Amor solitário
O amor é solitário por ser personificado, ninguém ama
do mesmo jeito, com a mesma intensidade e tenacidade que outrem.
Não sei como sou amada, e muitas vezes quero ser amada da forma que amo,
e quando isso não acontece me frustro. Entre agradar alguém e ser útil, escolho
a última opção. Nem sempre vou agradar, ser útil é uma forma de amor.
Sou uma estranha íntima, uma alteridade desconhecida, composta de vários outros que me habitam. O amor começa e termina em mim.
Se grande parte do que sou me é desconhecida, conhecer o outro
é uma grande aventura, e nunca será completo o que consigo ver. Muitas vezes o que vejo no amado é apenas meu reflexo. Amar alguém não
é o mesmo que fazer alguém se sentir amado. Amar é verbo, exige ação.
Amo o outro na mesma medida em que me amo. Já tive comigo um relacionamento tóxico, não cuidei de mim, me sabotei.
Quando ajo assim me sinto culpada, e isso interfere negativamente
no meu convívio afetivo.
O amor é um processo aparentemente aleatório, sei como começa, mas não sei o rumo que tomará.
Tenho medo da dúvida, a indefinição me angustia. No entanto, se eu não tiver dúvidas não me questionarei e me contentarei com verdades rasas. Duvidar me tira das certezas engessadas e está a serviço do amor.
A falta decorre da incompletude, provoca em mim o vazio essencial desprovido
de significado e de sentido. Preciso estar vazia para ser preenchida de amor.
Se quero ser reconhecida por alguém, primeiro tenho que me reconhecer,
me validar, isso constitui o amor-próprio.
O amor tem suas facetas, seus desvios e desdobramentos, cada um tem
sua trajetória pessoal e única, ainda que encontre semelhanças. Por isso
ele é solitário.
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