O Predador Mental - Virgínia Leal


 

O Predador Mental

Virgínia Leal

 

            Quem não já foi vítima de alguém que sistematicamente lhe desqualifica? Na infância, na escola, na adolescência, no trabalho. Ainda que esse tipo de atuação cause danos significativos, há um tipo de predador mental mais sofisticado, inteligente e perverso, que usa uma técnica de manipulação própria para que a vítima duvide de si e de suas percepções, chegando a pensar que está louca. Esse método patológico é chamado de gaslighting.

 

            O predador mental é frio e calculista e tem um foco: desestabilizar emocionalmente a vítima para tê-la sob seu controle. Ele age sistematicamente para confundir. Sua forma de atuação é planejada minuciosamente a partir da observação aguçada dos pontos vulneráveis do seu alvo de ataque. Começa de forma insidiosa e sutil, em pequenas coisas e à medida que obtém resultados, vai evoluindo o seu método de tortura. A subjugação da vítima chega ao ponto dela própria não acreditar no que está à sua frente, tão grande é a capacidade de persuasão do molestador. A segurança com que ele nega a realidade, acompanhada de uma atitude de superioridade favorece a dúvida.

 

            Simultaneamente ao processo de confundir a vítima, ele faz uma campanha de desqualificação dela, que vai desde a aparência, inteligência, ideias e modo de ser, à própria personalidade e caráter. Quanto mais o predador expressa insatisfação e culpa a vítima pela infelicidade dele, mais ela se empenha em agradá-lo, mas o que ela faz para ele nunca é suficiente.

 

            O predador tem uma capa de pessoa de bem, é benquisto, admirado e aprovado pelas pessoas em seu entorno. Consegue inverter a situação a seu favor através de uma cruzada de demonizar a vítima, colocando-se no lugar dela. Age em público de forma provocativa para desestabilizá-la e assim comprovar aos outros o retrato dantesco que faz dela. Por não ter o apoio das pessoas, muitas vezes até mesmo da própria família, a vítima receia desaprovação e rejeição dos outros a qualquer crítica ou atitude de rebelião que tenha em relação ao abusador.  Isso faz com que ela passe a tratar as ações do predador de forma natural e até se aliar a ele. Com o tempo, ela pode chegar a ter uma relação aparentemente saudável com ele, mesmo após a separação, para que não precise se isolar do ambiente social e familiar comum. A vítima do predador é uma pessoa fragmentada e destruída. Torna-se insensível às suas próprias necessidades e às necessidades dos outros e acaba, sem perceber, por ter atitudes igualmente abusivas.

 

Pessoas que convivem com predadores mentais sofrem de baixa autoestima, são deprimidas, confusas, têm lembranças turvas e misturadas e sentem culpa e vergonha de si. Tornam o predador o centro de sua vida, chegando a negligenciar outras áreas pessoais e falham no desempenho de papeis de mãe e de profissional, o que aumenta a menos valia, num interminável ciclo vicioso. Sentem-se insuficientes e inadequadas. Muitas perderam a força para reagir e sair do julgo. Precisam de ajuda profissional para se reconstruírem e se fortalecerem. Necessitam de alguém que a valide como pessoa e confirme suas percepções, que diga que o que ela vê é real, que elas não são aquilo que o predador diz que são, que elas não têm culpa e que elas estão sendo vítimas de uma relação abusiva.

 

           

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