Sou uma sobrevivente

 

 

“Nunca diga eu não posso, porque eu posso tudo naquele que me fortalece” como_ter_relacionamentos

 

Eu era uma criança introvertida, não interagia com meus irmãos nem com os colegas de classe. O meu mundo era de fantasia, das fotonovelas. 

 

Gostava de observar os fios d’água se formando pela chuva, os caminhos que fazia. Subia no muro para ver os carros passando. 

 

Mesmo sem conversar, sem falar nada com ninguém, dava um jeito de ser convidada para as brincadeiras: bola de gude, ferrão, jogo das pedrinhas. 

 

No dia a dia minha cabeça não estava presente, só focava no que gostava, não sabia o que acontecia em meu entorno. 

 

Por algum tempo, tive curiosidade nas coisas que os adultos falavam, não sei se entendia, provavelmente não, porque não lembro de uma só palavra. 

 

O que me salvou foi a música, gostava de ouvir e dançar. Brincava sozinha, juntava cacos de louça para fazer os personagens, criava uma família que conversava entre si, até que mamãe ouviu uma delas em que eu diziam: cadê seu pai? Morreu ... Mamãe me bateu porque eu tinha matado meu pai ...

 

Por ser distraída, tinha dificuldade de entender as aulas, o que me fazia dedicar um esforço para entender o conteúdo dos livros escolares. Apesar disso, tinha boas notas, só fiquei em recuperação uma vez.

 

Até hoje, tenho dificuldade de entender piadas, fui e sou alvo de chacota porque quando eu entendia e ria, a conversa já tinha mudado de rumo. Talvez por isso eu acho graça do que é bobo. 

 

A minha imaginação era abundante, o que me levava a divagar, e quando voltava ao presente, já tinha perdido muito da conversa e não conseguia acompanhá-la mais. Até hoje sou assim, só que menos.

 

Me achava estranha, diferente dos outros, e isso me fazia ficar cada vez mais introvertida.

 

Se nessa fase da minha vida alguém tivesse me observado e visse como eu destoava do normal, quem sabe eu teria a atravessado melhor, o que teria me ajudado a construir a autoestima. 

 

Já idosa, descobri que o que eu tinha não era uma anomalia, era uma forma diferente de funcionamento do cérebro, eu tenho TDAH. 

 

Apesar de toda dificuldade que enfrentei,  fui capaz de me formar, de desempenhar uma profissão.

 

Quem mais sofreu por não saber quem eu era foi a família, mais particularmente meus filhos. Adotei o modelo que conheci de meus pais, ficando distante deles.

 

Agora que sei quem sou e como funciono, aprendi alguns hábitos e procedimentos que me ajudam a ter funcionalidade. Desde cedo fui e sou organizada e metódica, assim, me dificulta perder as coisas. 

 

Ainda tenho muita dificuldade em cumprir compromissos, mesmo os agendando. Se eu não fizer na hora em que o alarme dispara, ele sai completamente da minha mente.

 

Consegui sobreviver porque “tudo posso Naquele que me fortalece.”

 

 

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