Extemporânea e anacrônica
Eu nunca estive sincronizada com o tempo em que vivo. Na juventude era nostálgica, não do passado, mas de um tempo que nem sei se vivi. Filmes épicos sempre me atraíram e me comoveram.
Tem horas que me sinto antiquada, ultrapassada, obsoleta, ainda que não seja nostálgica.
Até mesmo quando ouço uma piada, demoro a entender, e quando rio não tem mais nem graça.
Ao mesmo tempo, me sentia além do meu tempo. Quando alguém está falando, meu pensamento já avançou, interpretou, concluiu algo que ainda não foi dito.
Cheguei a pensar que não pertencia a esse mundo. Com frequência estou atrasada ou adiantada, em descompasso com o tempo que deveria estar.
Constantemente me sentia extemporânea ou anacrônica. Sonhava com um tempo em que tudo se harmonizava, em que todos se entendiam, onde não havia fome nem guerra.
Ainda hoje me sinto cada vez mais desconfortável com o tempo em que vivo. Não vivi a infância e a adolescência e sinto falta delas. A juventude me chegou extemporânea, em descompasso com minha cronologia biológica. Meu corpo não é capaz de acompanhar meus desejos juvenis.
Minha mente não acompanha as mudanças do tempo. Ela vive um tempo interno que não tem idade, e isso causa sofrimento.
Espero que, em algum momento, eu possa estar inteira nesse tempo e nesse lugar, mesmo que não consiga me situar nele. Viver como ensina Gilberto Gil:
“O melhor lugar do mundo é aqui e agora.”
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