Castração do prazer

 Por mais que se queira sublimar o prazer, não há como negar que ele se manifesta no corpo, mesmo os prazeres da alma. Prazer é sensorial, só é perceptível pela sensibilidade corpórea.


Assim como a dor, o prazer faz parte
da vida, não há vida sem sofrimento assim como a vida não sobrevive sem prazer.

No entanto, hoje a felicidade é imposta,
é um imperativo insustentável que
nos tira o prazer.

Dor e prazer nos afetam, é algo que acontece diante de um estímulo,
de uma provocação.

Há dor e prazer artificiais, que
nos forçamos a sentir por um comando social. Ter prazer no trabalho não é natural, é um artifício que criamos para suavizar a aridez do labor. A culpa é um desvio causado pela fuga em assumir a responsabilidade pelo erro, por isso tem que doer.

Vivemos num mundo de demandas que nos tomam tempo, nos amortece sentimentos, nos exaure o corpo, e para nos manter funcionais e produtivos, oferece substitutos de prazer, que nada mais são do que incitações viciantes, como sexo para aliviar o estresse, álcool para esquecer as agruras, estímulos da televisão para nos anestesiar a ansiedade. Prazeres genuínos, como desfrutar da companhia de quem amamos, restaram prejudicados.

Passei tanto tempo de minha vida entre deveres e metas, que hoje não sei aproveitar o ócio. A sensação que tenho
é a de que não mereço o prazer por não estar fazendo algo útil, e quando me mobilizo na direção do prazer vem
o auto boicote, procuro falhas na diversão.

A mulher foi alijada do prazer durante muitos séculos da história, só era virtuosa aquela que preservava sua castidade até o casamento, e mesmo dentro do casamento ela era impelida
a se retrair.

O prazer faz parte da vida, o desvio está em viver em função dele. Alguém disse que “se você se levantar do caixão acaba
o velório”, ou seja, a repressão existe enquanto não se toma uma atitude.

Viver excessivamente adaptado
aos ditames da sociedade é patológico. Não fosse a rebeldia, até hoje a mulher estaria privada de sentir prazer.

Atualmente até se recomenda o sexo antes do casamento para avaliar se os pares são compatíveis sexualmente.

O que se condena é o excesso, como qualquer vício. Tudo que nos distrai do propósito da alma é prejudicial.

Por outro lado, a sociedade inibe
a satisfação de desejos que fogem
ao moralmente aceitável.

Todos querem uma vida de prazer, mas isso não é possível, porque a vida oscila, tem seus altos e baixos.

Quando se age movido pelo prazer tudo fica melhor. Há prazer em alcançar um objetivo, em finalizar um projeto,
em fazer o que gosta, em receber elogio, em satisfazer um desejo, em ver o outro feliz.

Prazeres mundanos e prazeres da alma não são incompatíveis, um não exclui o outro. Uma vida sem prazer não vale
a pena ser vivida.

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