A outra em mim
Lembro que minha mãe me vestia com lindos vestidos feitos por ela mesma, e me recomendava ficar sentada, quieta, para não me sujar, nem o amassar. Eu era elogiada por “não dar trabalho”. Cedo aprendi que beleza tem um preço, o de ser presa de predadores. Desiludida por não ter sido protegida, entrei na rebeldia, que só me causou estragos. Já adulta, passei a ser irascível, geniosa. Por algum tempo esse temperamento me afastou do perigo, mas não afastou a ameaça que eu era contra mim. Eu amansava quando era desejada, por um tempo cedia à vontade do suposto salvador, que era um lobo em pele de cordeiro. Há quem me veja como uma mulher independente, bem resolvida, que sabe o que quer. E ela existe mesmo. Mas tem uma outra em mim que ainda espera alguém que me salve de mim, do meu temperamento, que me amanse, que me ensine a ser suave. Esse eu imaturo dificulta que eu tome iniciativa para que eu mesma dome essa fera que há em mim,...