Entre comum, normal e natural
De repente, olho para minhas mãos
e me pergunto quando foi que a velhice se instalou em mim. Envelhecer é comum a todos, é um processo natural, mas
a ninguém parece normal, ninguém
se acostuma com o desgaste do corpo, até porque não acontece o mesmo com
a mente e com o sistema emocional.
Recentemente li um artigo que diz que é aos setenta anos que a mente atinge
seu ápice. Na contramão
do envelhecimento físico, me sinto cada dia mais jovem, com gana de viver, com sonhos e anseios, nunca me senti tão viva e criativa. Cada dia renovo
o entusiasmo, me sinto mais sensível, mais receptiva à beleza da vida,
a pequenas alegrias, meu senso
de humor se torna mais apurado.
O envelhecimento físico é comum
e natural a todos, mas o descompasso com o vigor do espírito não acho normal.
A dor já não me pega pelas costas, pois tenho aprendido a olhar para ela
de frente, estou atenta à menor latejada ou fisgada, seja física ou emocional.
Já sei abraçá-la sem lhe dar colo.
Já percebo quando a associo com
o prazer e trabalho para separar o que é natural do que não é normal. A saudade não é mais dorida, ela é feita de alegria
e gratidão pelo que desfrutei. Esse é o processo natural do amadurecimento.
Percebo quando estou num looping comportamental e emocional e busco
o ponto de ruptura para sair dele.
Para isso, sondo o combinado que fiz com meu ego, quando dei a ele
o controle. Não é comum isso acontecer, mas deveria ser natural.
Quando necessito, ativo mecanismos
de cura, aciono engrenagens da mudança. Ao sentir que estou afundando
e penso que estou soterrada, questiono se estou não estou me aterrando, se não precisei virar semente e criar raízes. Sei que não é comum, mas a mim é natural.
Então, é justamente quando estou
no auge de meu vigor em todos
os aspectos que a morte se aproxima. Como pode uma parte minha entrar irreversivelmente em declínio quando outras estão em plena ascensão?
Pode até ser comum e natural, mas não
me convenço de que isso seja normal.
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