Revelação
“Você nunca vai ser feliz amando quem não existe” “Te amo só um pouquinho” – seriado
Nunca ouvi algo nada mais revelador do que essa frase. Ela descreve com precisão o estado de paixão, a gente ama quem não existe. A ilusão da paixão não dura muito, então vem a frustração.
Eu descobri que minha ilusão vai mais além. Uma vez uma amiga me disse: “você vive se cuidando, não sei para quem você se guarda”. Verdade, eu cuidava da minha aparência com zelo, mesmo quando casada, e não era para mim mesma, como alguns dizem.
O homem que eu ia amar ainda não tinha chegado, mesmo eu atravessando três casamentos. Era alguém que nem mesmo sei que atributos deveria ter, o meu “tipo ideal”.
Agora que estou só há muito tempo, essa figura surgiu em minha mente com força. É certo que não quero quem tenha os mesmos defeitos de meus ex. Mas não se trata disso. Eu criei alguém irreal.
Alguém que irá me salvar de mim, de meu temperamento irascível. Que me ensinará a ser suave e gentil.
Na adolescência pensei ter encontrado esse salvador, o príncipe que iria me resgatar da torre que eu mesma criei. Ao constatar que não, desistir de transferir para uma pessoa essa figura imaginária.
Nesse mesmo seriado, outro personagem chegou à conclusão de que é melhor se casar quando se desiste do futuro. Em uma relação, o futuro inclui atender às expectativas, tentar mudar o parceiro.
De repente, o castelo de areia ruiu e eu fiquei sem chão. Percebi que amar alguém que não existe é inviabilizar qualquer amor possível, é se alimentar de fantasia.
Não sei o que a vida me reserva, até mesmo já havia soltado o desejo de ter um parceiro, só não tinha me dado conta que criei um substituto que certamente não me decepcionaria, uma imagem fantasmagórica.
Certamente constatar tudo isso me deixou num grande vazio, à beira de um abismo sem fundo. Mas é preciso fazer essa travessia para começar a viver de fato.
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