Desejo de ser infeliz

  

“A ideia que um bebê tem de felicidade é a satisfação instantânea de todos os seus desejos, exatamente como ele quer... Um resquício dessa expectativa infantil perdura em todos os seres humanos pelo resto da vida.” Criando união – Eva Pierrakos – Judith Saly

 

Parece um absurdo a ideia de que alguém deseje ser infeliz. No entanto, às vezes me percebo assim. 

 

Quem é voluntariosa como eu tem dificuldade em aceitar que as coisas possam ser diferentes do que quero, é comum sentir frustração e ficar irritada.

 

Quando eu era jovem e desejava algo, pensava comigo mesma: é tudo ou nada, ou seja, se não for do meu jeito, não quero. 

 

Foi o tempo em que eu reagia pela vitimização. A vida, o mundo, as pessoas me tiravam o direito de ser feliz, a culpa era deles.

 

A vitimização é um tipo de prazer negativo, ou seja, prazer em ser infeliz. 

Há ganhos negativos na vitimização: ter a atenção desejada,  conseguir instigar culpa no suposto causador de seu sofrimento, e com isso receber dele reparação. 

 

Na verdade, o desejo de ser infeliz é a tentativa de ter uma felicidade deturpada, já que não é possível eu ter domínio absoluto. 

 

A vítima provoca as pessoas para desencadear episódios infelizes. Ainda que tenha havido erro, ela é uma eterna cobradora que mantem o suposto vitimizador como refém.

 

Também já desfrutei de prazer negativo ao não me responsabilizar por conquistar o que queria por pura covardia, ou medo do fracasso. Alardeava o quanto não tinha chance na vida, que nada dava certo comigo. 

 

Agora, quando me sinto infeliz, busco a real razão de me sentir assim, normalmente encoberta por motivos superficiais e falsos. 

 

Já aceito que não tenho o poder sobre a vida das pessoas, e que nem sempre vou conseguir o que quero. 

 

Aceito até que não sei o que é bom para mim e que não ter o que desejo pode ser uma bênção. 

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