Desvelar-se - Virgínia Leal
Para sairmos da condição ilusória de perfeição e vivermos a realidade de quem somos é preciso iniciar a jornada de autodescoberta. A autodescoberta é um processo de desvelar-se, de tirar o véu que encobre o nosso ser. A primeira etapa desse processo é admitir que o eu que interage com as pessoas e com o mundo é um personagem criado para ter ganhos. O segundo passo é observar os pensamentos de fundo e as reações que nos acometem a determinados eventos, em forma de um padrão. Esses pensamentos revelam um aspecto real e desconhecido. As reações nos apontam para crenças que limitam o nosso campo de visão sobre a realidade. Nosso eu real está coberto por várias camadas que precisam ser atravessadas. São defesas para ocultar o aspecto sombrio que há em cada um de nós. A defesa é um mecanismo contra a verdade. Ela tenta esconder a negatividade, a intencionalidade negativa, os defeitos básicos como orgulho, voluntarismo e medo. Então é criada uma imagem oposta ao conceito que temos de nós mesmos. Uma auto-imagem idealizada que ostentamos para esconder a autodepreciação.
Com o tempo, passamos a acreditar que somos esse personagem criado, a ponto de não reconhecermos aspectos negativos que emergem em movimentos involuntários, porque estamos identificados com essa máscara de perfeição. É comum, ao nos justificar, dizermos: “eu não sou assim” ou “essa pessoa não sou eu”. Essa pessoa que se revela também somos nós. Não a reconhecemos porque a ignoramos. Os atos falhos são pistas da verdade que tentamos esconder.
Outra pista sobre quem somos é a projeção que fazemos de nossos defeitos nos outros. Ainda que o outro tenha esse mesmo defeito, só o identificamos porque o temos. E ao criticar e não aceitar o defeito do outro é porque sequer admitimos que o possuímos.
É preciso coragem para nos confrontar. É difícil e até doloroso porque queremos ser perfeitos agora. Não aceitamos nossa falibilidade. Quando entendermos e aceitarmos que o ser humano é imperfeito e que nossa tarefa é apenas buscar a perfectibilidade, ou seja, o aprimoramento, e não a perfeição que não está ao nosso alcance, o processo de autodescoberta será mais suave e ameno.
Ao nos confrontar teremos uma bela surpresa, descobriremos que não somos só sombras, saberemos que somos essencialmente luz. Perceberemos que temos defeitos e qualidades, assim como qualquer um. Constataremos que temos um potencial a ser explorado e desenvolvido e que há um vasto campo de possibilidades disponíveis para nossa felicidade.
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