Perfeitamente Imperfeito - Virgínia Leal
Há quem se desaponte com o companheiro, o familiar, o amigo, alguém notável, pelo que ele fez. A pessoa sente-se enganada porque o tinha em alta conta. O que ela não percebe é que foi ela que o colocou num patamar de perfeição onde não há margem de erro. Colocar a pessoa nesse lugar é torná-la desumana. A falha é inerente ao ser humano. Faz parte do aprendizado em qualquer nível ou esfera de conhecimento e desenvolvimento pessoal. Vivemos no mundo de dualidade, onde percebemos a vida e a nós mesmos através dos contrastes. A noite revela o dia, o mal é ausência do bem, o acerto se aprende com o erro. A consciência não consegue estar permanentemente atenta a ponto de evitar uma conduta intempestiva, inadequada, impensada, insensata ou desajustada. Por receio de desaprovação, há quem coloque uma máscara de perfeição e finge ter virtudes que acredita serem necessárias para obter admiração. Não percebe que a máscara não a blinda e os atos falhos acabam por revelá-la.
A pessoa intolerante primeiramente o é para com sua própria imperfeição e por isso não aceita a falibilidade alheia. O erro não define quem somos porque somos muito mais que ele. É preciso reprovar a atitude que gerou o desacerto e não a pessoa. Não se pode reduzir alguém ao equívoco que praticou porque ele, assim como qualquer um, também acerta. É preciso considerar a vida preguessa daquele que está sendo condenado, para deduzir tratar-se de um fato isolado ou uma tendência que se repete desgovernadamente. Aquele que permanece obstinadamente no erro não pode ter o mesmo tratamento de quem o reconhece, se arrepende e parte para a reparação. Pois o primeiro está mais suscetível a reincidir na conduta danosa.
É comum as pessoas autênticas e espontâneas receberem críticas e serem induzidas a se “encaixar” no modelo idealizado. Elas assustam, porque revelam o que o outro tenta, a todo custo, esconder. A integridade é a capacidade de se conhecer e de se acolher por inteiro, tanto nas qualidades quanto nos defeitos. Isso não quer dizer usar de complacência ou indulgência com sua ignorância. É preciso torná-la consciente, estudá-la e evitar agir a partir dela. Seguir a máxima que diz “conhecereis a verdade e ela vos libertará. “
Quem age em coerência com aquilo que é honra sua humanidade, torna-se uma pessoa livre e digna, e converte-se em alguém perfeitamente imperfeita. Assim como deve ser.
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