Lua - Lúcio Ferreira (do livro Contadora de Estrelas)

 


                                

            A espera é um gesto em minhas noites. Lento. Aparente. Uma valsa de luar. Um canto de cisne dentro da lua. Lua primordial, que antecedeu o chegar do sol e limpou seus espelhos. Agrimensora das nuvens. A que traz o céu para lavar as almas e os naufrágios.

 

            Há sempre um satélite, perambulando no grande revezo. Pedaços de neve nas pastagens meridionais. Chocalho no sono. Lince e espera nas gargantilhas da madrugada. Depois a voz do silêncio e seu azul genuflexo – que nunca se vê, senão ao pé do que fica e reza antigos esquecimentos. E logo em seguida, o que era espaço e se agasalhou no píer escuro do porvir.

 

            As eras se apagaram. Permaneceram o instante da criação e a imaginação prenhe de possibilidades. Abriram-se as tramelas do ser e jorraram-se trilhas incandescentes – uma procissão de noivas sem véu, descendo o altar, cabisbaixas. E agora tudo se perde entre o que seria eco e espera. E se faz lua sem nuvem, só para mim.

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