Ideologia de gênero - Virgínia Leal




Para falar sobre ideologia de gênero, necessário trazer as noções de identidade, subjetividade, sexo, gênero e orientação sexual. Identidade é o perfil, o modo de ser de um indivíduo. Já a subjetividade é a forma como ele vê o mundo e a si mesmo. 


Sexo é a distinção anatômica e biológica entre o homem e a mulher. Diz respeito às genitálias e aparelho reprodutor. Gênero é a dimensão social e cultural, o papel a ser desempenhado de acordo com o sexo. Já a orientação sexual tem a ver com a prática erótica, a escolha de relações afetivas e do objeto de desejo. É pela sexualidade que se define a orientação heterossexual ou homossexual. Há, ainda outras formas de sexualidade. 


Atualmente, as ciências sociais entendem que gênero é produto do contexto social e histórico e não resultado da anatomia. É um aprendizado sócio-cultural prescrito para cada sexo.  Esse aprendizado é heteronormativo. Nessa linha de pensamento, identidade de gênero é a experiência subjetiva a respeito de si mesmo e das relações com os outros gêneros. 


De acordo com a cultura ocidental, influenciada fortemente pelo cristianismo, a identidade de gênero tem características e papeis previamente determinados para o homem e para a mulher. Para essa noção binária, a constituição biológica determina o gênero ou a conduta esperada, não apenas em relação à sexualidade, bem como em relação a sua atuação performática. 


A teoria de gênero tem duas vertentes, ambas mal interpretadas. A primeira tem por base o determinismo do gênero binário a partir do sexo feminino e masculino e da heterossexualidade.  E a segunda decorre do desvio desse padrão normativo, expresso em diversidades de formas independentes da orientação sexual.


Essas teorias converteram-se em ideologia quando passaram a ser uma prática política voltada a atender interesses de uma categoria social. De um lado, a intolerância do fundamentalismo religioso à diversidade de gênero, de outro a defesa da hegemonia patriarcal que propaga o preconceito e discriminação de quem não é afeito ao modelo normativo. Com o intuito de obter adesões, essas vertentes ideológicas propagam inverdades, associando aquele que não se enquadra ao padrão a práticas imorais, pervertidas e bizarras, a exemplo de pedofilia, zoofilia e estupro. E afirmam que levar à escola a educação sexual e de gênero induz a criança à homossexualidade. 


Essa nova abordagem que acolhe outros gêneros além do feminino e masculino  é fruto da luta das mulheres pela emancipação dos padrões normativos. O modelo feminino socialmente imposto já sofreu muitas mudanças, como a conquista do direito ao voto, ao mercado de trabalho, ao controle da gravidez, à igualdade de salário, a profissões, ocupações e papeis sociais que antes eram proibidos às mulheres. A mulher hoje tem liberdade para construir sua identidade pessoalizara , sem precisar corresponder às expectativas sociais. Os homossexuais, por sua vez, conquistaram o direito de serem tratados como pessoas normais e não como um desvio mental patológico. 


O que a teoria de gênero reivindica é que haja liberdade na escolha de papeis sociais, de parcerias afetivas, da aparência, ou performance e de orientação sexual, para qualquer sexo. 


O que essas pessoas querem é o direito a viver a singularidade de sua individualidade de gênero. Elas lutam para serem tratadas com respeito e tolerância, nas diversas  formas de expressão de gênero e de sexualidade.  Há muito ainda que se fazer num país que é recordista em violência preconceituosa aos homossexuais e outros gêneros afins. Façamos a nossa parte.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Amante imaginário

Falando de amor