Política ideológica
“Não existe imparcialidade. Todos são orientados por uma base ideológica. A questão é: sua base ideológica é inclusiva ou excludente?” Paulo Freire
Há uma teoria de que a política é uma forma de ideologia. Segundo essa teoria, ideologia é a intervenção eficaz na realidade social, a partir de uma ideia baseada no conhecimento de seus conflitos, visando transformar essa realidade. Dessa forma, tanto os conceitos de ideologia como de visão de mundo quanto de ideia falsa estão inseridos nessa teoria. A ideologia é capaz de transformar a realidade de forma positiva ou negativa.
A política, portanto, tanto pode ser uma intervenção transformadora da realidade social visando o domínio de uma categoria sobre a outra, quanto meio de transformação da visão de mundo, tendo por função a resolução de conflitos.
Hoje a classe deu lugar à categoria, porque a equação de classes sociais, como burguesia versus proletariado, cada vez mais deixa de fazer sentido. Primeiro, porque o indivíduo não consegue mais se identificar com sua própria classe e confunde ascensão social e financeira com mudança de classe. Segundo, porque tem acontecido o enfraquecimento da força de trabalho com o avanço da tecnologia e a perda de direitos trabalhistas. Terceiro, porque a classe burguesa deu lugar a uma categoria anônima de poder representada pelo mercado. Agora, a equação não envolve pessoas e sim a divisão entre mercado e consumo.
É nessa esteira de pensamento que os conflitos sociais acontecem, de um lado os interesses do mercado, de outro os interesses dos consumidores, estes na condição de sujeitos e objetos de consumo.
Nesse sentido, há muito, a política deixou de cumprir sua função social transformadora e os políticos passaram a operar na manutenção do status quo ou estado atual. Salvo honrosas exceções, não há exercício político e sim politicismo ou práticas de negociatas. Quando muito, são discursos exortativos que clamam por transformação, caracterizados por mera intenção de vontade, sem implementação ou eficácia. Muitos desses discursos são demagogos, feitos por líderes populistas, explorando a ignorância das massas, visando exclusivamente a adesão de votos. Os políticos, em sua maioria, ainda que sejam conscientes dos principais conflitos sociais, não estão interessados em resolvê-los. Preferem usar da força coercitiva do direito, através de sua atividade legislativa, para coibir e punir. Toda essa estrutura e atuação tem bases ideológicas excludentes.
Enquanto o exercício da política não operar na consciência da real condição de cada indivíduo, o político não promover uma sociabilidade satisfatória e não for um agente de resolução eficaz de conflitos, a sociedade continuará a presenciar atritos, desordem, violência de toda ordem e insatisfação generalizada do cidadão.
Como diz Paulo Freire, todas as pessoas são orientadas ideologicamente, quer tenham consciência disso ou não. O que é preciso observar é se a ideologia assimilada é inclusiva ou excludente. Na política, o que se vê é uma polarização excludente. De um lado, o mercado quer liberdade de atuação, mas não respeita as necessidades e direitos dos consumidores. De outro lado, os consumidores, ao reivindicar a intervenção do Estado em seu favor, resiste em elaborar considerações e fazer concessões sobre fatores indispensáveis à sobrevivência do sistema onde está inserido.
A democracia eficaz é aquela em que cada membro da sociedade é consciente de seus direitos e obrigações e é capaz de identificar, distinguir as necessidades e interesses sociais das pessoais, e agir de forma a equilibrar esses dois âmbitos. E principalmente é aquela em que os agentes políticos operam subjetivamente para obterem resultados objetivos favoráveis, tanto na construção da sociabilidade quanto da sustentabilidade do sistema social e econômico.
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