As Máscaras que Usamos - Virgínia Leal

 


            Já falamos que uma das dificuldades de nos conhecermos e nos darmos  a conhecer é o personagem que criamos de nós mesmos. Esse personagem atua de forma compatível com o padrão idealizado de perfeição. Esse padrão é uma construção individualizada, que nem sempre corresponde às referências de valores e virtudes universais, conhecidos como arquétipos ou figuras mitológicas, mas como os assimilamos.

 

            Não há nada de errado em querermos o aprimoramento de quem somos. O equívoco é a expectativa fantasiosa querermos ser perfeitos, ou de alcançarmos a mudança imediata. O engano é o caminho traçado para alcançar esse objetivo. Esse personagem que criamos é uma máscara que esconde o verdadeiro eu. Por ser algo artificial, não permite que entremos em contato com quem de verdade somos, que o conheçamos e, em consequência, dificulta a ascensão para novos níveis de aprendizado.

 

            A máscara é uma defesa do ego, que acredita que o mundo e as pessoas são hostis; que supõe que só será admirado, aprovado e acolhido se não demonstrar fraqueza ou defeitos; que teme castigo, porque já o experimentou pelos pais ao agir equivocadamente; e porque muitas religiões descrevem Deus como um pai punitivo.

 

            Usamos máscaras pelo desejo de pertencimento, porque tememos o conflito, o atrito, o confronto. Por temermos a rejeição, ser ignorados, desprezados. Medo de perdermos o amor de quem amamos. Porque queremos reconhecimento e validação.

 

            De tanto usarmos máscaras, esquecemos quem somos e acreditamos ser o personagem que criamos. Isso é um problema porque aquilo que somos, a toda hora, força passagem, e uma hora aflora de forma intempestiva e descontrolada. São os chamados atos falhos, que nem sempre percebemos quando se apresentam. É por isso que escondemos quem somos, porque acreditamos que somos apenas aquela face sombria que se revela involuntariamente.

 

            Nós somos muito mais que nossa negatividade, nós somos, em essência luz. E ao tentarmos esconder a sombra, ocultamos igualmente o que há de melhor em nós. O que fazer, então, para mudar essa condição? Vamos pensar juntos sobre isso na próxima reflexão.


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