Vítima Carcereira - Virgínia Leal
A Vítima Carcereira
O sentimento de culpa te vitimiza, chamar a responsabilidade te empodera.
Daniel Ramirez
Muitas pessoas vivem a sofrer pela culpa não perdoada. É um equívoco manter-se nessa situação que não favorece o crescimento pessoal próprio nem da pessoa lesada. A primeira coisa que precisam entender é que culpa é um sentimento escravizador e paralisante. A culpa decorre da não aceitação da falibilidade própria do ser humano. Todos cometem erro. A culpa é confundida com remorso, que é o arrependimento do erro praticado, o reconhecimento do erro. Para que a culpa se converta em remorso, é preciso aceitar a imperfeição e que os desacertos fazem parte do aprendizado. Ao admitir a falha, o próximo passo é assumir a responsabilidade pelo dano causado e seguir em direção à sua reparação. A correção é mais fácil quando o dano é de ordem material. Mesmo assim, só é possível com o consentimento da pessoa prejudicada. Quando o prejuizo é de ordem emocional, decorrente, por exemplo, de traição e agressão entre outros, o concerto que seria a mudança de atitude junto à vitima só depende da chance que ela der. Em qualquer caso, não havendo perdão, nada há que se fazer em relação a ela.
Não perdoar é escolha da vítima, alimentar o ressentimento é decisão dela, não dar uma nova chance é seu direito. O que aquele que errou precisa estar atento é das manobras da vítima para mantê-lo refém da culpa, ou como forma de vingança, ou para tirar vantagem dele e até mesmo pelos dois motivos. A vítima carcereira é aquela que não perdoa, mas está sempre por perto, exibindo seu sofrimento e veladamente acusando a pessoa por sua infelicidade. De uma forma ou de outra ela está sempre lembrando do mal causado, alimentando assim a culpa de quem lhe vitimou. A vítima carcereira alimenta-se da vitimização e da cobrança sem fim à sua vítima. Ela escolhe não se libertar do passado e tentar manter o equivocado preso a seu erro, fazendo-o acreditar que é um malfeitor.
Para se libertar dessa situação é preciso perdoar-se, e para perdoar-se, é preciso se olhar com sinceridade, sem indulgência, mas também sem crítica condenatória. Verificar as circunstâncias, a motivação do ato, o nível de maturidade que tinha ao praticá-lo. Essa análise é importante para tornar consciente forças ocultas que interferem nas atitudes e evitar a repetição delas. É necessária também para que não se aceite a versão dos fatos da vítima que possam não corresponder à realidade. Ao se perdoar segue a compreensão de que toda punição tem um tempo para que seja legítima, e quando é permanente converte-se em vingança desmedida.
Nas relações que envolvem questões práticas, separa-se o erro de si próprio e da pessoa prejudicada, para que seja possível avalia-lo com objetividade. Uma vez constatado que o erro causou danos, cabe investigar a causa do erro para não repeti-lo. Em seguida tentar restaurar o que foi danificado. Se a pessoa prejudicada não aceitar reparação, o infrator se isenta de responsabilidade. Assim deveria ser nas questões afetivas. Há uma forma indireta de ajudar a vítima carcereira, nutrindo compaixão pela escolha dela em apegar-se à dor e ressentimento e orando pela sua cura. E manter-se de coração aberto para acolhê-la, acaso consiga sair desse quadro aflitivo.
Quando se comete um erro que causa dano afetivo, se atenta contra as leis divinas e é possível restaurar a ordem assumindo a responsabilidade pela transgressão, pagando o preço inclusive de não ser perdoado. Assumir a responsabilidade importa em mudar de atitude e buscar fazer o bem quando não for possível a reparação direta à vítima.
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