De Volta para Casa - Virgínia Leal
De Volta para Casa
Virgínia Leal
Você já experimentou, por um momento, a sensação de bem estar, contentamento e clareza que lhe parece familiar? Você sabe por quê e para que isso acontece?
Todos nós, mesmo que não lembremos, em algum momento experimentamos uma sensação de bem estar, contentamento e clareza. É um estado de espírito que nos parece familiar, a sensação de estar em casa. Essa casa é o ambiente que abriga quem de verdade somos. Isso acontece para que tenhamos um lampejo do que nos espera e para nos encorajar a empreender a jornada de volta para onde nunca saímos, mas não lembramos disso. Acessamos momentaneamente esse espaço interno porque, de alguma forma neutralizamos o controle do ego, ainda que de forma semiconsciente.
A trajetória começa ao focarmos a atenção em nós mesmos. Temos a tendência de nos voltar para o externo, para o que acontece fora de nós. O foco nos tira da dispersão e das divagações da mente menor. Assim como na empresa do herói mitológico, acontece distrações que buscam nos tirar do caminho. Precisamos olhar para elas porque são obstáculos que criamos para não seguir adiante. São os mecanismos de defesa do ego para manter o domínio sobre nós. Por isso, ao foco deve ser acrescentada a visão periférica que revela o que está escondido da consciência.
É preciso acessar o universo interno da palavra. Aquilo que primeiro foi uma imagem, que é a linguagem do inconsciente, depois converteu-se numa ideia ainda não pensada, para afinal converter-se num pensamento e a elaboração dele resultará numa dedução, conclusão ou crença. Esse pensamento de fundo é invisível à mente desatenta. Para quem tomou a decisão de caminhar em direção a si mesmo, cada vez mais a percepção será ampliada e mais clareza terá de quem é.
Assim como o herói mitológico, recebemos o chamado da alma, que é a visão fugidia da casa interior. Quando sabemos para onde ir e há uma razão para seguir, somos tomados de coragem para enfrentar os percalços do caminho. Precisamos do atributo da humildade para nos despojarmos dos eus superficiais que criamos, para suportar o vazio momentâneo de quem somos, para aceitarmos nossa imperfeição e nos equipararmos aos demais. A aceitação da falibilidade abre caminho para a descoberta de nossas potencialidades e para nos apropriarmos dela num lugar de verdade, sem exageros nem diminuições.
A autodescoberta equivale à lapidação de um diamante bruto, à reforma de uma casa. Para se aplicar um novo revestimento sobre a parede, é preciso desbastá-la, remover o reboco solto e desprender o que reluta em sair. Esse processo só é doloroso se temermos o que vamos ver por debaixo dos escombros, o que é uma incoerência, porque só vamos encontrar a nós mesmos. Na verdade, não há nada desconhecido, o que somos, tanto de bom quanto de ruim, é revelado pelos nossos pensamentos, sentimentos, reações e atitudes.
À medida que desenvolvemos a capacidade de nos observarmos, mais vezes entraremos no estado de espírito que nos é inerente, mais acessaremos nossa casa interior, mais viveremos em coerência com nossa essência, mais agiremos em acordo com nossas aptidões. A auto observação é o caminho mais eficaz de expressar a autenticidade, de desenvolver a auto estima e o amor próprio. E ao aprendermos a nos amar, cumpriremos a vontade de Deus de “amar ao próximo como a si mesmo”.
Comentários
Postar um comentário