Importância dos limites
I
Mamãe era extremamente cuidadosa com a casa em que morávamos. Além de mantê-la limpa, ela mesma a pintava, fazia pequenos reparos hidráulicos e elétricos, nunca deixava os consertos se acumularem e com frequência mudava os móveis de lugar. Assim, a energia da casa era sempre renovada.
Esse zelo foi herdado pelos seus filhos, que aprenderam a valorizar a importância de ter um teto que os abrigue, paredes que os proteja. É nos limites de onde habito que encontro aconchego e segurança.
O humano precisa de limites para se motivar a se expandir. Imagine que tipo de pessoa eu seria se meus pais não tivessem me dado limites, daria vazão aos maus instintos, ao egoísmo, seria inconsequente e viveria em constante risco.
Não é sem razão que o humano precisou viver contido em um corpo físico, com forma própria que o distingue dos demais.
O infinito é algo que ninguém consegue ainda lidar. Quando viajei de navio, me perturbou olhar para os quatro cantos e só ver água.
A configuração física não me deixa perdida num espaço sem fim, ao tempo em que tal formato não me impede de ir além, de acordo com minha capacidade de suportar tal amplificação.
A contenção me ajuda a lidar com o infinito que há em mim, explorar as possibilidades de ser, navegar nas águas de minhas emoções, dilatar memórias e o repertório de informações que assimilei.
A forma individualiza, determina, me ajuda a reconhecer o ser único que sou. Ao mesmo tempo se ajusta às necessidades da mente e do espírito, na medida em que o tempo requer aumento ou redução de espaço, ou de novo molde.
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