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Mostrando postagens de 2022

Cabo de guerra - Virgínia Leal

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  A quem me pergunta se invejo encontros românticos, quem ganha mimos e flores, quem divide a cama, e tem a ilusão de paraíso;    se ainda careço da presença  que mata o desejo e converte os dias em tédio;   respondo que sinto falta de dividir momentos leves  e encontros gentis, de desfrutar de conversas amenas  e de silêncios brandos, de compartilhar ternos afetos.   a qualquer um que me confronta  se continuo a querer o cabo de guerra entre vontades e pontos de vista, entre disputas em ter razão, entre choque de forças contrárias,     falo de afinidades, sentido convergente,  acolhimento de divergências, aceitação recíproca de como cada um é.   digo que já me sinto alargar para caber-me a mudança;  mudança com traços compatíveis com o anseio; anseio que é o mesmo que preciso.                  

Empreender-se - Virgínia Leal

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Quem já tentou mudar de rumo, por constatar a programação que sofreu, os condicionamentos que lhe vitimaram, a repetição de padrões que sempre o devolvem ao mesmo lugar,  sabe como é difícil encontrar o ponto de ruptura do círculo recorrente.   A sensação que se tem é de que todos os caminhos já foram traçados e eles levam a crenças, ideologias e papeis pré-determinados, ordenados por valores e ideais convencionais, pautados por paradigmas inalcançáveis.    Depois de muito se empenhar, encontra  o ponto vulnerável dessa estrutura, que não pode ser posta abaixo  de uma só vez, sem que haja prejuízo.   É preciso escorar paredes, remover tijolo por  tijolo,  sem que haja desabamento. Há que dispor do novo material a ser reposto e a operação há de ser lenta e gradual.  É obra que tem começo, mas não tem fim, não pode ser delegada e requer paciência.   Reinventar-se importa em refazer alicerces  e colunas de sustentação, escava...

Falando de amor - Virgínia Leal

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  Para falar de amor, há que tratar do sofrimento. Não porque o amor magoa, o que dói é a ele fundirem-se qualidades e afetos enfermos;   imagine o amor num pavilhão de espelhos,  a projetar múltiplas imagens, sem que se saiba qual é a real.    Se o amor soubesse quanta expectativa lhe pesa desfaria exigências e ilusões,  conjugaria temer e esperar no pretérito e se manteria no presente.    Para falar de amor, há que convidar a alegria,  catalisar bem-estar e gozo, usufruir da zona de conforto, dar asas aos sonhos.    Se o amor soubesse quanto sofrimento lhe atribuem,  rejeitaria a autoria, negaria sacrifícios, recusaria  padecer no paraíso , erradicaria domínio e submissão não permitiria ser colocado no pedestal impediria que  se morresse de amor  proibiria invocar seu sagrado nome em vão.   Para falar de amor, há que invocar virtudes  que afastem o egoísmo, a prepotência e a desconfiança.  P...

Crise - Virgínia Leal

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Quando golfadas de desânimo lhe acometer,  você olhar para trás e só ver desperdício;  quando sentir que o presente não é interessante, o futuro não será promissor e você acreditar que já é tarde para o encontro; Se, nessas horas, você tender a exageros, ora se diminuindo, ora se exaltando,   e pensar que se perdeu na procura do seu tamanho real;  ao constatar que a resiliência lhe impede de desistir, mas não lhe aponta o caminho, há que se observar com serenidade e interrogar a realidade,  até que a disposição se restabeleça, dando fim à crise.   

Autossuficiência versus autonomia - Virgínia Leal

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  Autossuficiência exige não precisar de apoio ou de interação com os outros; nega o caráter gregário do ser humano.   Autoajuda é ilusão de separatividade; ajudar é verbo transitivo, significa valer-se  de algo ou de alguém.   Ainda que se socorra de conteúdos internos, não se pode negar que eles se originam da troca.   Autossuficiência fomenta o individualismo; já servir-se de amparo dispensável leva à dependência.   Autonomia é a capacidade de gerir a própria vida  e de fazer escolhas; pressupõe humildade para pedir ajuda.   Há que dosar o auxílio, saber pedir,  aprender a receber, ser grato,  dar-se limites na assistência.   O apoio fortalece aquele que goza de autonomia, para seguir lado a lado na estrada da reciprocidade.