Variações do vazio
“ Subi alguns degraus até chegar na janela principal da casa, olhei para o céu e percebi uma sensação de vazio em mim, silêncio e disperso como se não fosse eu ali ... é como se a minha alma e o meu corpo não se conectassem de jeito nenhum ... Kim Nam-Joon
O vazio mora em meu estômago, um oco que não tem alimento que preencha. Esse vazio contrasta com o volume do meu corpo tão preenchido e espesso, talvez para compensar o vácuo que não deixa entrar conteúdo.
É como se me faltasse ar porque não inalo o bastante, ou porque exalo mais do que inalo. Talvez receie a plenitude a que tenho direito. O vazio me dá medo, e a plenitude também.
Quem sabe minha alma precise de espaço para se expandir, e a contenção se dá por falta de fluidez.
Talvez a função do estômago e do vazio seja receber o alimento que depois de digerido não ficará lá.
Pode ser que o vazio seja como o tempo, um receptáculo por onde transita as experiências com destinos diferentes, umas são absorvidas, outras excretadas.
Penso que ele se equipara à memória que a cada espaço preenchido, mais espaço cria para receber o novo.
Tem horas que o vazio é um iceberg totalmente imerso que congela tudo que sinto e penso. Outras aparenta ser o infinito do horizonte que se distancia toda vez que me aproximo. Ou se junta com o vazio cósmico e me deixa à deriva.
Às vezes me confundo com o vazio, me sinto fora do corpo, um eclipse do farol que deixa de me guiar, um nada e ao mesmo tempo tudo.
O certo é que tem horas que o vazio me deixa invisível e tem horas que ele me preenche. Em um instante não me sinto em mim, nem em lugar nenhum. Em outro saio juntando todas que sou, dando forma à falta.
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