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Mostrando postagens de outubro, 2025

Questão de sobrevivência

  “Eu nasci para escrever, palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. Não sei por que foi essa que eu segui. Talvez porque as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto para escrever, o aprendizado é a própria vida.” Clarice Lispector    Ao contrário de Clarice Lispector, demorei demais para encontrar minha vocação. Andei perdida na vida porque não sabia amar, por não saber quem eu era, sem notar dos desvios que fiz do meu caminho.   Concordo com ela quando diz que o aprendizado para escrever é a própria vida. Não fora assim, não teria matéria prima para meus textos.   Pensando melhor, precisei de todo esse tempo para armazenar em mim conhecimentos que só as experiências de vida poderiam me dar.   Quando comecei a escrever, as palavras vinham como uma represa que rompia, nada nem ninguém poderia contê-las.   Agora a escrita é serena, não...

Quando quebrarei o som do silêncio?

“O amanhã não aceita os erros de hoje.” Alex Warren Recomendo um seriado que estou assistindo: “Zoey e sua fantástica play list.” As pessoas cantam para a protagonista suas dores e sofrimentos, canções que só ela escuta, e até mesmo quem canta não se dá conta desse fenômeno. Ela era insensível à dor alheia e à sua própria. Depois de várias vezes em que isso aconteceu, ela deduziu que essa foi a forma que ela encontrou para desenvolver empatia e tentar ajudar as pessoas. Mas na verdade era um grito de socorro de sua alma que, diante da sua rigidez, precisou fazer esse caminho, até ela cantar suas próprias dores. Ela conseguiu quebrar a barreira do silêncio autoimposta, e não conseguia mais conter conteúdos que precisavam emergir para serem curados. Trazendo essa história para mim e refletindo sobre o meu próprio som do silêncio, percebi como ele abafa a voz que preciso ouvir. Talvez por isso eu tenha desenvolvido uma ansiedade insuportável, que nada mais é do que o medo de ouvir essa v...

Todo caminho leva a Deus

    Conheci a filosofia do Pathwork através de minha terapeuta. Ela achou que eu deveria dar mais um passo em direção a mim mesma através da terapia de grupo.   Depois de algum tempo aprendendo e vivendo o “Trabalho do caminho”, era hora de retribuir a ajuda que recebi, servindo à coletividade.   Foi um período nebuloso e angustiante porque eu não conseguia me encaixar nas opções que o Pathwork oferecia como facilitadora de grupo, helper ou palestrante.   Minha orientadora dizia que eu precisava recuperar meu fator atrator para que  chegasse quem se beneficiaria com a minha forma peculiar de ser.   Em minhas reflexões descobri que meu fator atrator era a sensualidade, mas ela não era útil como ferramenta para meu propósito de vida.   Até hoje não encontrei um substituto para  a sedução, um fator que seja honesto e autêntico, que venha do coração.   Para não me sentir inútil, encontrei na escrita uma ferramenta de reflexão auto ...

Salto no escuro

    “ Fé é assim: primeiro você coloca o pé,   depois Deus coloca o chão. ”   Fé é a semente que se planta, sem saber o que dela vai brotar, sem saber sequer se vai brotar ou se dará os frutos desejados.   É o investimento que, mesmo que não tenha êxito, o sucesso é garantido pelo simples fato de arriscar.    Não é só decisão e vontade que determinam o resultado, é a qualidade da intenção posta em movimento e quanto de confiança se tem na Providência Divina.   A fé é um salto no escuro, confiante de que, mesmo que se esborrache no chão, algo de bom resultará disso.    É quando a aceitação do que acontecer  vem do coração, mesmo que não se entenda por que e para quê. 

A outra metade

  “Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário sermos um.” Autor desconhecido   Meu primeiro amor era um príncipe, com suas roupas customizadas e tocando harpa. Me tratava como uma princesa, comprova flores, me dava presentes, cantava para mim.  Um dia o encanto se quebrou, fiquei diante de um homem comum.    Nunca mais apareceu alguém que eu pudesse chamar de minha outra metade. Nem por isso deixei de equivocadamente procurar o que me faltava em meus parceiros.   Faz tempo que estou só, tomando consciência de como eu era distante de mim, atravessando dores que nem sabia que tinha. Estou juntando meus pedaços perdidos na ilusão.   Não sei se conseguirei estar inteira nessa vida, mas não deixo de tentar. Estou cuidando bem de mim.

Fuga

 A fuga  “Quando Freud diz que  fugir é o instrumento mais seguro para se cair prisioneiro daquilo que se deseja evitar, ele nos ensina que não há para onde fugir.” Laura Brito Fujo, de quê? Quase sempre é de mim mesma. Às vezes fujo da vida por medo da morte. Fujo das experiências para não sentir.  Por quê? Porque não sustento minha própria presença, por medo de mim. Porque desde sempre fujo sem razão, sem motivo.  Para quê? Para não me encarar, não me confrontar, para fugir da angústia e da ansiedade.  Para onde? Fujo sem destino, para um esconderijo fora de mim, procuro um lugar onde me sinta segura e protegida não sei de quê.  A fuga é um hábito arraigado, às vezes tão sutil, que nem a percebo acontecendo. É um bumerangue que jogo para longe e ele volta para mim. É como um moinho que uso para moer a vida, para ela ser mais fácil de mastigar, no entanto só me sobra bagaço.  Um moinho que só irá parar de girar quando eu me mover adiante, sem olh...

Força estranha

    “Quando a gente tenta algo novo, quase sempre a gente é desafiado por uma força estranha, silenciosa, que puxa a gente de volta para o lugar de onde viemos.”   A mente está acostumada com  segurança e estabilidade, não gosta de mudanças.    No entanto, há uma força contrária e mais forte que a resistência: a persistência. Ela supera todas as armadilhas e manipulações da mente.   A mente aciona o medo, a dúvida, a acomodação, mas a persistência não se deixa enganar e segue mesmo com medo, com dúvida, mesmo não querendo ir.   Para mudar é preciso implantar na mente uma nova programação, uma nova crença de que se mover é seguro.   Chega o momento em que a persistência  vence a resistência, sem usar de qualquer artifício, apenas deixando que o processo de mudança aconteça.    Aí aquela voz insidiosa que tentava demover a persistência se emudece, e a mudança se instala sem que a resistência nem perceba. 

Qual sua estratégia para lidar com a vida

“Às vezes o recado de Deus é: “Se eu tivesse te deixado confortável, você nunca teria se mexido.” Dailton_rolim   Eu tinha uma percepção equivocada sobre a vida. No meu autocentrismo achava que ela precisava fazer minhas vontades, me proporcionar conforto e segurança, fazer tudo por mim.    Com o tempo descobri que a vida segue seu curso, mesmo que eu esteja sofrendo, contrariada e insatisfeita com ela.   A vida é o instrumento que Deus usa para aprendermos e evoluirmos. Ela não está à nossa disposição, nem nos promete conforto e facilidade.   Quem não segue seu fluxo, quem fica estagnado, quem se recusa a aceitar sua natureza, ela cria situações que nos obriga a nos mover.    Para mim a melhor forma de lidar com ela é tentar entender seus mecanismos, seguir o seu curso, aceitar o que ela me oferece, mesmo que não entenda seu propósito.  Quanto mais me movo obedecendo sua direção, mais vitalidade me é oferecida.      

Disrupção

    “Nem todo sofrimento, nem toda crise é uma destruição... às vezes o que a gente está passando é uma disrupção.” meditar.com.vc   Quem é mãe sabe o que é a dor do parto. Alguém cresce dentro dela até não caber mais e precisar romper a bolsa que o contém. O trabalho de parto é o movimento de expulsão do feto, para que ele possa se expandir.   Assim é a vida. Tem momentos em que cresço tanto que não me encaixo mais em mim, a crise é o preparo para o novo eu.    A mãe natureza inicia o processo de parto, me expulsa da zona de conforto. Dói, porque o ponto de ruptura é estreito e tenho que forçar passagem. Preciso aceitar o risco do novo e me aventurar.   Como um feto, me assusto com esse mundo novo e estranho. O lugar que antes era aconchegante agora me sufoca, preciso respirar.    Ao sair do casulo, entro no vácuo, no nada, até ir me adaptando à nova realidade.    Enquanto viva estiver, haverá outras disrupções à medida em que for ...

É possível se preparar para a morte?

    “Compreender a finitude da vida te coloca na urgência de viver.” Denise Fraga   Quando eu era jovem, a morte parecia distante, era algo que poderia acontecer com os outros, comigo não.   Depois, a vida engoliu a morte. Ela é esquecida pela lida, pelo trabalho, pela família, pelos projetos. Achava que vivia, mas era morte em vida.   Agora na fase madura, a morte me apareceu sem pedir licença, sem agendar, uma sombra que me envolve e não me diz quando vai me levar.   Se eu estivesse atenta a ela desde sempre, teria vivido de fato, teria sido infinito cada instante, estaria presente na vida em todos os momentos.    Não vou fazer da vida que me resta meu epitáfio, cheio de arrependimentos e lamentos, olhando para trás, para o que não está mais, nem vai voltar.    Quero estar mais plena, juntar as partes minhas que ainda estão soltas,  amar, sorrir, chorar, viver como se não houvesse amanhã, viver urgentemente.   

Liberdade

“Liberdade é voo Responsabilidade é direção. Juntas, fazem do espírito  um Sol que aquece sem jamais queimar.” Claubete Nóbrega Já falei antes desse tema, mas a epígrafe me deu outra perspectiva. Para ser livre é preciso ter responsabilidade no que faz, nas escolhas, no que pensa e sente. Não existe liberdade sem responsabilidade. Quem faz tudo que quer não é livre, é inconsequente.  Liberdade não é para qualquer um, é para quem tem coragem de se libertar das vontades do ego, mesmo que contrarie seus desejos.  Para alçar Voo preciso ter direção. Para ter direção preciso decidir.  A decisão requer responsabilidade.  Esse é o processo necessário para acessar o Sol que jamais queima.  

Ânsia de eternidade

  “Eu acho que será para sempre, mas sempre não é todo dia.” Oswaldo Montenegro    Não está no vocabulário do consciente a palavra finitude. Por medo da morte, a mente é programada para que tudo de bom dure para sempre.    Quanto mais prazeroso sejam o sentimento, o vínculo, as atividades, mais o momento se eterniza no coração.   Isso se origina no apego e na falta de confiança na vida. Acreditamos que se soltarmos o que temos, ficaremos sem nada, ou o que vier será pior.    É como se a sensação que sentimos naquele instante fosse insuperável, insubstituível.    Até certo ponto é verdadeiro, cada instante é único, mas o instante seguinte pode ser tão bom como o anterior.   É um paradoxo. A ideia de finitude só é admitida para aquilo que queremos nos livrar, que queremos que termine.       Esse raciocínio está no contrafluxo da vida que está em constante movimento e mudança. Daí vem a frustração, a tristeza, ...

Deixe para depois ou deixe para lá

  Eu criei o mal hábito de deixar para depois ou deixar para lá. Saindo da academia, percebo que esqueci um exercício, mas não volto para fazê-lo. Olho meu carro estacionado e vejo que ele está invadindo outra vaga, mas deixo para lá. Me arrependo de uma compra, mas não a devolvo, deixo para lá.   Eu me lembro de algo que devo fazer e digo a mim mesma: depois eu faço. Isso colabora com o déficit de atenção e o esquecimento. Depois eu faço quando posso fazer agora vai adiando o que não quero fazer, a resistência aumenta e se associa com a preguiça.   Sem perceber passei a postergar, a adotar o lema que diz: Não faça hoje o que você pode deixar para amanhã ou deixar para lá.    É nas pequenas coisas que se revela a negligência comigo mesma e com o outro. Racionalizo, digo que não tem problema deixar de fazer um exercício, que só entrei um pouco na vaga ao lado, que posso dar de presente o produto que não me serve ou não gostei. Me engano dizendo que há tempo para ...

Por causa da minha idade

    “Por causa da minha idade, minha coluna dói, mas minha língua tá solta.” she_talks   Por causa da minha idade, ando devagar, mas ando mais atenta, olho a vida pela janela quando acordo.   Por causa da minha idade, cada momento me é precioso, cada dia eu aprendo algo novo.   Por causa da minha idade, meu sono não é mais o mesmo, mas estou cada vez mais desperta.   Por causa da minha idade, não ligo para o que dizem sobre mim, não dou importância a pequenas contrariedades.   Por causa da minha idade, sinto que não tenho idade, nem estou convencida de nada, tudo é questionável, tudo é novo.   Mas nada disso é por causa da minha idade, é pelo tanto que aprendi com as experiências vividas, pelo propósito que dá sentido à vida.   

Vida/morte

  “Quando a morte te encontrar, eu espero que te encontre viva.” Provérbio africano   Não tenho medo só de morrer, tenho mais medo de viver e uso a morte como desculpa para uma vida vazia. Sem ter consciência, me escondo da morte não vivendo.    Para mim, viver significa acompanhar o passar do tempo, ver o tempo desperdiçado, estar mais velha a cada dia e ficar mais próxima da morte.    Eu me pergunto em quais momentos eu estava realmente viva. Na maioria das vezes eu apenas existia.   Muito do meu tempo foi gasto no fazer acelerado tentando ganhar tempo, presa às elocubrações da mente, perdida em divagações, imersa em mágoas, alheia ao presente.    Já tive uma “vida” vegetativa em que ignorava o que me acontecia por dentro e por fora, sem interação ou vontade, me movendo como uma autômata.   Viver requer compromisso com a vida e sua pulsação, me permitir sentir o que quer que seja, não fugir dos momentos difíceis, das conexões, do amor....

Contentamento

 Contentamento A gente passa a vida toda em busca da felicidade. Além de buscá-la no lugar errado, o conceito de felicidade para cada um nem chega perto do ela é de fato. A gente quer o dia perfeito, o trabalho dos sonhos, o casamento ideal e se frustra toda vez que não acontece como a gente quer. Até pouco tempo, meu clima emocional era de insatisfação, nada era o bastante. Projetava minha vida para o futuro porque o agora não me contentava. Até que desisti da felicidade, uma desistência amargurada. Pela manhã tinha com que me ocupar, mas à tarde perdia a motivação para fazer qualquer coisa. As horas se passavam lentas e monótonas, esperava ansiosa o dia terminar.  O pior de tudo é que achava isso normal, achava que era o que podia esperar da vida sendo uma idosa.  Um filme me revelou essa minha faceta sombria, dois jovens que não queriam aceitar a realidade como ela é, as pessoas como elas são.  A imagem do espelho é invertida, por isso quando nos espelhamos nos ou...

Silêncio que cuida

    “As pessoas que ficam em silêncio quando algo as machuca não estão te dando o tratamento do silêncio, o silêncio delas é uma resposta a um trauma, chama-se recolhimento emocional. “   Eu tinha uma amiga que quando eu falava como estava me sentindo com o que ela fez, ela apenas dizia: “está bem, vou pensar no que você disse”. Só que ela continuava tendo a mesma conduta, o que me leva a crer que ela não refletia sobre o que fez.   Já eu tenho dificuldade em não reagir na hora, depois me arrependo amargamente, porque digo o que não devia e de forma desproporcional ao acontecido. Quando não falo nada porque fico sem reação, fico ruminando o que deveria ter dito.      Recentemente eu consegui me conter, fechei os olhos, respirei fundo, senti a raiva percorrer o meu corpo, não a retive. A reação emocional passou. Mesmo assim preferi me manter em silêncio.   Foi uma escolha sensata, porque ainda não havia refletido qual foi minha contribuição pa...

Você sempre fará diferença

  “Não seja um mero espectador na platéia, se pode ser um protagonista no palco. Faça a diferença!” Charlenildo Martins Silva   Eu me achava uma pessoa comum, perdida na multidão. Não via em mim nada de especial, não conhecia meu valor.   Por essa razão mimetizei quem invejava, ou fazia o que supunha que o outro iria gostar. Fazia de tudo para ser admirada.   Quando iniciei a busca de quem sou, primeiro vieram os defeitos e deficiências, quase desisti de me achar. Ao persistir nessa caminhada, me surpreendi com a beleza que via naquilo que sou.   Não me sinto especial nem melhor do que ninguém, mas sei do meu valor e como faço diferença.    Enquanto me achava uma pessoa comum, me omitia de contribuir com minha singularidade.   No entanto fazia diferença de forma negativa, deixava uma lacuna na rede humana, era uma peça que não se encaixava.   Quando passei a construir minha individuação, percebi que cada um faz  diferença por ser di...

Sinais da vida

    “Não há sentido para a vida sem aprendizado.” Lúcia Helena Galvão   Não estamos sós, há seres designados por Deus para acompanhar nossa trajetória e nos ajudar no aprendizado.   A vida dá sinais importantes para meu crescimento pessoal, e às vezes os ignoro.   Esses sinais se manifestam através da sincronicidade. Segundo Freud  “esses eventos não são meros acasos, mas sinais do universo, do inconsciente ou da vida, que apontam para algo importante que precisa ser reconhecido ou entendido.”     Se eu estivesse atenta aos sinais, seria mais fácil fluir com a vida e entender o que a vida está me pedindo.    A sincronicidade se dá de várias formas, uma delas é quando o mundo de Deus me ajuda a intuir algo importante e que me está disponível.   Eu já perdi oportunidades ou a porta estava fechada para o meu desejo.  Pode ser que a oportunidade desperdiçada aconteça de novo, mas as condições não serão tão favoráveis quanto antes....

Andarilha

  “Quem alcançou em alguma medida a liberdade da razão, não pode se sentir mais que um andarilho sobre a Terra e não um viajante que se dirige a uma meta final: pois esta não existe.” Humano, demasiado humano – Nietzshe    Cresci ouvindo meus pais dizerem que todo ser humano deveria ter um teto sob o qual se abrigar. A casa, para mim, era símbolo de segurança, mais do que de um lar.   Muito jovem conquistei o sonho de ter uma casa própria, o que me levou a criar raízes, a ter permanência em algum lugar.   Essas raízes eram tão fortes que poucas viagens fiz ao longo da vida, meus recursos foram acumulados para ter estabilidade.    No entanto, a andarilha que há em mim não se manteve inerte. Ora ou outra me instigava a fazer tímidas mudanças, mudar de bairro, de casa para apartamento na mesma cidade. A mais ousada mudança que fiz foi para uma cidade vizinha.   Essa necessidade de me firmar em um lugar me tornou inflexível, e as mudanças internas sem...

Uma morte de cada vez

    “Eu não preciso de compaixão porque venho fácil, vou fácil, um pouco alto, um pouco baixo. Qualquer caminho que o vento sopre não importa de verdade para mim.” Bohemian Rhapsody Queen   Sim, eu sei, todo dia morro um pouco Não há salvação. A morte me acompanha desde que nasci É uma sombra que me cobre os olhos para que eu não a veja.   Ela é inevitável, qualquer um pode ver. Não adianta tentar fugir, nem enganar Vez por outra ela mostra a cara estupenda   Mas há que ser uma morte de cada vez Para quê antecipá-la morrendo sem morrer?   Sim, eu sei, já morri e renasci tantas vezes que nem sei mais o que é vida e o que morte. Ela me dá vida quando quero morrer e me mata para eu poder viver.    Ela tem muitas faces, se veste de euforia, me hipnotiza, se finge de morta, gira a roda da fortuna e me deixa na mais rica das misérias.   Ela tenta me enganar se mostrando horrenda, mas eu sei que ela é bela. É a ilusão do fim quando é o começo. ...

Um dia de cada vez

  “...Vivendo um dia de cada vez, apreciando um momento de cada vez, recebendo as dificuldades como um caminho para a paz e, como Jesus, aceitando as circunstâncias do mundo como realmente são, e não como gostaria que fossem...” Oração da serenidade   Se eu tivesse pensado nas dificuldades, no esforço e no tempo que precisaria para conseguir me formar em bacharel em direito, nem teria começado.   Focar no que o dia oferece, ainda que a dificuldade que se apresenta não tenha prazo para terminar me ajuda a dar um passo de cada vez.   Não penso no próximo passo, pois isso me enfraquece e me tira a o foco do hoje.    Um dia de cada vez é o lema dos alcoólicos anônimo, mas deveria ser aplicado em tudo na vida.   Qualquer vício e compulsão não se cura, mas posso controlá-los se eu puder suportar a síndrome da abstinência um dia de cada vez.    Vício e compulsão estão relacionados com a impaciência e o desejo imediato de recompensa diante das frustr...

Ânsia de amar

  Tenho ânsia de amar Tanto na alegria e na dor Quanto no abençoado infortúnio   Amar irritada, impaciente Desapontada, com raiva No erro e na bênção   Amar ainda que não queira Mesmo que seja difícil E tenha medo de me entregar   Amar, sem resistir a conceções  Sem querer me revelar e com medo de ver o amado   Amar na convivência ou na ausência, Ainda que o desamor pareça ser o que mais me convém   Amar sem restrição, sem condição, Sem regra, sem nunca desistir, tentando outra e outra vez

Pensamento binário

  “O pensamento binário é uma tendência a ver o mundo em termos de duas opções opostas e mutuamente exclusivas, como "preto e branco", ignorando um espectro de possibilidades intermediárias.” Visão geral criada por IA do Google   Por muito tempo minhas escolhas, minhas relações, minhas decisões foram baseadas em “ou uma coisa, ou outra”.   Eu gostava do sol e não da noite. Eu preferia casa à apartamento. Se um casal de amigos se separava, eu achava que precisava apoiar um e ser contra o outro. Se acreditava que tinha razão, excluía a razão dos outros.    Tratava a vida como forças opostas, excludentes e mutuamente hostis. Tudo era preto ou branco, não considerava as nuances intermediárias que continham tanto o preto quanto o branco.   Foi no Pathwork que ouvi a sugestão de trocar “ou, ou” por uma coisa e outra. A vida não pode ser simplificada, ela é feita de contrastes e variações. Ninguém é só preto ou só branco, somos uma mistura de todas as cores. ...

Verdadeiro ou falso

  “ A existência do verdadeiro determina a condição do falso. “Querido Hongrang – seriado   Quando eu determinava o que era verdadeiro ou falso em termos de preto ou branco, não tinha dúvidas.   Mas para nós humanos a verdade é relativa, portanto, terá gradações de acordo com a capacidade que cada um tem de vê-la. somos propensos a meias verdades ou a verdade não ser só isso.    Se fosse preto ou branco ninguém se equivocava, porque ela se revelaria clara. A mente tem artimanhas para me cegar quando não quero ver.   A imaturidade é inimiga da verdade, ela sempre quer as coisas de seu jeito, e acredita que sempre está certa, que sempre tem razão.   Há verdade dentro de nós, a verdade é amor, mas o amor genuíno é difícil de acessar.    Quanto mais me aproximo da Centelha Divina em mim, mais fácil fica ver a verdade porque “A existência do verdadeiro determina a condição do falso.”

Entre nascer e morrer

    “A sorte acontece no encontro da preparação e da oportunidade.” Querido Hangrang – seriado   Às vezes me sinto morta por dentro, o corpo parece não ter vida.   O que me traz à vida é uma paixão por que viver, um sentido que me dê propósito.    Quando estou usando as habilidades e aptidões que me foram abençoadas e as favoreço aos outros, meu corpo vibra, sinto a vida circulando em meu corpo.    Quando era mais jovem acordava cheia de vida, tinha alegria de viver. Agora acordo como se o sono tivesse me tirado a vitalidade.    Após acordar, a vida vai me chegando aos poucos. À medida em que me movimento sinto os raios de sol me ativando, me dando tônus, penetrando em minha pele.   Entre nascer e morrer existe vida, e ela é eterna, apenas me deixo ir quando chega o meu tempo.    Mas se não correspondo à potência que ela me oferece, ela é uma vela de pavio curto que se apaga facilmente.    Todo dia preciso me lem...

Uma morte de cada vez

  “Eu não preciso de compaixão porque venho fácil, vou fácil, um pouco alto, um pouco baixo. Qualquer caminho que o vento sopre não importa de verdade para mim.” Bohemian Rhapsody Queen   Sim, eu sei, todo dia morro um pouco Não há salvação. A morte me acompanha desde que nasci É uma sombra que me cobre os olhos para que eu não a veja.   Ela é inevitável, qualquer um pode ver. Não adianta tentar fugir, nem enganar Vez por outra ela mostra a cara estupenda   Mas há que ser uma morte de cada vez Para quê antecipá-la morrendo sem morrer?   Sim, eu sei, já morri e renasci tantas vezes que nem sei mais o que é vida e o que morte. Ela me dá vida quando quero morrer e me mata para eu poder viver.    Ela tem muitas faces, se veste de euforia, me hipnotiza, se finge de morta, gira a roda da fortuna e me deixa na mais rica das misérias.   Ela tenta me enganar se mostrando horrenda, mas eu sei que ela é bela. É a ilusão do fim quando é o começo.   O ara...

Prefácio (do livro Ciclos da vida )

  A vida se renova, a cada instante alguém nasce, enquanto outro morre, o bebê dá os primeiros passos, outro nem sabe que está dando os últimos. Na mesma medida em que um sofre, outra pessoa vive um orgasmo. O que era antes não volta mais, o que passou não está mais aqui, cada giro do ciclo da vida muda a natureza, as pessoas, as circunstâncias, as oportunidades. Sinto que estou num novo ciclo, minha percepção se ampliou, minha intuição se refinou, a ansiedade diminuiu. Parece que tudo está igual fora, enquanto dentro tudo se prepara para a mudança. Mesmo que pareça que em mim a vida está minguando, a força se renova, trazendo à tona potenciais adormecidos. Assim é o ciclo da vida, passado, presente e futuro são apenas etapas de experiências. Cada uma delas nos prepara para cada novo ciclo. Preciso fluir com a vida, desapegar-me de qualquer coisa que me impede de dar o próximo passo. Assim, tudo se alinha, se harmoniza, há propósito. Assim como a folha que cai aduba o chão, tudo qu...

Variações do vazio

    “ Subi alguns degraus até chegar na janela principal da casa, olhei para o céu e percebi uma sensação de vazio em mim, silêncio e disperso como se não fosse eu ali ... é como se a minha alma e o meu corpo não se conectassem de jeito nenhum ... Kim Nam-Joon   O vazio mora em meu estômago, um oco que não tem alimento que preencha. Esse vazio contrasta com o volume do meu corpo tão preenchido e espesso, talvez para compensar o vácuo que não deixa entrar conteúdo.   É como se me faltasse ar porque não inalo o bastante, ou porque exalo mais do que inalo. Talvez receie a plenitude a que tenho direito. O vazio me dá medo, e a plenitude também.   Quem sabe minha alma precise de espaço para se expandir, e a contenção se dá por falta de fluidez.   Talvez a função do estômago e do vazio seja receber o alimento que depois de digerido não ficará lá.   Pode ser que o vazio seja como o tempo, um receptáculo por onde transita as experiências com destinos diferente...