma reação negativa a uma situação. Há um apego mórbido à dor, que se torna prazer negativo. Aqui não se inclui situações de abuso e de perigo à sobrevivência, que muitas vezes é preciso ajuda profissional para curar-se.

 

Essas lembranças são trazidas ao presente por um gatilho, algo que provoca uma reação emocional semelhante à vivida, mesmo que o evento não seja semelhante. Pode ser uma palavra, uma ocorrência, um cheiro, uma música e muito mais. É preciso atenção a esse gatilho, porque ele dará dicas de como decodificamos a lembrança ruim.

 

Para se libertar das memórias afetivas é preciso que a pessoa busque a verdade dos fatos e a contribuição dela para o resultado. Há que sondar a intenção dela que mobilizou a ação, seja em forma de pensamento, atitude, ou palavra. Precisa revisitar o ocorrido com olhar distanciado emocionalmente. É a forma de ressignificar a lembrança e assim amenizar a carga emocional que a compõe. Alguns não conseguem fazer isso sozinho e precisam de ajuda profissional.

 

Enquanto sondamos e damos novo significado ao passado, é preciso construir boas lembranças. A saudade nutridora é aquela que traz lembranças boas de algo ou de alguém que já não se tem, de forma desapegada, com gratidão e revivendo na mente e no corpo os sentimentos e sensações boas daquela experiência. É saudade sem sofrimento. Essa preenche e  encoraja, por se saber que é possível voltar a ter experiências significativas e positivas.

 

Em relação a memória, é preciso ter em mente duas coisas: o passado não volta e não se repete. Assim como estamos sempre mudando, mesmo que não percebamos, os eventos que atraímos também não se repetem. Por essa razão precisamos voltar a atenção para o presente, para construir novas lembranças e para nos abrir a novas chances de momentos felizes.