Inútil, sem perder o valor

  

Feliz daquele que, ao final da vida, ao ser olhado nos olhos e ouvir a fala que diz: você não serve para nada, mas não sei viver sem você.” Fábio de Melo @edy_chavess_oficial

 

Quando penso na utilidade de mamãe, lembro de dois momentos: quando ela costurou uma roupa para mim e quando ela me comprou um micro-ondas. Nos dois momentos eu não pedi, mas ela sabia do meu desejo de um e de minha necessidade de outro.

 

Mamãe não costumava dizer que me amava, mas revelava seu amor nos cuidados e no zelo. 

 

Quando ela começou a perder a lucidez, fui a primeira dos filhos a perceber e a primeira a sentir compaixão por ela. A partir daí eu a via como outra pessoa, não era mais a mãe que tinha utilidade, era a mãe que precisava de cuidados. 

 

Minha mãe agora aparenta ser totalmente inútil e totalmente dependente. 

Mas ela ainda tem utilidade, o de agregar os filhos em torno dela e com isso promover união entre eles.

 

Não a perdi de vista, ainda consigo ver em sua postura digna e em seus olhos o seu valor, ela ainda está lá.

 

Ainda que eu diga a mim mesma que estou pronta para sua partida, não sei como vou me sentir quando isso acontecer. 

 

Percebo que criei um certo distanciamento afetivo quando cuido, para não me apegar a ela, por saber que ela está entre dois mundos, mais para o que virá do que o de agora. 

 

Quanto mais inútil e desfuncional ela fica, mais reconheço e honro seu valor. Ela não sabe quem sou, mas eu sei quem ela é.

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