Virgínia Barbosa Leal

  Quem já passou por experiências ruim quando se entregou, tem medo   de se entregar de novo. É o meu caso, desde a infância sofro com violações   à vulnerabilidade natural da entrega.   Sei que isso faz parte da minha história de vida, para que eu aprenda sobre  como violo o outro, e como me auto violo. É um processo contínuo e gradativo.    Às vezes exibia minha intimidade como forma de compensar os erros que já tinha cometido, ou para justificar um futuro equívoco. O auto boicote sempre  me rondou, em especial quando estava formando vínculos com alguém e o medo de me entregar surgia. Às vezes, queria testar o quanto o outro era capaz  de suporta meus defeitos, o quanto ele me aceitaria como sou, mas o tiro saia pela culatra porque ninguém aceita  ser violado impunimente.    Hoje percebo que pelo voluntarismo  eu tentava controlar a vida, na ilusão  de que não me magoaria, e para garantir que não seria forçada a me ...

  Meu reflexo   Alguém me sugeriu não perguntar  o que sinto pelo parceiro, perguntar o que ele me faz sentir. Tive um relacionamento em que o parceiro ativava em mim o que eu tinha de pior. Um dos motivos que   me fez sair da relação foi o de que eu não gostava da pessoa que me tornei em   sua companhia.    Após um tempo descobri que isso acontecia pela ressonância que havia entre nossas más inclinações. Quem sabe eu teria crescido como pessoa  se     estivesse fortalecida o suficiente para evitar sucumbir com tais estímulos.     Mesmo à distância, e talvez até por isso, tenho aprendido sobre minhas sombras, como reajo diante de provocações,  de violações que também pratico, como pago com a mesma moeda, embora pareça ser diferente.     Não sei como me comportaria agora, depois dessa investigação sobre mim,  há muito não tenho companhia.  Pelo menos a consciência de como ajo   a cada dia se expande...

    As pessoas não dão ao bom humor  a importância que ele tem. O estado  de ânimo filtra escolhas,  firma juízo de valor, avalia  acontecimentos.    O bem-humorado é otimista, está de bem com a vida, vê o lado bom de tudo  em primeiro lugar, enxerga melhor  as possibilidades e alternativas, sai  da tristeza com mais facilidade.   O bem-humorado vê as adversidades como um incidente de percurso,  um desvio ou obstáculo ocasional  e temporário da trajetória, e valoriza  momentos lúdicos como  uma oportunidade de recarregar energia.    O bom humor e o cômico unem  as pessoas, porque provocam nelas  o mesmo bem-estar.    A maturidade deveria ser avaliada  pela capacidade da pessoa de brincar,  de achar graça, de rir. O engraçado  é cheio de graça, porque mantém viva  a criança que ele foi. O bom humor  é uma bênção divina. 

    Quando eu era jovem não pensava na passagem do tempo e o que ela representa, mas, bem no íntimo, havia o medo da morte.    Não percebi que passei por várias mortes em vida. Cada ciclo, cada etapa da vida que se conclui é um tipo de morte.     Uma separação é uma forma de morte, assim como o fim da juventude também. Quando morre alguém que eu amo, uma parte minha morre com ele. Quem eu fui ontem já não existe mais. O passado está morto, vivo apenas na memória. Cada instante que passou, mesmo o de hoje, se perdeu na senda da não existência.    Percebi que a maior parte de minha vida já foi vivida, e estou mais perto do fim. Quando penso nisso me dá angústia e arrependimento pelo tempo desperdiçado na inércia, na resistência em aceitar a realidade, na teimosia em desejar o que não é para mim, no desperdício de não aproveitar tantas coisas boas que estavam disponíveis.     Meu medo não é da morte, é de não haver vida depois del...

    Minha história de se desloca em espiral, repetindo sempre as mesmas experiências, os mesmos relacionamentos, mesmo que as pessoas mudem. O bom é que essas experiências mudam de nível dentro da espiral, a cada ciclo que se fecha vou me distanciando delas, como uma testemunha que apenas observa e deixa fluir. Se me envolvo, passo a fazer parte da cena, dentro   é mais difícil ver com clareza.     Quando se faz necessário, volto a certos pontos da espiral de forma recorrente,  e a cada giro tento me distanciar mais  do que passou, para que as experiências se renovem e se tornem mais suaves   e prazerosas, as escolhas mais conscientes, e as pessoas que entram   em minha vida tenha uma frequência mais alta, porque estou mudando.    A história de vida não precisa se manter inalterada, pode mudar o contexto,  os personagens, a narrativa, ou eu posso mudar a mim mesma e aí passar a ver  as coisas de forma diferente. Só depende...

  Atitude   Ouvi alguém dizer que o passarinho não canta porque é feliz, ele é feliz porque canta. Tudo é uma questão de atitude.    Pensamento, sentimento  e comportamento estão interligados   de uma forma em que um desencadeia  o outro.   Se a pessoa focar no pensamento, ela irá criar um sentimento, que por sua vez irá criar um comportamento. Nesse caso,  o pensamento precisa ser educado para provocar sentimentos bons, que por   sua vez resultará em um comportamento adequado.     Se a atenção está sendo dada  aos sentimentos, eles precisam causar bons pensamentos para que se tenha   o comportamento pertinente.     Mas também pode acontecer o inverso,  o comportamento modificar o pensamento e este irá alterar os sentimentos.     Uma atitude assertiva na vida fará  a diferença entre aqueles que   se entregam ao desânimo, que irá desencadear pensamentos negativos,  e quem quer sa...

    Tem dias em que me sinto como  um acontecimento adiado, uma promessa não cumprida, uma possibilidade desprezada.   De um lado há todo o potencial não realizado, do outro há a expectativa exigente de perfeição. O medo do risco se concretizar me paralisa, o projeto fica no papel, o sonho apenas no imaginário.    Sou viciada em adrenalina, em pensamentos negativos cristalizados que reduzem minha autoestima, gatilhos de ansiedade.    Preciso aprender a escolher para quem eu abro a porta, quem eu recebo no jardim, quem adentrará a sala de visita, quem convido para estar na cozinha, quem privará de minha intimidade, a quem ofereço colo e abraço. Esse alguém pode ser uma pessoa, uma atitude, uma ideia, um hábito.   Sei que o risco é inerente à vida e manter-me na inércia é um risco maior  à sobrevivência que aventurar-me no desconhecido, pois o esforço em não me mover me desvitaliza, a inércia é morte em vida. Ao dar o primeiro passo, ...

O amor é solitário por ser   personificado, ninguém ama   do mesmo jeito, com a mesma intensidade e tenacidade que outrem.    Não sei como sou amada, e muitas vezes quero ser amada da forma que amo,  e quando isso não acontece me frustro. Entre agradar alguém e ser útil, escolho  a última opção. Nem sempre vou agradar, ser útil é uma forma de amor.    Sou uma estranha íntima, uma alteridade desconhecida, composta de vários outros que me habitam. O amor começa  e termina em mim.     Se grande parte do que sou  me é desconhecida, conhecer o outro   é uma grande aventura, e nunca será completo o que consigo ver. Muitas vezes o que vejo no amado é apenas  meu reflexo. Amar alguém não   é o mesmo que fazer alguém se sentir amado. Amar é verbo, exige ação.    Amo o outro na mesma medida em que me amo. Já tive comigo um relacionamento tóxico, não cuidei de mim, me sabotei.      Quando ajo a...

    De acordo com o ângulo em que  me encontro minha conclusão sobre algo muda. Diante de uma questão  ou situação costumo me posicionar  a partir da perspectiva que meu olhar pode alcançar, considerando também  eventual expectativa positiva ou negativa que tenho sobre a questão.    Se minhas opiniões são diferentes,  a depender do entendimento que alcancei, preciso também incluir  no exame o ponto de vista  de outras pessoas.    Estar aberta para ouvir outras abordagens pode ampliar a minha visão sobre  os acontecimentos, sobre as pessoas, sobre mim mesma, sobre a vida.    Por outro lado, estar receptiva não dispensa o olhar crítico sobre o que está sendo dito, mas indica que não estou adotando uma postura refratária, ou rejeitando a ideia sem sequer  ouvi-la.   Do contrário,  estarei movida pelo apego à minha ótica, pelo receio  de me desestruturar a edificação mental. ...

    Já vivi várias vidas na mesma existência e em cada uma delas eu era uma versão diferente de mim. Já fui ingênua e tímida, intrépida e atrevida, orgulhosa  e arrogante, experiente e sensível.    Todas elas vivem em mim, e vez por outra uma quer emergir. Preciso dar-lhe limites, travar com ela um diálogo compassivo. Cada uma me trouxe um aprendizado,  me mostrou o contraponto, a qualidade oculta.     Sou uma miscelânia de vários eus que têm o seu valor e que precisam trocar experiências, aprender um com o outro, chegar a um acordo. E assim vou vivendo.

  Me dei conta do quanto estou voltada para o mundo imaginário, perdida  em pensamentos, imersa nas narrativas audiovisuais. Faço isso quando  a realidade não me agrada, para me distrair da ansiedade, que é minha constante companheira. Agindo assim, me isolo de mim mesma, das pessoas  e do mundo.    Vivo um paradoxo: sinto falta de companhia, e quando estou com pessoas, não demoro a querer voltar para meu mundinho.    Houve um tempo em que achava que tinha nascido para ser esposa, por isso fiz tantas tentativas de uma vida em comum. Não percebia que grande parte do tempo estava absorta em meus dramas internos, me vitimando por não serem atendidas minhas exigências, ou mergulhando no trabalho para compensar  as frustrações.   Não aprendi a conviver, de tanto tempo em que estou só, mesmo estando acompanhada.   A falta de alteridade me deixa individualista e egoísta.      A forma que encontrei para me conectar comig...

  Tem horas em que os pensamentos desencadeiam em mim reações emocionais. Às vezes é o contrário: primeiro vêm emoções expressadas por sensações, e a mente tenta encontrar  a razão. O certo é que a mente desajustada afeta a saúde física e emocional. O pensamento é impregnado de emoção, assim como a emoção  prescinde do pensamento.   Há sempre uma situação ou uma atitude que dispara o gatilho emocional, e muitas vezes não consigo encontrar essa ligação. A ansiedade desencadeia pensamentos sinistros que provocam o aumento da ansiedade, num círculo vicioso que parece não ter fim.    Quando não descubro a causa, o medo toma conta. Medo mascarado de ansiedade sem saber do quê, medo do que está por trás do medo, medo do desconhecido, medo de ter medo.    Quanto maior é a intensidade do medo, mais confusa e paralisada fico. A inércia dá uma falsa aparência de que o medo está sob controle, é difícil sair desse lugar. Tem casos em que é preciso tratamento ...

Achei que estava com depressão por conta da falta de ânimo. Não se tratava  de tristeza ou baixa autoestima, era um momento em que precisava renovar meu propósito de vida. Percebi que minha vida estava muito sem graça, uma repetição de atos de rotina. Precisava desenvolver novos interesses, encontrar atividades que me deem prazer.    Num primeiro momento, atribuí esse estado emocional à falta de convivência e de interação social. É certo que morar só pode trazer momentos de solidão, mas já me senti só quando estava acompanhada. Melhor observando, percebi que esse é um dos sintomas que me acomete quando estou atravessando uma crise existencial. Descobri que meu medo não é de aniquilação, como supus no início, meu medo é de existir, daí a crise existencial.   O que me chega pela intuição é que se tratava de um chamado da alma que não escutei, e é esse distanciamento dela que tornava a vida sem sentido.    Descobrir isso me alegra, porque basta eu ficar atenta...

    Quem não é um bom ouvinte terá dificuldade em escutar-se. De forma inversa, o embaraço em escutar o outro vem da falta do exercício em se escultar.    Escutar-se não é receber sem questionar os conteúdos internos, nem os aceitar incondicionalmente. Escutar-se é estar receptivo para o que quer que venha  de você, sem críticas.    É importante estabelecer um vínculo afetivo, uma conversa amistosa com  as diversas vozes que emanam  de mim. Quanto mais imaturas tais vozes sejam, mais recuam e silenciam se não houver boa receptividade.     Dentro de cada um há pensamentos  e sentimentos contraditórios, com níveis de entendimento e discernimento diferentes, desde os mais imaturos  aos mais sábios que se possa alcançar.     Essas instâncias interagem e entram  em conflito, e é preciso que haja   um mediador interno isento de interesses pessoais, que avalie a procedência  de cada argumento, onde há ver...

  Emoções   Nesse mundo racional e individualista, aprendi a reprimir emoções, a criticar pessoas emotivas. Por muitos anos fui racional, mantive minhas emoções congeladas. É o pior erro que  se pode cometer. Quanto mais elas são reprimidas, mais causa tensão para   se manifestar, mais danos causam  à minha vida. Emoções precisam ser educadas, é preciso aprender a lidar com elas, é um importante instrumento   de autoconhecimento.     Emoções sinalizam o meu estado  de ânimo, indicam que algo está errado  e precisa ser corrigido. Se a emoção  se torna persistente, por mais que  eu queira ignorá-la, ela precisa  de atenção, pode estar indicando  uma decisão que precisa ser tomada,  ou algo que emergiu do inconsciente  e que tem de ser visto e curado.    Ler minhas emoções, entender o que elas estão dizendo tem muito valor, aprendo muito com elas. Enquanto em cada experiência eu assimilo uma lição, le...

  Tenho o mau hábito de convidar pensamentos de preocupação com  o futuro ou que relembram coisas desagradáveis do passado. Chamo-os  de intrusos, mas na verdade fui eu que abri a porta para eles. Convido-os ao dar atenção a eles. Mesmo eu tendo  me dado conta dessa falsa invasão  e queira afastá-los, depois que eles chegam tomam assento, é difícil mandá-los embora.    É uma característica minha me antecipar sobre os acontecimentos, estou sempre  a um passo do que está sendo dito,  do que está sendo feito, do que está acontecendo, além de costumar divagar. Essa tendência me causa grande ansiedade e me confunde.  Ajo assim porque tenho dificuldade  de aceitar que as coisas possam  mudar, gosto de tudo como está.    Tenho consciência da impermanência  da vida, de que ela caminha ao lado  da providência divina, mas não consigo controlar as emoções. Em outras razões, me falta fé. Preciso acreditar  que o qu...

    Passei muito tempo sem querer olhar para tempos idos, com medo do que ia ver. Quanto mais o evitava,  mas aumentava sua sombra sobre mim. Receava ter feito algo terrível, imperdoável. Depois de muita terapia, entendi que, o que quer que estivesse lá eu poderia encarar. A alma é sábia e vai liberando pendências emocionais a conta gotas. Primeiro vieram as mais fáceis   de lidar, e à medida que fui  me fortalecendo, iam chegando   as mais complexas.   Quanto menor o nível de consciência, mais o inconsciente me comanda. Aquilo que não vejo não pode ser tratado, o que escondo trabalha contra mim na surdina.  Isto porque o que eu jogo no inconsciente faz pressão para sair, para ser curado.    Essa faxina emocional precisa ser constante porque é grande o conteúdo, são anos e anos de repressão. Quanto mais cedo começar, melhor.    Hoje eu sei que o passado não me condena, ele me ensina a fazer diferente, a me tornar uma pessoa mel...

    Nos dias em que acordo desorientada depois de um sonho perturbador, parece que o vento parou, que o céu escureceu, sem água para verter.    Tem dias em que sinto que o tempo está suspenso, que tudo me parece lento, que não escuto as batidas do meu coração.    Sinto falta de minha própria luz  a me clarear as ideias e acalmar  meu coração, a me lembrar do que  me faz rir. Sinto falta de mim mesma,  e me pergunto aonde eu fui.    Quem sabe, de tanto perguntar  a resposta chegue, nem que venha  de um sussurro, da canção que  me alegra, da sonido do bater de asas,  do suave pulsar da esperança ...

    Não estou falando de situações em que é melhor silenciar, até a reação emocional passar. Nem de quando convém dormir sobre o problema. Tão pouco  de se distanciar para ver a questão   numa perspectiva melhor, ou de munir-me de informação para encontrar a solução.   Falo de evitar o problema, procrastinar  a solução, tentar ignorá-lo, não lhe dá importância. Embora tenha situações que se resolvem por si mesmas, que o tempo as deslinda, na maioria das vezes quando fujo de algo, ele aumenta de tamanho  e o medo de enfrentá-lo fica maior.   Como diz o ditado, melhor não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.   Quando resolver o problema não depende de mim, ou quando não encontro solução, por mais que tente, o jeito é aceitá-lo e conviver com ele, talvez eu tenha algo  a aprender com ele, talvez com  o tempo você não veja mais a questão como um problema, pois o que não tem remédio, remediado está.    

    Tenho amigos com quem troco  experiências e como lidar com elas,  autorrevelações, auto confrontos. Pedimos prece e vibrações positivas quando não estamos bem. Mas também compartilhamos momentos alegres, piadas, rimos de nós mesmos.   Um relacionamento afetivo deveria ser assim, onde aquele que esteja  em equilíbrio no momento dê suporte para o parceiro, onde cada um possa  se inspirar no companheiro naquilo que ele já tem desenvolvido e o outro tem apenas em potencial. Ainda que  o crescimento de um não seja   o equivalente ao do outro, que cada um possa seguir o seu caminho sem deixar  o outro para trás.    Ao fazerem essa troca evolutiva,  ao estarem nesse nível de intimidade, estariam fortalecidos para enfrentar  as dificuldades inerentes  ao relacionamento, a exemplo   das diferenças e divergências, dos atritos  e desentendimentos. Desejo do fundo  do coração que um dia seja assim. 

    A todo tempo estou mudando em algum aspecto e muitas vezes nem percebo.  Um livro, um filme, algo que vi e ouvi  me transforma.     O principal condutor da mudança em mim  é a experiência significativa, quando me permito aprender com ela.     Mas há dias em que parece que nada acontece, que a vida se repete em rotina e atos do cotidiano. Nesses dias vêm  o tédio e a vontade de parar, de não fazer nada.     A vida toda fui movida à adrenalina, tinha intensidade em tudo, por isso quando há calmaria o enfado me toma.   Não me dou conta de que a vida está  me oferecendo a oportunidade de viver   o presente, de apreciar pequenas coisas, de valorizar um dia comum. Deveria agradecer a trégua dos desafios  e dos infortúnios.   A renovação se dá de dentro para fora,  e não requer um ambiente externo propício para isso. Renovar-me   é me permitir ter um novo olhar para   as mesmas coisas, e per...

  A infância é a fase da vida em que  a personalidade se forma através  das experiências que a criança vive  e do afeto que ela recebe.    A criança é ingênua, espontânea, não prolonga o sofrimento, é feita de prazer  e seu foco é a brincadeira.    À medida que vai crescendo, outros interesses a movem, como pertencer  a um grupo de amigos. Nessa fase,  em que ela vai amenizando o auto centrismo, descobre o outro. É quando ela vai construindo a autonomia,   se desprendendo da mãe.   Mas se seu desenvolvimento  é interrompido por um trauma emocional, ou se os pais não lhe deram limites,   o adulto     pode ficar preso emocionalmente a uma fase da infância ou adolescência.   Essa é a origem da infantilidade  no adulto, porque sua consciência infantil não amadureceu como deveria. Adulto infantilizado continua a reproduzir atitudes próprias de uma criança, mais não se dá conta. A infância é um luga...

  Estamos o tempo todo lidando com questões internas e externas que não sabemos dar uma solução.   A vida é um enigma que nem sempre conseguimos decifrar. Vivemos em função do provável, do inteligível, do resolvível.   Por mais que nos empenhemos  em nos conhecer, em perseguir sonhos, em atingir metas, chega um ponto em que não conseguimos ultrapassar, seja por não ter maturidade emocional para tanto, seja porque ainda não alcançamos  um nível de competência e entendimento para seguir em frente.   Impossibilidade não é o mesmo que impossível, este último é algo definitivo, imutável. Como a vida e a natureza humana está sempre mudando, crer no impossível é um contrassenso.  O impossível é a crença derrotista  de quem não é capaz de ver além.   É a morte do desejo, do sonho  e da esperança.   A pacificação interna acontece quando aceitamos o limite, e acolhemos  a impossibilidade provisória. Isso traz  um estado de relaxamen...

  Não me é fácil regular emoções,  minha sensibilidade é reativa. Teve   um tempo em que eu tentava congelá-las, não funcionava, qualquer estímulo  as derretia e elas chegavam abrasivas.    Aprendi que a história do acontecimento que detonou a emoção não é importante, o importante é como eu reagi a ela  e como a interpretei, que correlação eu fiz com algo do passado que criou e definiu   o padrão disfuncional de resposta emocional.     O trauma não tem origem em um fato, ele é deflagrado pela resposta dada ao fato.  A ocorrência em si é neutra,  só desencadeia o trauma diante   da fragilidade emocional, de acordo com a história de vida de cada um.  O descontrole emocional é escravizante.    Gerenciar emoção consiste em aprender sobre o sistema disfuncional familiar que governa minhas emoções. Um padrão que se tornou habitual, por isso  é recorrente. É capacitar a vontade consciente para comandar a energ...

  Dentro de mim há um juiz severo que não deixa passar nada, no menor deslize  me condena. Aí me sinto inadequada,  o medo de ser rejeitada se apresenta, meu nível de ansiedade aumenta, a ponto de me paralisar.     Então começa o duelo interno, uma parte de mim diz que não é para tanto, outra parte fica especulando o julgamento que os outros estão fazendo a meu respeito.    Há em mim um senso crítico exacerbado que ainda insiste em cobrar que eu corresponda à imagem de perfeição que criei, e me envergonho quando não correspondo.    Esse conflito só termina quando eu aceito  o erro e as possíveis consequências  de meus atos, busco reparação  e me perdoo.