Não fuja da dor

  

“ Recalcar o que é indigesto não apaga a dor, apenas a transforma em veneno.” Vinicius Pereira 

 

Quando meu pai morreu, tentei fugir da dor da perda. Fui para um lugar interno já conhecido, onde me distancio emocionalmente.

 

Achei que estava bem, segui com minha vida, pensei que estava segura.

 

Na missa de sétimo dia inesperadamente desatei a chorar, um choro convulsivo, abundante e libertador. Ninguém entendeu minha reação. 

 

Outra vez, me senti encurralada, sem saída sem saber por quê. Cheguei até a pensar em tirar minha vida, tão insuportável era o que sentia. Enquanto esperava ser atendida pelo psiquiatra, chegou à memória o que me fez sentir assim e todo mal-estar passou, me senti aliviada. 

 

A dor é como um bumerangue, quando você a joga para longe, ela lhe atinge pelas costas. Fugir dela só adia e aumenta o sofrimento. 

 

Tudo que é reprimido, uma hora consegue romper a barreira e surge com força multiplicada. 

 

Freud disse: “a fuga é o instrumento mais seguro para se cair prisioneiro do que se deseja evitar”.

 

Não adianta tentar anestesiar a dor emocional, não há como evitá-la.

Ela sempre encontrará uma válvula de escape. Deixa doer que passa. 

 

Quando não é liberada voluntariamente, toda vez que algo parecido acontece, há uma reação desproporcional e inadequada. 

 

A memória emocional da dor reprimida na infância atemoriza porque lá, de fato, era insuportável para um ser ainda em formação. O adulto já está fortalecido o suficiente para senti-la e soltá-la.

 

Fugir nos desconecta da realidade e a alienação cobra um preço alto.

 

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